Polêmicas nas redes sociais revelam muitos termos que são relativamente desconhecidos pelas pessoas, como o blackface. A palavra se refere à prática de cobrir o rosto de preto, para fazer referência à uma pessoa negra, e é considerada racista.

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A origem do blackface

A origem do blackface remonta à história americana do início do século XIX, período em que o regime de escravidão ainda era legal. A prática, em si, consistia na ridicularização de pessoas negras para o entretenimento de brancos.

Durante espetáculos humorísticos, atores de pele branca pintavam o rosto de preto e representavam os negros em situações vexatórias, reproduzindo formas caricatas de falar e agir.

À época, os negros nem mesmo podiam frequentar ou participar de espetáculos teatrais. E, mesmo nos anos que se seguiram, chegando até décadas recentes do século XX, negros e asiáticos eram afastados de papéis de destaque, com o agravante de que personagens dessas etnias costumavam ser interpretados por atores brancos com a pele pintada de preto.

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Por que se trata de uma prática ofensiva ainda hoje?

Em uma análise do período histórico citado — que remonta a tempos recentes — o movimento negro e demais entidades ligadas aos direitos humanos consolidaram o entendimento de que o blackface é uma prática racista.

A compreensão a respeito do tema foi ganhando destaque na mídia. E, ao longo dos anos, programas de entretenimento, filmes, peças teatrais e demais produções foram eliminando essa prática.

Ainda assim, episódios recentes, como os casos envolvendo o primeiro-ministro do Canadá e o professor da Faculdade de Medicina da Santa Casa reacendem as polêmicas em torno do tema. Afinal, seria mesmo ofensivo simplesmente reproduzir pessoas de pele preta a partir da pintura do próprio rosto?

Para algumas autoridades do movimento negro, a questão é mais complexa e o ato não é um fim em si mesmo, contendo forte simbolismo.

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“Muitas dessas representações são carregadas de significado por remontarem ao período em que o negro era impedido de ocupar seu espaço nas artes. Além disso, existe o emprego de abordagens que colocam o negro como um ser inferior. O colocam como malandros e preguiçosos. Como pessoas que não sabem empregar a norma culta da língua que falam. Então, usar blackface evidenciando esses aspectos para a inferiorização de um grupo com fundamento na raça é reconhecido cientificamente como uma prática racista”, destaca a pesquisadora, advogada e doutoranda em direito político Waleska Miguel Batista em entrevista à CNN.

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Entenda alguns casos polêmicos envolvendo blackface

Professor de medicina em aula on-line

O professor Ronald Sérgio Pallota Filho, acusado de ter cometido a prática racista em uma aula on-line, se defendeu afirmando se tratar de um ato infeliz, em que não teve a intenção de expressar uma conotação racista, em nota enviada ao G1. A Faculdade Santa Casa, em que ele leciona, esclarece que o caso está em apuração no âmbito de uma comissão disciplinar.

Mais recentemente, outro caso de grande repercussão envolvendo a prática de blackface teve como protagonista o atual primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau. Fotos antigas do político, em que ele aparece em uma festa vestido de Aladin com o rosto inteiramente pintado de preto, foram consideradas racistas.

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Na ocasião, Trudeau se defendeu, afirmando se tratar, de fato, de um caso de racismo, mas que não tinha consciência disso quando as imagens foram feitas. Outras fotos que vieram à tona, em seguida, contribuíram para uma ampla repercussão do caso no Canadá e no mundo.

Professor acusado de blackface em aula on-line
Professor acusado de blackface em aula on-line (Foto: Reprodução)

Katy Perry

Em 2020, a cantora Katy Perry foi pressionada a retirar um par de sapatos de uma coleção assinada por ela. Fãs da cantora consideraram o design da peça racista, por remeterem a imagens de blackface.

A cantora afirmou estar desapontada com o ocorrido e que não teve a intenção de reproduzir uma prática racista, retirando, ao final, a peça da coleção.

Antoine Griezmann

Em dezembro de 2017, o jogador de futebol Antoine Griezmann foi criticado por pintar a pele e se vestir como um jogador negro de basquete.

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Griezmann, em princípio, defendeu sua atitude afirmando se tratar de uma homenagem ao time de basquete Harlem Globetrotters. No entanto, semanas depois, a fotografia foi retirada de suas redes sociais e sua assessoria emitiu uma nota se desculpando pelo ocorrido.

Gigi Hadid

Em maio de 2018, a modelo Gigi Hadid se desculpou nas redes sociais depois de sair na capa de uma revista tão excessivamente bronzeada com o uso de maquiagem a ponto de ser acusada de praticar blackface.

A Vogue Itália, responsável pela publicação, em nota respondeu à crítica dizendo: “nós entendemos que o resultado provocou debate entre nossos leitores e pedimos sinceras desculpas se causamos ofensas”.

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Qual a responsabilidade de quem reproduz o blackface?

Devido às recentes polêmicas envolvendo casos de blackface, uma grande discussão ganhou força nas redes sociais: afinal, quem reproduz a prática sem a intenção de empregar uma conotação racista ao ato merece ser repreendido?

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Muitas pessoas acreditam que não. No entanto, há quem defenda ser preciso conhecer a história de opressões às quais a população negra foi submetida, seja durante a escravidão ou em tempos mais recentes. Dessa forma, seja qual for o contexto, a prática de blackface seria algo condenável.