É bem provável que não, como muitas pessoas que interagiram com Lynda Wolters, autora de um novo livro, "Voices of Cancer". Na meia-idade, ela foi diagnosticada com um tipo relativamente raro e ainda incurável de câncer, chamado linfoma de células do manto.
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"Como as pessoas não faziam ideia do que dizer a mim, por mim ou sobre mim, muitas preferiram apenas me evitar", escreveu Wolters. O fato a levou a buscar força espiritual com desconhecidos em grupos de apoio.
Quanto às pessoas que chegaram a conversar com Wolters sobre o assunto, era muito comum que dissessem coisas supérfluas ou constrangedoras como "Me ligue se precisar de alguma coisa" ou "Como você está se sentindo?". Em seu blog, ela tentou tranquilizar amigos hesitantes: "É melhor ver seu rosto e a dor e o medo em seus olhos do que perceber que você está encabulado ou inseguro demais para me visitar. Acho melhor ouvir você falando sobre seu trabalho, sua vida, seus filhos ou as travessuras de seu cachorro do que sobre minha doença."
Felizmente para minha amiga Sara Nodjoumi, de 46 anos, produtora de documentários, moradora do Brooklyn e mãe de dois meninos, sua experiência foi muito melhor após um diagnóstico de câncer de mama no meio do ano passado.
— A maioria das pessoas foi incrível. Estar perto, com um beijo e um abraço, já foi ótimo – afirma Nodjoumi.
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Mas ela recebeu muito mais.
— As pessoas me enviaram flores, cestas de frutas, quitutes turcos e judaicos, livros, conselhos. Tudo me ajudou de alguma maneira.
Ela achou o máximo quando uma amiga veio organizar seu guarda-roupa, quando outra enviou de Cincinnati oito caixas de sorvete especial ou lhe deram de presente sessões de massagem e de terapia para fazer junto com seu marido.
Talvez a maior ajuda tenha vindo quando ela passava pelo estresse da cirurgia e da quimioterapia: uma amiga organizou um "mutirão de refeições", com as pessoas entregando comidas caseiras e lancheiras de escola todo dia durante seis semanas; alguns parentes levaram os filhos dela a um passeio de três dias em Chicago; e outra amiga levou os meninos para casa e cuidou deles durante uma semana inteira.
— As pessoas foram tão generosas e prestativas. Eu me senti muito amada.
Mas, como Wolters, Nodjoumi ficou incomodada com quem dava más notícias e com quem era exageradamente otimista a ponto de dizer coisas como "Não se preocupe, tudo vai ficar bem". Como Wolters escreveu: "As pessoas não querem conselhos sobre como devem se sentir ('Pense positivo') ou como devem se recuperar ('Amanhã as coisas vão melhorar'); elas muitas vezes só querem ser ouvidas. O melhor é reconhecer a dor ou o dia ruim do enfermo, em vez de fazer vista grossa. É preferível dizer simplesmente: 'Sinto muito que você esteja passando por isso. Quer conversar?'"
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A dra. Wendy Schlessel Harpham, médica de Dallas que passou muitos anos entrando em tratamentos para um linfoma crônico e saindo deles, está em remissão há um bom tempo. Para ela, as melhores coisas a dizer dependem da situação física e emocional do paciente e da relação que você tem com ele. Mas, em tudo que você diga ou faça, demonstre carinho e apoio, sem fazer julgamentos ou dar instruções de como ele deve se sentir.
— Não pergunte como ele está. Pergunte como estão as coisas. Não pergunte sobre o tratamento ou se o câncer é curável. Não conte casos sobre si mesmo ou outros pacientes e não diga ao paciente o que ele deve pensar, sentir ou fazer – afirma Harpham.
Ela sugere que, ao oferecer ajuda, você especifique o que pode fazer para apoiar o paciente: cozinhar; cuidar de crianças ou idosos; levar o paciente ao tratamento ou trazê-lo; acompanhá-lo às consultas médicas (e ajuda bastante se você puder anotar o que é dito), aos exames ou ao tratamento; oferecer-se para ouvi-lo, talvez até no meio da noite; convidá-lo a um almoço ou passeio; e até mesmo dar de presente um diário em branco, sem dar instruções sobre o que o paciente deve ou não deve escrever nele.
Harpham é autora de "Healing Hope: Through and Beyond Cancer" (Esperança que Cura: durante e depois do câncer, em tradução literal), um entre vários livros úteis sobre como viver com o câncer e depois dele. Tanto ela quanto Wolters alertam para que não se ofereçam ao paciente conselhos irrealistas e previsões fantasiosas.
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— A coisa mais ridícula que ouvi foi a frase: 'O melhor que você pode fazer para combater o câncer é pensar positivo.' Quer dizer que, se eu não pensar positivo, meu câncer vai voltar? – afirma Nodjoumi.
Um paciente disse a Wolters: "Às vezes sinto que não posso chorar ou me irritar porque vão pensar que não estou pensando positivo."
Wolters escreveu: "Pode ser difícil lidar com alguém que o apoia e está cheio de ideias irrealistas de arco-íris e unicórnios quando fala de seu diagnóstico, prognóstico ou tratamento. A luta contra o câncer é terrível, e o paciente tem enjôos e se cansa muito; por isso, é um esforço impossível viver na terra da fantasia. Ele quer pensar positivo e agradece pela torcida, mas também quer realismo."
Ao mesmo tempo, Harpham sugere perguntar ao paciente quais são suas esperanças, qualquer que seja a situação de sua doença; estimulá-lo a se concentrar em objetivos de curto prazo, perguntando se você poderia ajudar de alguma maneira a alcançá-los; e orientá-lo a falar sobre esperanças que ele pode realizar, ouvindo-o sem interromper, julgar ou tentar consertar o que ele diz. Para ela, em todos os casos, a mensagem subliminar deve ser: "Estou ouvindo. Acredito em você. Estou aqui por você."
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Jamais pergunte sobre a cura. "A palavra 'cura' é grande demais e nenhum paciente fica à vontade com ela. Sou uma paciente e fui informada de que não há cura para minha doença. Ouvir a palavra 'remissão' é como se o céu se abrisse com anjos cantando. É o melhor que se pode esperar", escreveu Wolters.
Muitos pacientes são como Harpham, entrando e saindo de remissão várias vezes, e a cada vez, segundo Wolters, "têm de enfrentar a família e amigos perguntando: 'Mas você não se curou?' Não importa há quanto tempo a paciente está em remissão, ela ainda prende a respiração durante os check-ups e ouve um sussurro dentro da cabeça: 'Será que voltou?'".
O paciente também pode ajudar seu círculo de apoio a entender melhor o câncer, dizendo, por exemplo, que "cura" é um sonho impossível sobre o qual ele prefere não conversar, e informando que no momento "não há nenhuma evidência da doença" ou "não há evidência de que a doença está ativa".
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