*Por Crystal Martin
Você já ouvir falar nos perigos da luz azul e, nos últimos meses, por passarmos mais tempo on-line e em ambientes fechados, talvez esse assunto seja ainda mais comentado. Nossos laptops, telefones, tablets, TVs e, até mesmo, as lâmpadas LED são todos fontes de luz azul. Agora que dependemos desses dispositivos, seremos reféns deles? Devemos nos preocupar com possíveis danos à pele?
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Sabemos que, em comparação com os perigos bem conhecidos dos raios ultravioleta (envelhecimento da pele e câncer), a ciência não tem comprovação dos efeitos da luz azul sobre a pele, sobretudo em ambientes fechados. Ela pode causar hiperpigmentação e envelhecimento precoce. O resto – qual a dose que causa problemas, por exemplo – vinha sendo debatido muito antes de ficarmos confinados em casa.
Para explicar os riscos reais, ouvimos especialistas em luz azul e pele.
O que é a luz azul?
Quando pensamos nos efeitos nocivos da luz, geralmente os ligamos aos invisíveis raios ultravioleta (UV). A luz azul, entretanto, é visível. Ela pode ser percebida como uma luz branca de tom frio (como uma lâmpada LED) e, talvez, você nem perceba o azul. Isso ocorre porque as fontes de luz emitem uma variedade de comprimentos de onda que se combinam para criar as cores que enxergamos.
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Embora não se conheçam por completo os efeitos da luz azul na pele, ela é uma preocupação importante devido a outros riscos já conhecidos. “A luz azul danifica a retina e reduz a excreção de melatonina, interrompendo o ciclo do sono”, disse Michelle Henry, dermatologista de Nova York.
É óbvio que a proximidade é um fator quando pensamos nos perigos. “Você receberá menos luz azul da TV do que do computador, porque ela está mais longe; e receberá mais luz do celular do que do computador, pois ele é levado ao rosto”, explicou Henry.
Como a luz azul danifica a pele?
Enquanto os raios ultravioleta danificam diretamente o DNA das células, a luz azul destrói o colágeno por meio do estresse oxidativo. A flavina, um componente químico, absorve a luz azul, e a reação produz moléculas de oxigênio instáveis – os chamados radicais livres –, prejudicando a pele. “Penetram na pele e fazem buracos no colágeno”, explicou Henry.
A exposição à luz azul é mais problemática para a pele escura. Em 2010, um estudo publicado pelo “The Journal of Investigative Dermatology” revelou que ela causa hiperpigmentação em peles de tom médio a escuro, quase não afetando as mais claras.
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A comunidade médica categoriza a cor da pele segundo a reação à luz UV. O tipo 1 é o tom mais claro e com maior sensibilidade à UV. “Seria o caso de Nicole Kidman e Conan O’Brien”, exemplificou Mathew M. Avram, diretor do Centro de Laser e Cosmiatria do Hospital Geral de Massachusetts, em Boston. A escala vai até o tipo 6, que é o mais escuro e o menos provável de queimar.
No estudo de 2010, a pele do tipo 2 foi exposta à luz azul, mas não desenvolveu pigmentação. A pele escureceu e ficou assim por algumas semanas.
“Existe algo na pigmentação dos tipos 4, 5 e 6 que reage de forma diferente do que em pacientes com pele mais clara. Deveríamos ter mais estudos examinando isso, pois a pigmentação é uma das maiores preocupações e, também, aquela que deixa os pacientes menos satisfeitos com os tratamentos”, disse Avram.
Mas a luz azul não é usada no tratamento da acne?
“Sim, as lâmpadas de luz azul são usadas para tratar acnes e lesões pré-cancerosas. Danificam a pele, porém tratam a acne. Também ajudam o humor e a memória. Por isso, é mais complicado do que apenas dizer ‘bom’ ou ‘ruim'”, afirmou Avram.
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Como evitar danos à pele?
