Faltando 13 dias para encerrar seu governo, Carlito Merss (PT) tem poucas certezas sobre seu futuro, mas fala em alto e bom som que o PT está fora do governo de Udo Döhler (PMDB). Na avaliação do atual prefeito, o recado foi dado com o anúncio dos primeiros 18 secretários da próxima gestão, na quinta-feira passada, quando nenhum petista apareceu na lista.
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Leia na íntegra o promessômetro de Carlito Merss
Frente a esse cenário, nada mais natural para Carlito do que o PT ser oposição, embora não uma “oposição raivosa”, como o atual prefeito diz ter sofrido nos dois primeiros anos de mandato. As declarações foram feitas em entrevista exclusiva ao “A Notícia”, na manhã de segunda-feira, em seu gabinete, de onde já começou a recolher alguns papéis e pertences.
Assuntos do final do mandato, como as contas municipais e o reajuste da passagem de ônibus (o prefeito disse que deve dar a inflação) também pautaram a conversa. O abatimento pela cassação do registro de candidatura ainda na campanha, por causa de gastos com publicidade neste último ano de mandato, é evidente e repetido diversas vezes.
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A absolvição junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a militância pela reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014 são as outras das poucas certezas para o futuro. Apesar de falar em oferta de cargos no governo federal e de ter cogitado voltar a dar aula, o que tem na cabeça por ora é se aposentar e tirar umas férias. Leia os principais trechos da entrevista.
ÔNIBUS
Eu vou dar o reajuste, é claro, porque cabe a mim. Nós conseguimos, em relação à passagem, estabelecer o reajuste a cada início do ano pelo cálculo da inflação e devemos seguir isso. Só não vamos fazer a licitação do transporte coletivo por detalhes, por alguns prazos e burocracias. Mas vamos entregar ao próximo governo a licitação pronta. Udo só terá de fazer a última audiência pública.
Em um mês pode estar com a licitação encaminhada após iniciar o governo, com acordos, inclusive, sobre a dívida do transporte público. A dívida se originou porque os cálculos sobre a planilha não eram reajustados como deviam desde a época de Wittich Freitag (1989 a 1992). Hoje o município teria de pagar perto de R$ 400 milhões: as empresas ganharam na Justiça esse direito de cobrar. Conseguimos reduzir essa pressão com a política de reajustes que adotamos.
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A licitação vai pôr critérios para tudo isso e tira essa decisão das mãos do prefeito. Terá um processo a ser seguido, com cálculos estabelecidos, para ter o reajuste, como é com o pedágio. Pelas nossas planilhas, teríamos de dar reajuste próximo de R$ 3,10 e R$ 3,15.
Se as empresas estão pedindo R$ 3,10, está dentro do que já vínhamos calculando. Mas devemos dar a inflação mesmo, o que mantém a coerência dos últimos quatro anos. A briga com o secretário Trigo (Nelson Trigo, ex-secretário de infraestrutura de Carlito em 2009) e com o Kennedy foi porque havia essa necessidade de seguir a planilha.
GOVERNO UDO
O PT ficou de fora do governo Udo, isso está claro para mim. Se o cara monta o
governo e não tem o PT nos primeiros secretários anunciados, nem entro no mérito. Diante disso, nós vamos fazer oposição, é normal. Mas não aquela oposição raivosa que eu sofri nos dois primeiros anos.
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Eu vou acompanhar de perto, esse será meu papel. Quero que principalmente os grandes projetos, as mudanças que nós fizemos, no saneamento, na drenagem e nos procedimentos, a transparência, o controle para que nunca mais se delete carnê de IPTU do sistema, que tudo isso seja ampliado.
Agora, o que acho estranho é o Udo ter dado a Habitação ao PSDB. O PSDB faz uma oposição ferrenha ao Programa Minha Casa, Minha Vida, que é o grande programa de habitação hoje. Se for ver o que nós disponibilizamos, entre Prefeitura, Caixa Econômica e iniciativa privada, são mais de sete mil contratos de novas moradias. Não entendi essa escolha do Udo. Para mim, ele trouxe o PSDB para dentro do governo.
