Filas, buzina e muito tempo perdido. O trânsito da Grande Florianópolis costuma demandar uma boa dose de paciência dos moradores e turistas durante seus deslocamentos. E o problema não é novidade.

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A história que se arrasta há muitos anos têm uma série de projetos, entre duplicações, novos túneis ou vias, já executados, em andamento ou projetados, mas nenhuma solução concreta até aqui. Por isso, a reportagem procurou Prefeitura de Florianópolis e governo do Estado para saber quais são os planos para a mobilidade da região metropolitana.

Em comum, o consenso de que não há saída sem passar pelo estímulo ao transporte coletivo em detrimento do individual.Na Capital, há uma série de intervenções previstas, disse o secretário de Mobilidade e Planejamento Urbano de Florianópolis, Michel Mittmann. Ao menos 50 pontos da cidade devem passar por alguma alteração estrutural no trânsito, a fim de contribuir com a mobilidade:

Nós também pretendemos induzir o usuário a mudar de comportamento: que ele prefira usar o pedal e o ônibus, por exemplo, ao invés de sair com o veículo próprio de casaSecretário de Mobilidade e Planejamento Urbano de Florianópolis, Michel Mittmann

Em entrevista à CBN Diário, o secretário de Estado de Infraestrutura e Mobilidade Entrevista, Carlos Hessler, apresentou alguns projetos e argumentou que todas as metrópoles brasileiras enfrentam o mesmo problema:

Obras viárias na Ilha de SC

O secretário de Infraestrutura de Florianópolis, Valter José Gallina, defende que o município atua com obras em todas as regiões para diminuir os problemas dos congestionamentos.

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Norte da Ilha

Estão em execução melhorias nos acessos ao Saco Grande, João Paulo, Santo Antônio de Lisboa, Sambaqui e Cacupé. Também em obras, o asfaltamento de ligações entre Jurerê e Canasvieiras e da Vargem Grande ao Rio Vermelho, que vão passar a ser itinerário de linhas de ônibus. Essa segunda pavimentação vai encurtar o caminho para moradores do Rio Vermelho e da Barra da Lagoa, que poderão seguir para a região central ou Norte da Ilha sem precisar passar por dentro dos Ingleses – aliviando também o fluxo neste bairro.

Leste da Ilha

A principal aposta do município é na duplicação da Rodovia Admar Gonzaga (SC-404), na região do Itacorubi. Já foi implantada a segunda faixa no sentido bairro-SC-401, entre a Apae e o cemitério. Agora, está em andamento a ampliação no lado oposto, a partir da Comcap, na saída da Avenida da Saudade.

O problema do centrinho da Lagoa da Conceição e da Avenida das Rendeiras, onde o trânsito costuma ser lento todos os dias e trancar por horas nos fim de semana, nenhuma medida está em andamento.

Michel Mittmann, entretanto, diz que mudanças para a região são estudadas e é uma área, que exige um "projeto mais ousado", como a retirada do estacionamento na Avenida das Rendeiras e até uma ligação por outro modal:

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— Pelas características ambientais é muito difícil a gente criar uma situação que continue levando carros em demasia para lá. Vai ter que se pensar em alternativas, inclusive com uso de teleférico, mas isso tudo depende de estudos.

Sul da Ilha

Duas obras foram feitas no local. Pela prefeitura, o elevado do Rio Tavares. Pelo governo do Estado, um novo caminho. Os moradores sentiram a diferença na região, depois que o novo acesso aos bairros e às praias do Sul foi aberto. Com início ao lado do Carianos, o novo caminho também leva ao aeroporto.

Da mesma forma, a Polícia Militar Rodoviária (PMRv) afirma que o tráfego reduziu bastante nas proximidades do elevado do Rio Tavares, que anteriormente era a única opção de trajeto. A medição da polícia se dá pela quantidade de reversões que são feitas na pista central por dia. Anteriormente, até oito interferências eram necessárias na SC-404. Hoje, geralmente ocorrem duas.

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Elevado da Ressacada, ao lado do bairro Carianos, que leva ao Sul da Ilha (Foto: Diórgenes Pandini/DC)

Centro

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A prefeitura deve lançar nos próximos 15 dias o edital para a obra da chamada Transmaciço, que pretende melhorar as condições na região da Serrinha e fazer dessa rota uma alternativa entre os bairros Trindade e Centro.