A maneira mais simples é reduzir a luz azul dos dispositivos. Os produtos da Apple têm um “turno da noite”, que cria um tom de tela mais quente. Troque suas lâmpadas LED por versões que liberem menos luz azul.
Filtros solares minerais com óxido de ferro protegem mais contra a luz azul do que aqueles com óxido de zinco e dióxido de titânio.
“Um bom truque é usar qualquer filtro solar colorido, que geralmente contém óxido de ferro”, recomendou Henry. O protetor Skinbetter Science Sunbetter Tone Smart SPF 68, que custa US$ 55, é um desses filtros minerais. A fórmula combina óxido de zinco, dióxido de titânio e óxido de ferro, produzindo um resultado homogêneo em qualquer pele.
Os antioxidantes tópicos devem ajudar a controlar os radicais livres que a luz azul cria, mas, de novo, a ciência não tem total comprovação disso.
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“De uma perspectiva puramente científica, não posso recomendar antioxidantes. Mas, com certeza, existem experimentos mostrando que funcionam bem em células cultivadas. A vitamina C penetra nas células diretamente e, se você provocar um dano oxidativo, ela ou outro antioxidante definitivamente ajudará”, explicou Alexander Wolf, professor assistente sênior na Escola de Medicina Nippon, em Tóquio, e especialista em estudos que relacionam a luz e o estresse oxidativo ao envelhecimento prematuro. “Mas placas laboratoriais com células não são pele de verdade”, acrescentou Wolf.
Desde que fique claro que não foi comprovada a eficácia dos antioxidantes na proteção aos efeitos da luz azul, embora isso seja quase dado como certo, pode-se dizer que eles são um bom substituto para os filtros solares, se você não se importar de cobrir o rosto com minerais. É provável que os antioxidantes reduzam os danos de um dispositivo de luz azul LED usado em casa para tratamento da acne. (Um filtro solar mineral bloquearia a luz azul e impediria sua ação bactericida.)
Quanto aos antioxidantes, a vitamina C é uma boa escolha porque sua molécula é pequena o suficiente para penetrar na pele. O Hyper Skin Hyper Clear Brightening Clearing Vitamin C Serum, que custa U$S 36, contém 15% de vitaminas C e E. Juntas, uma estimula o potencial da outra contra os radicais livres.
O burburinho em torno da luz azul levou à criação de novas linhas, como a Goodhabit. O Rescue Me Glow Potion Oil Serum, que sai a U$S 80, combina proteínas de origem marinha com exopolissacarídeos – ou seja, polímeros secretados por micro-organismos que criam uma barreira protetora na pele. Os polímeros agem como um filtro solar que bloqueia a luz azul (em vez de neutralizar os radicais livres como um antioxidante).
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Embora o ácido alfalipoico não seja apontado por suas qualidades protetoras contra a luz azul, Wolf estuda seu efeito no estresse oxidativo (na pele de ratos), e acredita ser algo promissor para a pele humana.
“Ele age de maneira diferente de um antioxidante. Ativa as defesas naturais das células da pele, fazendo-as agir como se houvesse um estresse oxidativo. A célula ativa seus próprios mecanismos de defesa. Acho que essa é uma maneira mais elegante de se proteger”, afirmou ele.
O hidratante Perricone MD High Potency Classics: Face Finishing & Firming Moisturizer, que custa US$ 69, contém os dois: vitamina C e ácido alfalipoico.
Um fato importante e nem sempre considerado sobre a luz azul: o sol é, de longe, a maior fonte desse tipo de luz.
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“O olho humano não mede bem a claridade porque a pupila acaba se ajustando. Você pode achar que a tela do tablet ou do smartphone é clara, mas a luz que atinge a pele é muito fraca, especialmente se comparada ao sol”, disse Wolf.
Em resumo, sua exposição à luz azul pode até estar mais baixa agora, em comparação com sua vida pré-pandemia, pelo simples fato de você ficar mais tempo em ambientes fechados.
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