Um método capaz de prever áreas suscetíveis a deslizamentos de terra em Blumenau foi desenvolvido por um pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade Regional de Blumenau (Furb). Através de um modelo estatístico que usa imagens de satélite, o agora mestre Denis Vicentainer consegue chegar a um nível de precisão de até 87%.

Continua depois da publicidade

Receba notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp

O pesquisador coletou dados provenientes de sensoriamento remoto, uma forma de observar a terra à distância por meio de sensores diversos, como drones e satélites. Com esses dados em mãos, Vicentainer usou informações relativas às ocorrências de deslizamentos já registradas no município, disponibilizadas pela Defesa Civil, para avaliar as “cicatrizes” deixadas nas regiões afetadas.

O chamado inventário continha mais de 1.500 cicatrizes. A maior parte dos dados (80%) foi utilizada para treinar o modelo estatístico, enquanto os 20% restantes foram usados em momento posterior para testar a capacidade preditiva da ferramenta. Assim, ela é capaz de reconhecer padrões que influenciam a ocorrência de deslizamentos.

Depois de treinado e alimentado com dados novos, o modelo gerou um mapa de Índice de Suscetibilidade a Movimentos de Massa, que classifica as áreas de acordo com a suscetibilidade os deslizamentos. A comparação entre o mapa gerado pelo modelo e a localização das ocorrências registradas pela Defesa Civil ao longo do tempo revelou que o modelo estatístico apresentou boa capacidade preditiva.

Continua depois da publicidade

A inclusão de outros dados, como o acumulado de chuva em um determinado período e fatores socioeconômicos (como a ocupação do solo e a existência de edificações precárias) poderia capacitar o modelo para fornecer previsões ainda mais abrangentes.

Além de verificar a precisão do modelo para a previsão das áreas suscetíveis a deslizamentos de terra, também foi possível avaliar quais fatores exercem maior influência na predição realizada pelo modelo. A investigação desse aspecto revelou que a ausência de vegetação é um dos principais fatores de influência para a ocorrência de deslizamentos. A capacidade de estabelecer relações entre as variáveis permite que o modelo seja utilizado, por exemplo, para prever quão suscetível uma determinada área da cidade poderia ficar em caso de retirada de vegetação.

A proposta é fornecer subsídios para profissionais da Defesa Civil e pesquisadores que atuam na Gestão de Riscos de Desastres. Na avaliação de Vicentainer, o modelo pode ser utilizado como ferramenta de gestão pelos órgãos de Defesa Civil: a partir dos dados indicados pelo sistema, os profissionais dos órgãos de gestão de risco podem realizar a verificação em campo e fazer intervenções. Além disso, o modelo pode fornecer informações para sistemas de alerta aos cidadãos.

— Toda pesquisa é extremamente importante para a evolução do processo. Se houver efetividade nesse trabalho acadêmico, com toda certeza será bem-vindo e nós vamos aplicá-lo naquilo que for possível e necessário — disse o secretário de Defesa Civil, Carlos Menestrina.

Continua depois da publicidade

A pesquisa utilizou dados relativos ao município de Blumenau, mas pode ser aplicada a quaisquer municípios que possuam um Inventário de Cicatrizes atualizado. O pesquisador explica que a performance do modelo depende diretamente da existência de tais dados, pois é a partir deles que o modelo será capaz de entender como os fatores de influência se correlacionam para a deflagração das ocorrências.

Para aplicar o modelo, são necessários conhecimentos nas áreas de estatística, programação e sensoriamento remoto, além de acesso aos dados (imagens de satélites e Inventário de Cicatrizes).

Leia mais

SC começa a reaver os R$ 465 milhões do Estado investidos em obras federais