Quem nasce em Florianópolis é florianopolitano? Sim, também! Mas a verdade é que quem nasce na Ilha de Santa Catarina geralmente gosta mesmo de ser chamado de “manezinho”.
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A origem do apelido é desconhecida. Alguns acreditam que vem do nome Manuel, comumente usado pelos portugueses que colonizaram Florianópolis por volta de 1700. Esse povo, que veio principalmente da Ilha dos Açores, foi responsável por trazer a cultura açoriana à ilha, a arquitetura típica portuguesa, a culinária e o modo de falar dos florianopolitanos.
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Para se ter uma ideia, o manezinho é tão especial para Florianópolis que ganhou até data no calendário municipal. Por isso, no dia 5 de junho comemora-se o Dia do Manezinho, criado pela lei municipal nº 6.764, de 2005.
Tu falas manezês?
O modo de falar cantado, corrido e puxando a letra “s” no final das palavras dos manezinhos ficou tão famoso que foi intitulado de “manezês”, como se fosse o idioma oficial dos nativos da ilha. Para alguns turistas, ouvir um nativo falando pode mesmo parecer outra língua, principalmente nos bairros mais marcados pela colonização açoriana, como Ribeirão da Ilha, Lagoa da Conceição e Santo Antônio de Lisboa.
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A Dona Elita, de 93 anos, moradora da Lagoa da Conceição é um exemplo. Elita Maria Madelena de Oliveira mora desde os 20 anos na mesma casa e conhece todos os vizinhos do bairro. Quando perguntada se ela gosta de Florianópolis, a resposta é sim.
— É a minha cidade natal né? — responde prontamente.
Sair com Dona Elita pelas ruas da Lagoa da Conceição é praticamente estar com uma celebridade. Seus passos, já vagarosos devido à idade, são constantemente interrompidos por alguém conhecido, que, geralmente, a abraça, beija sua mão e pede bênção. A recepção da Dona Elita é sempre calorosa:
— Oi, meu querido! Tudo bem, estimado? Como vai a mãe? Tá boazinha, tá?
Dona Elita conhece todo mundo pelo nome e sabe contar as histórias e até dizer de quem a pessoa é filho, neto, primo:
— Aquele ali é neto da Dona Maricotinha, que era casada com Seu Nilson, que morava perto da Nilda do Tatá…
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E assim vai a Dona Elita abrindo a verdadeira enciclopédia, quase centenária, que carrega dentro da sua cabeça.
Após a caminhada, é hora de sentar em frente a janela da casa, que tem a vista da Lagoa da Conceição, e ficar ali espiando o movimento. Quando passa algum conhecido, a Dona Elita está pronta para acenar e mandar um beijo. O povo manezinho é assim: caloroso, gosta de uma prosa e de contar os causos.
Ah, uma tainha frita bem fresquinha, já pensasse?
Prato típico do manezinho é um peixinho frito, uma carapeva da Lagoa ou uma tainha, com um bom pirão de peixe. “À noite é a vez daquele siri pego na hora, não tem, istopô? E anda ligeiro, porque se quéix, quéix e se não quéix, diz! E mais: vê se não comes tudo para não ficar empanzinado, não tem? O resto se sobrar a gente dá para a bucica. Se não sobrar, ela vai mofar com a pomba na balaia. Tadinha. Tu diz?”. E por aí vai a prosa…
Mas isso tudo é para dizer que o manezinho adora pratos com frutos do mar, principalmente aqueles frescos, que foram pegos na semana de preferência. E olha que um bom manezinho é bem exigente quando assunto é peixe. Não gosta de peixe congelado não!
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“Ilha da moça faceira, da velha rendeira tradicional…”
Como bem registrou o compositor Zininho, na música Rancho de Amor à Ilha, considerada o hino de Florianópolis, a renda de bilro é um dos costumes tradicionais do manezinho. Trazida também pelos açorianos à ilha, a prática conta com vários bilros pendurados em linhas. Usando como base uma almofada, a renda vai sendo desenhada pelas mãos habilidosas da rendeira, que quase parecem dar um nó para quem está assistindo.
O bilro é uma pequena bobina que pode ser feita de madeira ou osso e, tradicionalmente, era confeccionado pelos maridos das rendeiras. Essa marca cultural recebeu até um dia em sua homenagem que, em Florianópolis, é 21 de outubro.
“Arreda do caminho que a bernunça quer passar”
Outro costume do manezinho é a dança do Boi de Mamão, que é uma das brincadeiras folclóricas mais famosas de Florianópolis. Durante a dança os personagens, como a bernúncia e a Maricota, contam com a participação das crianças e é encenada a história de Mateus, um vaqueiro simples do interior da Ilha, que, ao ver seu boi de estimação morto, busca um médico e um curandeiro para ressuscitá-lo. Ao fim, o boi volta à vida e todos comemoram com cantorias e danças.
É muito difícil definir o que é ser manezinho, pois não é apenas nascer em Florianópolis: é modo de ser e viver. É respeitar os mais velhos, ser acolhedor, estar sempre disposto a ajudar as pessoas, inclusive na pesca da tainha (e depois ainda ganhar uma de prêmio para levar para casa), é cuidar da natureza da ilha de Santa Catarina, é falar cantado, é ser uma pessoa simples e positiva. Enfim, é um dos patrimônios mais importantes da Ilha de Santa Catarina.
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