Tenho um amigo que não fala com o pai há mais de 10 anos. Eles tiveram uma discussão séria, ambos disseram coisas horríveis, o filho saiu de casa e não voltou mais. Raramente se encontram em festas familiares, e mesmo nestas ocasiões praticamente não se falam. O pai, turrão, diz que a culpa de tudo é do filho. Este, orgulhoso, diz que só voltará a falar com o pai quando ele pedir-lhe desculpas por tudo o que disse naquele momento de raiva. Como nenhum dos dois dá o braço a torcer, a situação continua na mesma. O pior é que quem está de fora observa que ambos sofrem com esta separação, mas porque é tão difícil perdoar?
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“Perdoar alguém por uma situação que ainda dói é um processo que exige mais que uma decisão. Nem sempre estamos prontos para passar a borracha e recomeçar”, diz Heloísa Capelas, especialista em inteligência comportamental, diretora do Centro Hoffmann e autora do livro "Perdão, a revolução que falta". Segundo ela, o perdão é um sentimento individual. “Você pode perdoar uma pessoa sem ter que explanar isso a ela O perdão é seu. Quando você perdoa alguém, a cura é sua. O ponto final desse ciclo pode estar em não sentir mais raiva. A sua inteligência emocional é exercitada de forma a compor um organismo mais pleno", diz.
Mas o que fazer para curar a ferida aberta? Como encontrar o caminho da paz interior novamente? Perdoar nem sempre é simples, diz a especialista, embora seja o único caminho para a libertação e para viver melhor consigo mesmo. "Esquecer o que aconteceu não é fácil. Temos a sensação de que perdoar seria demonstrar que a nossa dor não vale tanto assim e, desta forma, em alguns casos, entramos em um ciclo sem fim, que alimenta a vingança e o próprio sofrimento e ressentimento", afirma. Livrar-se dessa corrente pode salvar vidas, inclusive a sua", sintetiza.
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