A data que marca um ano dos atos golpistas de 8 de janeiro resgata os momentos de ameaça à democracia e a destruição provocada há um ano nos prédios dos Três Poderes, em Brasília.

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O clima de tensão que levou aos ataques de 8 de janeiro começou ainda no ano anterior, após o resultado das eleições 2022. Com acampamentos em frente a quartéis do Exército em diferentes locais do Brasil e investigações sobre planejamentos de supostos atos terroristas na capital federal, com a explosão de um caminhão de combustível, aumentaram o grau de alerta para o período de transição de governo.

Apesar das previsões, a cerimônia de posse do terceiro mandato do presidente Lula (PT) teve reforço na segurança e ocorreu sem transtornos. Uma semana depois, no entanto, manifestantes de diferentes regiões do país foram a Brasília e protagonizaram os ataques golpistas e a destruição que chocaram o país.

8 de janeiro: o dia do ataque

O domingo, 8 de janeiro de 2023, começou com a chegada de cerca de 4 mil pessoas extremistas à capital federal para protestos contra o presidente Lula. O ponto central de encontro era o quartel-general do Exército em Brasília.

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Mensagens descobertas mais tarde pela investigação apontaram que os atos de domingo começaram a ser organizados dias antes, com trocas de mensagens por aplicativos como WhatsApp e Telegram. Os recados faziam menção a um evento chamado de “Festa da Selma”, como código para não despertar suspeitas acerca dos ataques.

Nas primeiras horas da tarde, os manifestantes saíram em caminhada até a Praça dos Três Poderes. Os participantes invadiram áreas do Congresso, do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF), passando pelas grades que deveriam impedir a passagem e furando a pouca resistência do efetivo da polícia local na ocasião.

Os bolsonaristas radicais depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso e o STF. Objetos foram destruídos, gabinetes de autoridades invadidos, documentos rasgados e armas foram roubadas. Muitos dos envolvidos transmitiram ao vivo as imagens dos ataques em suas contas em redes sociais. A porta do gabinete do ministro Alexandre de Moraes foi arrancada, o plenário do STF, destruído, e a parte externa pichada com dizeres como “perdeu, mané”, em crítica aos ministros.

A reação das autoridades veio por meio de um decreto de intervenção no Distrito Federal. No dia seguinte, o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), foi afastado do cargo, e o então secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres, ex-ministro de Jair Bolsonaro, foi preso preventivamente após voltar dos Estados Unidos. Eles são alvos de um dos inquéritos do STF que apuram o papel de autoridades que podem ter contribuído ou facilitado a ação dos golpistas nos ataques aos prédios do governo.

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Destruição de obras de arte

O resultado da invasão foi destruição generalizada. No Planalto, a tela “Mulatas”, pintada em 1962 por Di Cavalcanti, foi furada pelos manifestantes. Outra obra danificada foi “Araguaia”, vitral de Marianne Peretti, de 1977, que fica no salão verde da Câmara dos Deputados.

No STF, a cadeira da presidente Rosa Weber, concebida pelo designer Jorge Zalszupin, foi arrancada. Além disso, um crucifixo foi danificado e a escultura “A Justiça”, de Alfredo Ceschiatti, de 1961, foi pichada. Segundo um funcionário do Congresso, os golpistas quebraram as vidraças da Câmara e fizeram pichações.

Um relógio trazido ao Brasil por dom João VI em 1808 também foi destruído. O objeto foi desenhado por André-Charles Boulle e fabricado pelo relojoeiro francês Balthazar Martinot no fim do século 18, poucos anos antes de ser trazido ao Brasil. A peça estava abrigada no terceiro andar do Palácio do Planalto, onde está localizado o gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando o local foi invadido por centenas de golpistas. Esses objetos precisaram ser levados à restauração durante o ano passado.

Veja fotos dos atos de 8 de janeiro

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Relembre participação de catarinenses nos ataques

A invasão e a violência dos manifestantes nos ataques em Brasília insuflaram também pessoas de Santa Catarina. No Estado, a BR-101 chegou a ser fechada com fogo e barricadas no trecho de Itajaí durante os ataques na capital federal. Enquanto isso, catarinenses estavam no meio do grupo que invadia e destruía os prédios dos Três Poderes.

