Nasci no Pantanal, em Florianópolis, em 1933. Na época era um sítio. Hoje, com a Universidade Federal de Santa Catarina próxima, recebeu impulso tornando-se um bonito bairro para se morar. Meus pais, Virginio e Lidia, os dois com o quarto ano primeiro grau, já tinham dois filhos: Jaime, o mais velho, e Terezinha. Meu pai trabalhava na Alfândega (Ministério da Fazenda) e minha mãe tinha um armazém que denominavam Casa de Secos e Molhados, anexo à casa em que residíamos, que abastecia a comunidade.
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Não havia água encanada nem luz elétrica. Meu avô possuía uma chácara. Era só atravessar a rua e lá estávamos. A água para abastecimento era retirada de um poço com um pote de barro da chácara de meu avô. Fogão a lenha, ferro a brasa e o WC era de madeira sobre um rio distante alguns metros da casa.
Tenho saudade das noites de lua cheia, quando as crianças brincavam de correr à luz do luar, brincavam de roda cantando as melodias ensinadas pelos pais ou avós. Durante o dia brincávamos de boneca s, que batizávamos em um rio. Tinham até madrinhas, que, depois do batismo, serviam um “café”. Brincávamos de casinha, fingíamos fazer comida. Os meninos brincavam de bola de gude, jogavam bola. Fico triste ao ver as crianças desde tenra idade ligadas à tecnologia. Não brincam. Vivem isoladas com a máquina ou diante da televisão assistindo a crimes em que o desamor supera o amor. Não há amizade entre as crianças vizinhas.
Nossa condução era uma carreta puxada por um cavalo. Nesta condução, íamos à missa na Igreja da Santíssima Trindade todos os domingos. Não perdíamos a Festa da Laranja, sempre na companhia de nossos pais, que souberam nos criar com muito amor. Aos domingos, íamos até o Saco dos Limões a pé. Tomávamos o ônibus e nos dirigíamos a casa dos parentes que moravam no centro de Florianópolis. Éramos felizes na simplicidade que vivíamos, porque nada melhor do que o amor para suprir as necessidades de uma criança.
Quando tinha 11 anos viemos morar no Centro, na Avenida Mauro Ramos. Meu pai continuou no emprego e minha mãe num armazém de secos e molhados na Rua Hermann Blumenau esquina com a Mauro Ramos. A casa ainda existe, é um restaurante. Apesar de trabalharem muito, meus pais tiravam férias e sempre faziam viagens conosco. Como é bom os pais se dedicarem aos filhos. O exemplo fica. São lembranças de um passado que valeu a pena.
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Meus pais nos deram o prazer de assistirmos a suas bodas de ouro. Como toda história tem princípio, meio e fim, mais tarde surgiu o amor e me casei com Sebastião Martins de Moura, tenente coronel-dentista da Polícia Militar de SC. Temos dois filhos e quatro netos, e estamos em vésperas de de nos tornarmos bisavós. Como meus pais, tivemos o prazer de comemorarmos nossas bodas de ouro em 2007 e também viajamos com toda nossa família a Bariloche.
O tempo, nosso melhor amigo, se encarrega de nos informar quando começar e quando terminar, por isso despeço-me com esta história de amor agradecendo ao Diário Catarinense, às pessoas amigas que sempre me incentivaram a escrever ao Diário do Leitor, deixando um pedido: “Família torna-te aquilo que és”. Uma frase do papa João Paulo. O futuro da humanidade passa pela família. Pais, amem-se e amem seus filhos, porque “só o amor constrói”.