O resultado do teste psicotécnico do concurso para soldado da Polícia Militar de Santa Catarina tem gerado polêmica. Isso porque aproximadamente 40% dos candidatos foram considerados inaptos na avaliação. A etapa é eliminatória e está em fase de recurso.
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Uma especialista foi consultada para esclarecer como devem ocorrer as avaliações. A Polícia Militar (PM-SC) se manifestou sobre a repercussão. Já os candidatos reprovados formaram comitiva e cobram posicionamento do Conselho Regional de Psicologia (CRP-SC).
Por orientação técnica da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), a PM passou a considerar todos os critérios da avaliação psicológica no recrutamento de soldados da instituição. Assim, o candidato deve ser aprovado nas 22 características listadas. Essa mudança ocorreu depois de 2015, quando foi realizado o último concurso para soldados no Estado. Na época, se considerou 58% dos critérios.
Segundo o coordenador do processo seletivo, coronel Luciano Pinho, as entidades catarinenses corrigiram as brechas de tolerância permitidas nos editais anteriores e cumprem a legislação de 2013, que exige aos concorrentes apresentar todos os comportamentos, sem exceção.
A etapa eliminatória estava descrita no edital, mas tem gerado polêmica, já que aproximadamente 40% dos candidatos aprovados na primeira fase do concurso foram considerados inaptos na seleção psicotécnica.
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— A maioria das pessoas que reprovaram foi por causa de um, ou no máximo dois quesitos. O meu teste, por exemplo, apontou que não atendo ao critério da perseverança — desabafou um candidato reprovado na segunda fase do concurso, que não quis se identificar.

O resultado divulgado aponta 40% de reprovação entre os homens e 39% entre as mulheres. Ao todo, continuam no concurso público 831 homens e 198 mulheres, segundo o coronel Luciano Pinho:
— Entre os aprovados na fase escrita, 60% passaram na prova psicotécnica. Ou seja, temos gente suficiente para completar as mil vagas previstas. E entre um candidato que se enquadra em 22 critérios e um que se enquadra em 15, nós ficamos com o primeiro— disse o coordenador do processo.
Uma comitiva foi criada pelos candidatos não classificados na segunda fase, com intenção de reverter o resultado. Entre os representantes da comitiva, outro candidato esclareceu o motivo de toda a contestação:
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— Nós gostaríamos de ter certeza que os testes foram aplicados de forma ampla, com análise de todos os dados e com uma entrevista, onde se analisa comportamento, o que não ocorreu — explica.
Segundo coronel Pinho, devido ao grande número de reclamações realizadas pelos candidatos reprovados em suas redes sociais, que também gerou discursos na própria Assembleia Legislativa de Santa Catarina, por representantes políticos, uma pesquisa em editais de todo o país foi realizada pela PM-SC, para realizar um comparativo com outros estados:
— Nós encontramos a mesma exigência em todos editais de concursos realizados nos últimos anos, ao contrário da falácia que estão propagando — afirmou.
O Conselho Regional de Psicologia (CRP-SC) também foi procurado por boa parte dos concorrentes eliminados e emitiu nota em suas redes sociais, manifestando que realiza averiguações sobre os questionamentos recebidos, para que providências sejam tomadas com brevidade.
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Critérios fundamentais de uma avaliação psicológica
Segundo a psicóloga e perita avaliadora, com mais de 20 anos de experiência na área, Moramei Espindula de Moraes Rocha, a avaliação psicológica é utilizada, nos últimos 60 anos, como forma de identificar nas pessoas, as melhores habilidades e características para ocupar alguma função e desenvolver determinada atividade.
— São várias técnicas de avaliação, o teste é somente um dos instrumentos entre muitos que temos, como, escala de avaliação, inventário de comportamentos, testes projetivos – que são aqueles não psicométricos – e há os testes psicométricos, também, que mensuram em número a qualidade das pessoas — esclareceu.
Mas quando se realiza essa avaliação, alguns critérios são indispensáveis, segundo a especialista:
— O procedimento de avaliação psicológica tem que incluir, como técnica, a inquirição, que são as perguntas feitas através de questionários ou perguntas, por exemplo, tem que ter observação e a testagem, que pode ocorrer, até, através de dinâmica. O que não pode, é aplicar só o teste e reconhecer ou rotular a pessoa avaliada só pelo resultado de uma testagem, desconsiderando todo o contexto e o background de uma pessoa, que seria o histórico dela até chegar ali. Isso acaba comprometendo o resultado — afirma.
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Não só o resultado, como pode refletir na própria autoestima da pessoa avaliada, o que preocupa os profissionais da área, ainda segundo Moramei:
— A gente tem que cuidar muito com a questão ética no sentindo de que ela pode acabar fazendo mal a autoestima do candidato e pode acabar criando uma visão de senso comum do que é uma avaliação psicológica. O psicólogo tem que ter muita experiência e todas as regras de padronização, inclusive em relação ao ambiente onde ocorre, deve ser seguidas — completa.
Procurado pela reportagem, o Conselho Regional de Psicologia (CRP-SC) evitou qualquer manifestação, inclusive, sobre os critérios utilizados para a realização de uma avaliação psicotécnica.
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