A notícia de que ao menos 53 cidades de Santa Catarina aplicaram vacinas vencidas contra a Covid-19 causou um susto na população, principalmente com a possibilidade da falta de eficácia. Os dados são de um levantamento feito pela Folha de São Paulo e publicado nesta sexta-feira (2). Mas, afinal, receber o imunizante fora do prazo estabelecido pode atrapalhar o processo de imunização?

Continua depois da publicidade

> Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo Whatsapp 

Para especialistas, há, sim, essa possibilidade. Principalmente, porque não há uma garantia de eficácia dos imunizantes após a data de validade, como explica o médico infectologista Amaury Mielle Filho:

— Quando é colocado um determinado prazo é porque os estabilizadores, que fazem parte da composição dos fármacos, por exemplo, têm uma meia vida e vai perder a sua eficácia. Porém, ainda não se sabe, vamos supor, o prazo era maio de 2021 e você usou em junho, o que pode acontecer se ela é usada depois desse prazo. 

Ou seja, se a vacina for utilizada fora do prazo pode ser que ela não produza o efeito esperado ou até mesmo um efeito mediano. Mas isso só pode ser confirmado, segundo o especialista, por meio de pesquisas e exames.

Continua depois da publicidade

Já para o infectologista Ricardo Freitas, se a vacina passar “um ou dois dias” do prazo, não afetaria a qualidade. 

> Efeitos colaterais da astrazeneca; veja os sintomas mais relatados

“O ideal é fazer o descarte desses imunizantes”

Segundo o levantamento da Folha de São Paulo, as vacinas aplicadas fora do prazo de valiedade são da Astrazeneca, vieram do laborátorio Serum, na Índia, e fazem parte do consórcio Covax, da Organização Panamericana de Saúde (Opas). A reportagem diz que as doses foram distribuídas pelo Ministério da Saúde entre janeiro e fevereiro deste ano e que os lotes teriam vencido entre 29 de março e 4 de junho.

Em caso de vencimento, o médico Ricardo Freitas afirma que a melhor forma seria fazer o descarte dessas doses, assim como ocorre quando há problemas na refrigeração. 

— Já aconteceram casos de faltar energia elétrica, durante o final de semana, e na segunda-feira essas vacinas são eliminadas ou excluídas. A mesma coisa acontece se elas estão fora do prazo de validade — salienta.

Continua depois da publicidade

> Criciúma coloca no fim da fila quem tenta escolher vacina da Covid: “Não é vinho”

De acordo com os dados, a cidade catarinense com mais registros é São Francisco do Sul, no Litoral Norte catarinense. Teriam sido aplicadas fora do prazo de validade 142 vacinas do lote CTMAV505, que venceu em 31 de maio.

Em seguida, vêm Tubarão (104), Camboriú (55), Criciúma (48), Chapecó (44), Canelinha (36), Anitápolis (30), Santo Amaro da Imperatriz (24) e Jacinto Machado (20). Os demais municípios têm menos de 20 registros. A maioria, menos de cinco.

Para a colunista do NSC Total, Dagmara Spautz, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que já está acompanhando o caso e trabalha com a hipótese de que tenha ocorrido um erro de registro. Ou seja, as vacinas estariam válidas. 

— Atribuíram um lote incorreto. A equipe está avaliando, (mas) aparentemente não foi aplicada vacina vencida — afirmou o superintente em vigilância em saúde, Eduardo Macário.

Continua depois da publicidade

Em nota, a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive) alega que identificou que vários dos registros ocorreram devido a um erro de vinculação de lotes, ou seja, de registros que demandam correção imediata. Por isso, um ofício foi encaminhado aos municípios para que investiguem caso a caso, corrijam e deem um retorno ao Estado até segunda-feira (5). 

A diretoria diz, ainda, segue padrão rigoroso de conferência de todos os prazos de validade nos procedimentos de recebimento e distribuição, e não envia fora da validade para os municípios. Caso alguma cidade aponte a ocorrência de aplicação da dose da vacina contra a Covid-19 com lote após o prazo, deverá reportar a diretoria para ser analisado.

Mas, se eu tomei a vacina ‘vencida’, o que devo fazer? 

Para o médico infectologista Amaury Mielle Filho, há duas opções: primeiro fazer um exame para verificar se você adquiriu anticorpos contra a doença ou tomar uma nova vacina, de outro fabricante.

Esta segunda opção, inclusive, consta no Plano Nacional de Imunização. Ele estabelece que, em caso de aplicação de vacina fora do prazo de validade, o paciente deve ser imunizado novamente em um prazo de 28 dias. 