CASSAÇÃO
Eu não sou prefeito reeleito por causa da cassação do meu registro de candidatura. As informações que nós tínhamos é que havíamos empatado na sexta-feira. Nós estaríamos no segundo turno com o Udo se não fosse, no sábado e no domingo, aquele massacre (refere-se ao fato de outras candidaturas terem divulgado que seu registro estava cassado e que não valia a pena votar nele).
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Todos os advogados que consultei acharam um escândalo a decisão da juíza (Hildemar Meneguzzi de Carvalho). Não houve entendimento errado por parte da Prefeitura (no gasto com publicidade). A juíza decidiu que empenho é pagamento. Não é. O TRE manteve (a decisão) porque teve intervenção política para dar três votos a três. Quem tinha interesse que eu não fosse ao segundo turno?
Verifiquem os votos do processo. Os desembargadores disseram que me beneficiei, que gastei fortuna em publicidade. O engraçado é que não vou poder pagar as empresas de propaganda porque tenho que fechar a folha de dezembro. Onde é que me beneficiei?
DÍVIDA
Os dados do Recuperar estão sendo processados, não sei quanto de dinheiro entrou. As expectativas são boas. Sobre a dívida, não tenho esse número ainda, mas claro que tem coisas pequenas que vão ficar de um ano para outro. O que sabemos é que, no mínimo, é a metade da dívida que recebemos (Carlito Merss alega ter herdado uma dívida de R$ 100 milhões de Marco Tebaldi).
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Mas está tudo certinho para quando o Udo assumir, com o IPTU sem nenhum comprometimento, por exemplo. O Udo até ficou impressionado com os dados que apresentamos. O que nos obrigou a cortar gastos neste fim de ano foi ter que pagar a folha, o décimo terceiro, que são obrigações legais.
TRANSIÇÃO
O governo Udo vai receber os números, as contas, tudo correto. Estão todos aí (no Portal da Transparência). Nós demoramos quatro meses para saber a real situação da Prefeitura quando entramos.
FUTURO
Não penso em concorrer novamente no momento. Acho que a contribuição para o parlamento eu já dei. O resto, só o tempo dirá (sobre voltar a concorrer a prefeito). Só penso em limpar o meu nome mesmo. O que é mais difícil para mim é que dediquei esse tempo à popularização do orçamento.
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Acredito que a República se consolida quando a população entende melhor o orçamento. No mais, quero pegar umas férias também. Há mais de 20 anos que não pego férias de um mês seguido. Mas vou ficar por perto.
APOIO A KENNEDY
O PT votou o apoio a Kennedy Nunes. Os sindicalistas e algumas alas é que se abstiveram. Mas política é isso. O que mais se discutiu foi a reeleição da Dilma em 2014. No segundo turno, você tinha o PSD, que é governo, e do outro lado um senador (refere-se a Luiz Henrique da Silveira) que é anti-PT, anti-Dilma, anti-Lula.
O debate sobre quem estaria com a Dilma em 2014 pesou. Praticamente todas as falas na reunião do PT deram prioridade para a reeleição da Dilma. Por isso, o apoio ao Kennedy. O Udo disse depois, para mim, que independentemente da posição do senador, vai apoiar a Dilma. Não sei qual será a postura dele daqui a dois anos.
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FRUSTRAÇÃO
Gostaria de ter terminado a drenagem do Rio Morro Alto. A obra está 95% pronta, só não pude terminar porque a empresa queria R$ 1,2 milhão agora. Não tem como dar. Outra frustração foi não ter avançado mais no saneamento.
Quando assumimos, a informação é que havia 52% do esgoto contratado. Queríamos chegar a 70%. Mas quando fomos ver, não tinha esses 52%. Na verdade, fizemos mais dos 18% que prevíamos, fizemos mais de 20%. Por isso a cidade tem a cobertura que tem hoje, que passa dos 30%. Existem problemas contratuais até hoje não resolvidos no esgoto.
