A violência desafia cientistas sociais e autoridades a buscarem respostas e soluções para um fenômeno ainda indecifrado.

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O Brasil atingiu em dezembro do ano passado a menor taxa de desemprego de toda a história. A renda média cresce, o poder aquisitivo da população também, o consumo é maior e um contingente enorme de pessoas saiu da pobreza e ingressou na classe média. Mas a violência urbana não regride na mesma proporção. Pelo contrário, a criminalidade ganha espaço, aterroriza os cidadãos nos grandes centros urbanos e também nas cidades médias. São homicídios, assaltos, roubos de veículos, saques, ônibus incendiados, crimes de toda ordem.

A violência manifesta-se em todos os lugares e em todas as suas formas, o que inclui o aumento dos ataques aos patrimônios público e privado e das agressões pessoais, incluindo estupros e abuso de crianças. Os instrumentos à disposição das autoridades e dos cientistas sociais dedicados à compreensão do fenômeno parecem insuficientes para explicar a controversa situação. Não basta para o entendimento desse cenário que se apontem fatores considerados históricos, como a desagregação familiar e as desigualdades sociais. A abordagem legal também falha ao argumentar que não há polícia ostensiva em número suficiente nas ruas, que os governos falham na prevenção, que as investigações são precárias e que a Justiça contribui para a impunidade que realimenta o crime.

A perplexidade é tanta, que, segundo alguns analistas, nem mesmo o crescimento do comércio e consumo de drogas pesadas contribui para a explicação do massacre diário registrado em cidades de qualquer porte e até em vilarejos antes imunes a atos violentos. O Brasil registra, por ano, mais de 50 mil assassinatos. Em 2013, o número de homicídios cresceu 7,6% em relação a 2012, fazendo com que a taxa de mortes nessas circunstâncias tenha chegado a 25 para cada grupo de 100 mil habitantes, o dobro do que a ONU considera aceitável. Das 50 cidades mais violentas do mundo, 16 são brasileiras. Esses não são números compatíveis com o estágio de desenvolvimento econômico do país e com os esforços para correção das desigualdades.

O contraste entre a prosperidade evidente de vasta camada da população e o aumento da agressividade, em especial nas áreas metropolitanas, exige bem mais dos que se dedicam a estudá-lo e de todas as instituições que, por obrigação legal, precisam corrigi-lo. Mesmo que a autoria da violência não esteja restrita às populações mais pobres, não há como negar que essas representam a maior parcela dos envolvidos em delitos graves. Camuflar essa realidade, em nome de desculpas, como a de que as ações violentas devem ser vistas como manifestações políticas, é negligenciar diante de uma questão urgente, que tem vítimas em todas as classes.

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O paradoxo do Brasil violento, num ambiente favorecido por melhoria de vida, é desconcertante para todos. Como as respostas têm fracassado, há urgência no aprofundamento do debate e da busca de soluções, ou o país continuará enredado em explicações e saídas superadas.