O advogado, escritor e economista lageano Carlos Adauto Vieira chegou a Joinville sete anos antes do golpe de 1964. Poderia ter ido para Florianópolis ou Blumenau. Mas escolheu a cidade do Norte para começar sua carreira. Foi ele quem melhor driblou a ditadura na região, se tornando uma das vozes mais importantes do cenário político e intelectual de Joinville nas últimas décadas.
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Seus textos começaram a ser publicados logo depois da chegada à cidade e chamaram a atenção do Exército em 1964. As crônicas enviadas aos jornais da cidade fizeram com que as Forças Armadas ordenassem que nenhuma linha escrita por ele fosse publicada na cidade. Carlos Adauto então deu lugar a Charles D?Olengèr, ou Charlot, um pseudônimo que hoje é nome da passarela sobre o rio Cachoeira que liga os dois lados da avenida Beira-rio, na altura do Centreventos Cau Hansen, do Fórum e da Câmara de Vereadores.
– Fui a primeira pessoa a ser presa pela ditadura em Joinville – diz, sempre que perguntado sobre o assunto. A censura aos seus textos era o menor dos problemas. Foi preso pelo menos mais duas vezes pelos militares. Uma delas, em 1965, durante uma confusão em Curitiba.
Hoje, Adauto lembra do episódio e ri. Ele levava a primeira mulher ao médico e, ao passar em frente à reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), foi filmado com os alunos que faziam uma manifestação e tentavam derrubar o reitor. O advogado estava nas filmagens feitas que chegaram às mãos da polícia.
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A terceira prisão, em 1967, foi aterrorizante. Ele foi sequestrado pelos militares e chegou a ficar quase um mês – 27 dias – numa prisão-cativeiro, em um lugar que até hoje ele desconhece. Passou quatro semanas trancado em um banheiro.
O Exército nas entradas da cidade
Os joinvilenses viram, no dia 1º de abril de 1964, o efetivo do 13º Batalhão de Caçadores (que viria a se transformar no atual 62º Batalhão de
Infantaria) tomar a cidade.
Parte das tropas ocupou pontos estratégicos, como o sistema de abastecimento de água, estações de energia elétrica e, principalmente, as entradas e saídas da cidade pelas rodovias estaduais e federais. Na capa de “A Notícia”, sob o título “Zelando pela segurança da cidade”, uma nota explicava que se tratava de “uma medida normal em ocasiões de perturbação da ordem, nada havendo, portanto, que possa deixar intranquila a população”. Continua depois da publicidade
Nos dias que antecederam o golpe, a agitação se refletia nas manchetes dos jornais, nos discursos da Câmara de Vereadores e nas conversas da população. O que ninguém poderia imaginar, no entanto, era que a tal “revolução” fosse se estender por 21 anos.
Apoio na Câmara e na Prefeitura
As discussões sobre os recursos para a assistência social, as condições das estradas que davam acesso aos bairros mais distantes do Centro e sobre as calçadas deram lugar a uma imediata manifestação de apoio à ação militar.
Todos os vereadores assinaram uma nota que foi impressa na capa de “AN” e que manifestava unanimidade “contra o caos e contra a anarquia que se levantaram”. Também conclamava os joinvilenses a manterem a ordem e o respeito. Continua depois da publicidade
Raulino Rosskamp começava sua carreira política no meio dessa agitação. Ele foi um dos dois eleitos pelo PRP em 1962. Havia outros cinco vereadores da UDN, três do PTB e três do PSD. O prefeito era Helmut Fallgatter. A Prefeitura e a Câmara funcionavam na rua Padre Carlos. Rosskamp recorda que, a partir de abril de 1964, os vereadores passaram a se cuidar com suas manifestações.
– Nem pensar fazer discurso inflamado – relembra o ex-vereador.