ERROS
Deveria ter tido maioria na Câmara. Foi o maior erro. Tentei conversar com outros partidos além do PPS. Faltaram dois votos. Fui pessoalmente na casa da Dalila (Leal). O problema é que ela tinha uma divergência com a Tânia Eberhardt (vereadora do PMDB cotada para a presidência). Foram reuniões abertas. Seria Tânia até 2010 e Sandro Silva de vice.
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Hoje o Sandro estaria lá, sendo presidente da Câmara com nosso apoio. Esse era o nosso compromisso. E eu disse para eles que não queria um cartório de homologação (que aprovassem projetos sem discutir). Tínhamos caso no passado de projeto que entrava as 15h30 na Câmara e às 17 horas estava aprovado em segunda votação. Eu tive o contrário. Projetinhos facílimos ficaram dois meses lá.
Esse último do Recuperar, solicitado por empresários, até pela oposição, ficou um mês lá. Depois, grande parte dos nossos gestores também não tinha experiência nesse jogo político. A máquina era amarradíssima, sem procedimentos claros. Nós melhoramos o fluxo do trabalho e isso também incomodou, inclusive os servidores.
OLHANDO PARA TRÁS
Eu dizia que não iria conseguir governar com uma dívida de R$ 100 milhões. Mas perdemos aquele debate, sofremos oposição sistemática e tivemos de tocar. Aí teve a Câmara de Vereadores, com aquelas CPIs todas, foram umas 14. Teve até do CEI, sobre o acidente que matou a menina Kelly Krueger, em março de 2009.
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Queriam me culpar de ter matado a menina. Na CPI da Iluminação, tinha radialista que agressivamente me chamava de corrupto, de “Carlito Luminapar Merss” (em referência à empresa contratada emergencialmente). O contrato emergencial foi positivo porque mostrou que dava para baixar pela metade o valor da iluminação. Foi graças aquilo que conseguimos iluminar a cidade até chegar ao que vemos hoje. O modelo nosso, com transparência, mexeu com todos os interesses, com todos os setores.
LEI DE ORDENAMENTO TERRITORIAL
É um atraso político (a LOT não estar aprovada). Até hoje, não sei a que interesses os senhores que moveram a ação contra o Conselho da Cidade atendem. O Udo disse que não é gente dele, tanto que perdeu agora também na tentativa de colocar o projeto em votação. Não é gente ligada ao Sinduscon, nem mesmo a outros grandes empresários. Não sei qual a motivação para emperrar um assunto tão importante para o futuro da cidade.
PT
A maior rejeição que tive foi causada por um grupo dentro do PT, que foi da extrema esquerda. Por falha ou fraqueza política, não consegui ter esse grupo fora do partido. Tentamos tirá-lo (Adilson Mariano), ele foi expulso aqui, mas a coordenação estadual sentou em cima do processo.
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É um grupo que se aliou com a extrema direita na cidade e fez uma oposição violenta. Agora, quero ver a postura desse mesmo grupo em relação ao novo governo, se farão a oposição como fizeram a nós. Eu não dei o aumento de uma vez só aos servidores porque estouraria os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal e sofri oposição violentíssima.
REELEIÇÃO DE DILMA
Eu só tenho dois objetivos: limpar meu nome e reeleger a presidente Dilma. Na política vale tudo, vale qualquer acordo pelo projeto maior, que é o País crescendo com distribuição de renda. O que o Lula fez e a Dilma está fazendo refletiu nesse nosso PIB, que pulou de R$ 13 bilhões para R$ 18 bilhões de 2009 para 2010.
A ampliação do número de emprego, a geração de renda, de qualidade de vida, é consequência direta do governo do PT no País. Se a economia estivesse ruim, não teríamos trazido a GM, a Brunswick e outras empresas. Essas empresas só vieram por causa da política nacional que está fazendo o Brasil crescer. Me sinto orgulhoso de ter ajudado a construir essa política. Aqui, infelizmente ainda temos uma oposição de direita.
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