Continua depois da publicidade

Questionado se esse erro pode atrasar a imunização do restante da população, o especialista diz que “um erro não justifica o outro” e é, sim, importante que essas pessoas sejam imunizadas.

— Se a pessoa tomou uma vacina vencida, considera-se que ela não foi vacinada. Então, ela precisa ser devidamente imunizada. Você não pode deixar uma população prejudicada por conta disso — alega. 

O que dizem as prefeituras

Após a publicação da matéria da Folha de S. Paulo, vários municípios catarinenses se manifestaram, por meio de nota, a respeito da aplicação das vacinas. A maioria alega que não houve aplicação de imunizantes fora do prazo de validade.

Arabutã: a Secretaria Municipal de Saúde alegou que as doses foram aplicadas dentro do prazo de validade e que acredita que tenha havido um erro de registro no sistema, possivelmente indicando a data errada de aplicação. 

Continua depois da publicidade

Balneário Camboriú: a prefeitura disse que o lote foi aplicado exclusivamente em profissionais da saúde entre fevereiro e março, antes do vencimento e, por isso, não houve imunização com vacina vencida.

Barra Velha: a prefeitura alega que não houve aplicação de dose vencida. O que houve foi um erro de digitação no sistema no momento de lançamento do lote utilizado.

Blumenau: o município diz que não há registro de recebimento de doses vencidas. Além disso, esclarece que o lote foi aplicado entre 29 de janeiro e 10 de fevereiro, dentro do prazo de validade. O que ocorreu foi a digitação da data de aplicação, fora do prazo.

Camboriú: alega que todas as pessoas foram imunizadas corretamente, ou seja, não houve aplicação de doses fora do prazo.

Continua depois da publicidade

Canelinha: segundo a prefeitura, o dado foi inserido no sistema erroneamente. Com isso, a equipe técnica entrou em contato com a Dive e pediu a correção. O município alega que não houve aplicação de doses vencidas. 

Chapecó: a Vigilância em Saúde alegou que não procede a informação de que foram aplicadas doses de vacinas da Covid-19 vencidas. O argumento é de que houve um erro de digitação dos lotes.

– Cocal do Sul: a prefeitura afirma que nenhuma pessoa recebeu a vacina fora do prazo de validade. 

– Criciúma: a prefeitura alega que o lote em questão chegou no dia 2 de fevereiro à cidade e foi utilizado inteiramente no período de uma semana, antes do vencimento. Além disso, a prefeitura ressalta que todas as pessoas imunizadas na cidade receberam a vacina dentro do prazo.

Continua depois da publicidade

– Florianópolis: em uma nova nota, a prefeitura informou que, após auditoria da Vigilância em Saúde, o órgão concluiu que nenhuma das doses aplicadas do lote estava com a data vencida e que o erro pode ser no sistema do Ministério da Saúde.

– Garuva: por nota, o município informou que as doses vencidas que aparecem na reportagem seriam de um lote que nem foi recebido pela cidade. O que aconteceu é que, no momento do registro das vacinações, os profissionais selecionaram um lote que não havia na Unidade. A prefeitura também afirma que não aplicou nenhuma dose vencida.

Joinville: segundo apurou o colunista do NSC Total, Jefferson Saavedra, a prefeitura vai aguardar a orientação do Ministério da Saúde e do governo estadual para tomar providências em relação à aplicação de cinco doses da vacina eventualmente utilizadas após o vencimento. O município alega que tem um controle rigoroso na aplicação e está apurando a situação.

– Lauro Mueller: o município afirmou que todas as vacinas do lote foram aplicadas dentro da validade, em profissionais de saúde, entre janeiro e fevereiro.

Continua depois da publicidade

São Francisco do Sul: a secretaria municipal de Saúde afirmou que está aguardando esclarecimentos da Secretária de Estado da Saúde. Além disso, o município diz que não aplicou ou recebeu nenhuma dose fora do vencimento. 

São José: o município disse que, ao “registar a vacina no sistema, não há possibilidade de prosseguir se a data do lote estiver vacina, ademais, não é possível após inserido no sistema, mudar o vencimento do lote”. Ou seja, as vacinas foram aplicadas dentro da validade, sendo o registro feito depois. 

– Tubarão: a prefeitura também diz que aplicou as vacinas em fevereiro, dentro do prazo de validade.

Leia também: 

Em Lages pessoas com 42 anos começam a imunização contra Covid no fim de semana

Continua depois da publicidade

Anvisa determina apreensão de três marcas de Melzinho do Amor após denúncias

Erros fazem SC ‘perder’ mais de 90 mil doses aplicadas da vacina contra gripe