Um relatório obtido pela CPI dos atos de 8 de janeiro feito pela Câmara Legislativa do Distrito Federal apontou que pelo menos nove ônibus saíram de Santa Catarina em direção a Brasília naquele fim de semana. No total, ao menos 54 passageiros desses veículos acabaram presos por participação nos atos antidemocráticos na capital federal.

Um dos participantes catarinenses dos ataques em Brasília que ficaram mais conhecidos foi Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza, de 67 anos, a “Fátima de Tubarão”. Presa três semanas após os ataques em uma operação da Polícia Federal, ela foi filmada participando dos atos golpistas.

Em imagens da invasão que viralizaram nas redes sociais, “Fátima de Tubarão” aparece falando frases como: “Vamos para a guerra, é guerra agora. Vamos pegar o Xandão agora”, fazendo referência ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Em outro vídeo, ela declarou que estava “quebrando tudo”. Atualmente ela permanece presa em uma unidade prisional catarinense até agosto do ano passado.

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Mas outros moradores de Santa Catarina também estiveram nos atos antidemocráticos marcados pela violência e destruição do patrimônio público.

O publicitário e influenciador bolsonarista Eduardo Gadotti Murara, de Joinville, também foi detido após os atos golpistas. Ele teria chegado a transmitir a invasão por meio das redes sociais. Tornou-se réu na segunda leva de denunciados que tiveram o caso analisado pelo STF, no início de maio. Atualmente, aguarda por julgamento.

A empresária Camila Mendonça Marques, de 35 anos, também foi presa após a invasão a Brasília, em 8 de janeiro. Ela é moradora da região Sul, e foi solta cerca de dois meses após os ataques, ao afirmar à Justiça que era a única responsável pelos filhos. O nome dela aparece como sócia de um comércio varejista de materiais de construção em Tubarão.

Políticos de SC também estiveram nos ataques

A vereadora de Bom Jesus, no Oeste catarinense, Odete Correa de Oliveira Paliano (PL), foi a única política com mandato presa pelos atos golpistas. Conhecida como “Odete Enfermeira”, à época ela foi detida na Penitenciária Feminina do DF.

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Além dela, o suplente de vereador de Itajaí, Fabiano da Silva, também esteve entre os 15 políticos detidos no local dos ataques. Outro catarinense, Oziel Lara dos Santos, de Jaraguá do Sul, que havia sido candidato a deputado estadual, também foi preso por suspeita de participar dos atos golpistas na capital federal.

Dias após os ataques, o nome do empresário catarinense Amir Roberto El Dine também apareceu em uma lista da Advocacia-Geral da União (AGU) como um dos supostos financiadores dos atos de terrorismo em Brasília. Ele é de Porto União, no Norte do Estado, e na ocasião estava em uma lista com outras 51 pessoas e sete empresas para um pedido de bloqueio de R$ 6,5 milhões em bens.

Mais de 1 mil pessoas foram presas entre o domingo, 8 de janeiro, e o dia seguinte ao ataque. Eles ficaram detidos em instalações organizadas pela Polícia Civil do DF. Nos meses seguintes, a Operação Lesa Pátria deu sequência à investigação para localizar outros participantes e os responsáveis por organizar e financiar os atos.

Até o momento, segundo o STF, 1.345 pessoas tiveram as denúncias aceitas pelo STF. No entanto, 1.113 estão suspensas e devem ser alvo de acordos de não persecução penal entre os réus e o Ministério Público Federal. Segundo o STF, são casos em que as pessoas não participaram diretamente da invasão, mas estavam acampadas em frente ao quartel do Exército.

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Os outros 232 casos devem ser levados a julgamentos. Até o momento, 30 já foram julgados e condenados, e outros 29 estão em um julgamento virtual que está em aberto e deve ser concluído no dia 5 de fevereiro. Os demais ainda aguardam para análise do caso.

Segundo o STF, apenas 66 pessoas permanecem presas. São oito condenados, 33 aguardando julgamento, e 25 investigados por financiar os atos que tiveram pedidos de manutenção da prisão apresentados pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

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