Um pedaço bem conservado de uma aventura pelos ares sem precedentes está em Florianópolis. É uma casa de 300 metros quadrados, construída em 1926 no Campeche, no Sul da Ilha. O lugar serviu como dormitório dos pilotos franceses – funcionários da primeira companhia de correios aérea da França, a Génerale Aéropostale. Recontar essa história é uma das propostas de um projeto que, neste ano, voltou a tramitar no Ministério da Cultura.

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A missão dos franceses era arriscada e conduzida em aviões precários. A aviação civil dava seus primeiros voos, nas mãos de jovens, encarregados de distribuir cartas entre Europa, África e América do Sul. Um destes aventureiros foi Antoine de Saint-Exupéry, autor de O Pequeno Príncipe.

Como voavam grandes distâncias, era preciso de paradas, onde os pilotos dormiam e reabasteciam os aviões. As casas ficaram conhecidas como popote, que em francês significa hora da marmita. Junto a elas havia o campo de pouso, o hangar e as redes de comunicação sem fio.

A Aéropostale tinha 28 cidades-escalas nos três continentes. Destas, 11 estavam no Brasil, como a do Campeche, que fica na Avenida Pequeno Príncipe e que explicaria a passagem e estadia de Exupéry em Florianópolis – o que não é um consenso e levanta controvérsias. Ela é a única casa de pilotos do país ainda em pé. Há cerca de três anos, parte da existente em Santos (SP) ruiu.

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Para dar ao casarão do Campeche outro fim, o projeto de recuperação, proposto em 2008, aguarda uma avaliação do Ministério da Cultura. Ele transforma o ambiente em um memorial de pilotos e pescadores. Além de contar a história da Aéropostale, mostrará costumes dos moradores da Ilha, que receberam os franceses de braços abertos. Também haverá um auditório para palestras, cursos e exibição de filmes.

– Vamos falar desta fusão franco-brasileira, e de que maneira isso mostrava, na década de 20 e 30, como Florianópolis tinha uma vocação cosmopolita e tinha seu povo muito acolhedor. Essa abertura para o outro já era um traço da cultura daqui muito bonito. Um traço de pré-globalização – observa a idealizadora do projeto, Mônica Cristina Côrrea.

Restauração pode estar pronta em fevereiro de 2014

Orçado em cerca de R$ 900 mil, a ideia é captar recursos via Lei Rouanet. Mônica adianta um pouco do que será mostrado: história de cada piloto, maquetes dos aviões da época e uma coleção de selos. O acervo sobre a cultura local ainda será montado.

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O superintendente da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes, Luiz Moukarzel, não vê motivos para o projeto ser rejeitado. De acordo com ele, a cidade carece de ambientes assim. Caso não sofra atrasos, a restauração fica pronta em fevereiro de 2014 , quando completa 70 anos de morte de Exupéry.

Conservar a casa ainda é importante porque Florianópolis, assim como as outras escalas, faz parte da Rede de Cidades da Aeropostal, que tenta tornar a rota da antiga companhia francesa em um patrimônio material e imaterial da humanidade junto à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).