No início de janeiro nossa mãe, Cecília, teria completado cem anos de idade. Deixou-nos aos 97, mas sua missão e seu espírito permanecem irradiando belos exemplos de amor! Foi esplêndida sua passagem por aqui. Filha de casal pioneiro da colonização do Alto Vale do Itajaí – hoje formado por prósperos municípios -, cedo deparou-se com a condição humana da brava gente que lá chegava para uma nova vida. Estudava em Blumenau, mas nas férias e após formada participou ativamente da formação de florescentes comunidades.
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Por incontáveis vezes, a pé ou de charrete percorria as incipientes estradas para levar gratuitamente os primeiros socorros aos habitantes do meio rural. Aos 19 anos, quando o pároco anunciava que um coral de outro lugar cantaria na primeira visita do bispo, ela levantou-se e arriscou:
– O nosso coral poderá cantar.
O padre ponderou que não possuíam coral e Cecília, resoluta:
– Teremos a partir de hoje! Quem quer cantar?
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Formou-se naquele momento o Coral Santa Cecília (em homenagem à padroeira da música, entre os católicos), e que, em 8 de dezembro de 2013, no hoje desenvolvido município de Salete, completou 80 anos de existência! O grupo está há 30 anos sob a regência de Henrique Schlickmann e conta ainda com a presença de Cornélio Rohden, honorável membro do primeiro grupo de cantores.
Viúva de nosso pai, Alberto, e com sacrifícios de variada ordem, ela bem soube transmitir os mesmo princípios do casal aos nove filhos, que a presentearam com 21 netos, 22 bisnetos e uma tataraneta. Não fazia distinções fosse com os menos favorecidos ou, por exemplo, ao servir como intérprete de juristas em viagens a Israel, Itália e França, já que, descendente de alemães e italianos, também dominava seus idiomas. A todos encantava com sua simplicidade, coragem moral e clareza de pensamento.
Gostava de permanecer atualizada e sentir o ritmo desta vida. Sustentava que o ser elevado deve reconhecer e corrigir seus erros, superar as ofensas, mas, para melhorar este mundo, posicionar-se com altivez contra a injustiça.
Ensinou-nos que a maior riqueza não está na matéria ou em posições sociais passageiras, mas na solidariedade, sem buscar retribuição. Valeu a pena, porque (lembrando o poeta Fernando Pessoa) a alma não foi pequena.
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