Quem visita comunidades pesqueiras se depara também com a realidade da pobreza. A distribuição de renda desigual faz diferença nas moradias, nas embarcações, na quantidade de redes e outros equipamentos de pesca. Muitas famílias moram em lugares onde não há serviços públicos, como coleta de lixo. A destinação incorreta incide na atividade, pois o lixo é descartado em lugares como encostas e manguezais, e carregado pela chuva.

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— Já vi tartaruga querendo comer uma sacola de plástico por achar que é uma alga. A gente tem que cuidar do meio ambiente, pois dependemos dele — pede Bárbara dos Santos, 31 anos, que pesca desde a adolescência, e agora com o marido, em São Francisco do Sul.

Bárbara não tem muito estudo, mas consciência para saber que o lixo não ameaça só o mar. A economia e as comunidades pesqueiras também correm riscos. A cada ano, cerca de 10 milhões de toneladas de lixo chegam aos mares e oceanos. Plásticos e derivados, como a sacola que ela evitou que fosse parar no estômago da tartaruga, são os principais detritos encontrados. Há também redes de pesca estragadas e abandonadas pelos próprios pescadores. Assim como pedaços de isopor que também podem ser engolidos pelos animais marinhos.

Consciência, esgoto e restinga

Nativa de São Francisco do Sul, Bárbara percebe mudanças que refletem nas águas e em suas riquezas
Nativa de São Francisco do Sul, Bárbara percebe mudanças que refletem nas águas e em suas riquezas (Foto: Tiago Ghizoni)

Por sorte, a questão ambiental é comum a muitas dessas trabalhadoras. Há o entendimento de que obras, como saneamento, são de competência do poder público, e isso deve ser exigido. Mas ações pontuais, como separar o lixo em casa e nos ranchos, e não jogar plástico e latas no mar, dependem de cada um.

A nossa restinga está morrendo por causa do esgoto. Sem tratamento vai tudo para o mar. Então, se a gente cuidar um pouco pelo menos diminui o impacto.

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Ao longo da Baía da Babitonga, se observam muitos pontos da pesca artesanal
Ao longo da Baía da Babitonga, se observam muitos pontos da pesca artesanal (Foto: Ângela Bastos)

Nativa e filha de pescadores, ela percebe mudanças na natureza se comparado com tempos atrás. Para a profissional, é importante que as pessoas que retiram o sustento do mar tenham mais consciência acerca da preservação.

— O peixe quer água limpa, não quer poluição. Se não mudar, a gente vai deixar de viver esse momento — conta, mostrando o troféu do dia, caixas cheias de peixes tiradas da Baía da Babitonga.

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