Ponte Hercílio Luz

A abertura da Ponte Hercílio Luz e a revitalização de nove ruas no entorno dela – sete na Ilha e duas no Continente – também é esperada pelo município como forma de desafogar parte do trânsito nesta região. A previsão é de que cerca de 300 viagens diárias de ônibus sejam feitas pela Ponte Hercílio Luz após a reinauguração.

– Nunca se fez tanto pela mobilidade em Florianópolis. É pouco? Tem que ser feito mais? Tem. Mas estamos falando de mais de R$ 200 milhões para melhorarmos a mobilidade. E sempre lembrando que é a cidade de maior quantidade de veículos por habitante – defende Gallina.

Segundo Mittmann, todo tipo de tráfego deve ocorrer na ponte que será inaugurada ainda este ano, no dia 30 de dezembro.

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— Primeiro será aberta somente para pedestres, até por ser um ponto turístico e alta temporada de verão. Vai ter muita gente circulando por ali. Depois, passam a circular os ônibus, inclusive com novas linhas que não devem passar pelo terminal, fazendo Continente e Centro da Ilha. Por fim, deve ser aberto para os carros — explica o secretário.

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Acessos à Ponte Hercílio Luz serão concluídos em dezembro (Foto: Prefeitura de Florianópolis/divulgação)

Vias para ciclistas

Até setembro de 2020, a Prefeitura pretende construir 80 km de ciclovia, afirma o Secretário de Mobilidade e Planejamento Urbano:

– Nós tínhamos até pouco tempo, o uso de bicicleta somente na Beira-Mar. Agora (as ciclovias) já são vistas nos bairros. A intenção é levar o pedal mais para o coração da cidade, para que as pessoas possam se locomover nesse modal também centro.

Mittmann também afirma que a tendência é interligar as ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas, permitindo um deslocamento mais seguro para quem optar pelo pedal.

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A falta de investimentos durante muito tempo, gerou um déficit. A gente precisa de um projeto de continuidade, que nos permita ganhar folego entre uma intervenção e outra, para que o município tenha uma capacidade global de mobilidadeSecretário de Mobilidade e Planejamento Urbano de Florianópolis, Michel Mittmann

Corredores de ônibus/BRT

O secretário lembra que o único corredor atualmente em execução é o da Rua Deputado Antônio Edu Vieira, que faz parte do anel viário. A obra está orçada em R$ 30 milhões e tem previsão de corredor exclusivo, com ônibus no sistema BRT (Bus Rapid Transit) em dois trechos, totalizando pouco mais de três quilômetros. O anel viário, completo, abrange 17 km. A conclusão de todo o projeto não tem previsão.

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Todo o percurso do anel viário (Foto: Arte/Diário Catarinense)

Transporte integrado na Grande Florianópolis

Carlos Hessler adianta que há dificuldades para solucionar os problemas de mobilidade, critica a gestão dos transportes coletivos e afirma que, para além das discussões sobre integração de linha de ônibus, se buscam outros modais no transporte metropolitano:

— Meio que for, modal que for, precisa de investimento do Estado, acordo entre todas as prefeituras e entes envolvidos. Por isso não é tão simples de produzir essa solução.

Transporte marítimo

Segundo Mittmann, Florianópolis já estudou projetos para se implementar transporte marítimo como alternativa de mobilidade na Capital, mas, até aqui, as conclusões não foram positivas: tem alto custo e não é suficientemente eficiente.

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— É um transporte que não supera a agilidade do carro e nem do ônibus — pondera.

Já na ligação Continente-Ilha, o projeto está em andamento. A implementação deve ser realizada pela empresa BB Barcos, que já tem autorização e apoio institucional – o Estado faz a intermediação com órgãos de meio ambiente e patrimônio da União. Segundo Carlos Hessler, aparentemente, o projeto pode dar certo, mas não é garantia para os problemas:

— Vai atender uma fatia do mercado, mas não vai resolver. O que poderia resolver é outro tipo de transporte, com barcas maiores e sistema integrado ao transporte coletivo rodoviário.