Jovem, expert em tecnologia, presente nas redes sociais, e não-branco: assim é o ativista de 2020. Pelo menos segundo os participantes de um estudo publicado pelo USC Center for Public Relations. Todo ano, a organização analisa um tópico relevante para as áreas da comunicação e relações públicas, e o “novo ativismo” foi o tema escolhido para este ano, em função do papel cada vez mais poderoso que os ativistas têm na sociedade. Os dados apresentados no estudo são baseados em uma pesquisa feita em janeiro e fevereiro deste ano pelo USC Annenberg Center for Public Relations (CPR).
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Cerca de 70% dos profissionais de comunicação e relações públicas entrevistados acreditam que os ativistas são mais influentes hoje do que eram há cinco anos, e que essa tendência deve se intensificar nos próximos anos. Tanto os profissionais quanto os próprios ativistas que participaram da pesquisa concordam que dois dos principais fatores que fizeram o ativismo ganhar força nos últimos anos são a falta de confiança nas instituições políticas e a aparente inércia dos governantes frente a assuntos considerados urgentes pela população.
Um terceiro fator determinante citado é talvez o mais óbvio: a popularização das redes sociais, que proporcionam uma plataforma por meio da qual qualquer pessoa pode expressar insatisfações, fazer denúncias, cobrar respostas e, tão ou mais importante, encontrar outras pessoas com os mesmos interesses e preocupações. O novo ativismo é mais democrático, mais diverso, e, sobretudo, digital.
Porém, e talvez até de forma surpreendente, meios mais tradicionais de comunicação ainda são considerados muito importantes justamente pelos ativistas mais jovens: a norte-americana Jamie Margolin, que tem 18 anos e fundou o grupo Zero Hour, que busca disseminar a conscientização a respeito das mudanças climáticas, publicou o livro Youth to Power para contar sua história – e Greta Thunberg, talvez o maior ícone do ambientalismo hoje em dia, escreveu o prefácio.
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No estudo, líderes comunitários e celebridades ainda são citados como os mais influentes quando se engajam a uma causa, seguidos pelos cidadãos comuns: 29% dos ativistas entrevistados acreditam que, em algum momento do futuro, “todo mundo será um ativista” por uma causa ou outra. Outros citados como capazes de influenciar fortemente os movimentos sociais são jornalistas e CEOs de empresas – este último grupo chama atenção porque, no Brasil, os líderes de empresas só agora estão sendo vistos como potenciais ativistas ou aliados de causas sociais.
– Aqui no Brasil isso ainda está engatinhando, mas, nos Estados Unidos, a pior coisa que um CEO pode fazer é não se posicionar. Eles precisam ter opiniões fortes sobre aborto, aquecimento global, direitos LGBTI. E não só ter opinião, mas se mostrar ativo a respeito dessas causas, casar discurso e prática. Apenas o posicionamento não basta, principalmente sob o ponto de vista do público jovem – afirma Jeferson Lana, professor do programa de pós-graduação em Administração da Univali.
“A palavra é ‘propósito'”, diz professor
Jeferson Lana, professor do programa de pós-graduação em Administração da Univali, resume a situação é com uma palavra-chave:
– A palavra é “propósito”.
Ele destaca que hoje, os consumidores querem se identificar com o propósito das empresas das quais compram, ao contrário dos consumidores de antigamente, que só buscavam o melhor produto. E diz que os consumidores jovens ainda vão além:
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– Eles querem mudar os propósitos das empresas com as quais não concordam. A empresa não pode se preocupar única e exclusivamente com seu produto, ela precisa se preocupar com como é vista pela sociedade e como vê a sociedade – pondera o professor.

Não à toa, 84% dos profissionais que participaram do estudo do USC Center for Public Relations acredita que as empresas devem se posicionar perante à sociedade a respeito de questões que digam respeito à área de negócios; e mais de metade dos estudantes de relações públicas, mais jovens, acreditam que as companhias devem se posicionar inclusive a respeito de temas que não digam respeito à área de atuação – seja direitos LGBTI, imigração, mudanças climáticas, controle ou posse de armas.
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– Quando faz uma publicação nas redes sociais, questiona ou boicota uma empresa, o ativista não quer só demonstrar seu descontentamento: ele quer que esse descontentamento gere uma mudança social. E as pessoas se engajam mais com empresas que demonstram disposição para mudar; mesmo que anteriormente tenham errado ou estejam errando – avalia Lana.
É importante notar que simplesmente compartilhar uma opinião via redes sociais não é visto como “ativismo” pela maioria dos participantes do estudo. Os ativistas são descritos como pessoas que organizam abaixo-assinados, boicotam e fazem campanha por boicote de determinadas empresas ou produtos, doam para causas nas quais acreditam, votam e fazem campanhas pró-voto (já que o voto nos Estados Unidos não é obrigatório) – e também fazem campanha por candidatos ou se candidatam eles mesmos a cargos públicos.
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