O Skank desembarca em São José, na Grande Florianópolis, neste sábado (1º) para apresentar aos catarinenses o mais recente projeto da banda: "Os Três Primeiros – Ao Vivo". No mesmo dia e local, na Arena Petry, os Paralamas do Sucesso apresentam o novo disco "Sinais do Sim". A seguir, confira entrevista com Henrique Portugal, tecladista do Skank:
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Como surgiu a apresentação com os Paralamas do Sucesso?
A gente fez esse show no Rio de Janeiro e está repetindo isso agora. No Rio foi sensacional porque chega um momento que a gente toca juntos. A gente sempre tocou músicas dos Paralamas no show e tem uma história muito interessante, há muito anos, o Skank ainda era uma banda pequena, e eles tocaram em Belo Horizonte (MG). A gente começou tocando em bar e o Bi e o Barrone foram até esse bar. Na hora que eles chegaram a gente já tinha acabado de tocar e desmontado o equipamento. Eu me lembro do Bi e do Barrone dizendo “não, vamos montar de novo, vamos tocar e tal”. E a gente montou de novo, acho que era um domingo, pelas 23h, meia-noite e a tocamos de novo e rolou de tocarmos juntos. Então a gente guarda com muito carinho esse dia que foi histórico para a nós, na nossa carreira.
Nesse último trabalho, por que reunir os três primeiros discos e não outros?
Culpa de vocês (risos). A gente lançou em 2016 uma versão especial do álbum O Samba Poconé que estava completando 20 anos e fizemos alguns shows tocando só músicas dele. E aí a galera falou, esse álbum é legal, mas além dele a gente gosta muito dos três primeiros. Aí o grupo resolveu fazer uma turnê dos três primeiros álbuns já que a galera pede, e tem uma coerência muito grande musical. E o interessante é que quando a gente fala dos três primeiros, a gente fala de boa parte das músicas conhecidas do Skank.
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Algumas letras dos três primeiros como In(dig)nação, Pacato Cidadão e Esmola falam da realidade brasileira dos anos 1990. Vocês acham que elas se mantêm atuais?
O Samuel até cita isso nos shows quando a gente vai tocar In(dig)-nação, que é uma letra da época dos caras pintadas e a gente sempre fez citações com motivos sociais em nossas letras. Nós estamos falando de 26 anos depois, e a gente viveu alguns momentos de euforia frágil e hoje está pagando uma conta exatamente por causa disso. Já era para estamos muito melhor. Não era mais para a gente questionar tanta coisa igual estamos questionando. Já era para o Brasil ter uma sociedade um pouco mais madura. Então quando você cita músicas e letras que foram escritas em outro contexto e elas se encaixam plenamente na situação atual do Brasil, a gente realmente tem que parar e pensar o que nós fizemos nos últimos 25 anos. Esse é o papel do artista.
Não é só vodka e camarote. O que nós estamos passando agora é exatamente o oposto disso. Essas letras voltam a ter relevância porque o brasileiro começa a se questionar.
Como o dancehall jamaicano influenciou no Calango?
O dancehall é o pai do reggaeton e foi uma questão de gosto. Logo que a gente lançou o primeiro álbum chegamos a fazer uma turnê com o Max Priest aí depois veio Shabba Ranks, Shaggy e vários outros que nos influenciaram bastante. Então assim, a maioria das músicas de terceiro mundo, e estou falando de terceiro mundo no caso do reggae vindo da Jamaica, são distorções de alguns estilos que vieram do primeiro mundo e quem é de países mais simples acaba misturando isso com a referência local.
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Qual foi a participação do Manu Chao no O Samba Poconé?
Em 1996 quando a gente gravou O Samba Poconé, o Mano Negra tinha acabado e o Manu Chao estava começando a carreira solo. E agente tinha ficado impressionado com a força do Mano Negra ao vivo e a gente quis isso aí. Então, nada como chamar o Manu Chao para participar de um álbum.
A mistura cultural é uma grande ideia. A gente devia voltar a fazer isso mais.
Por que Os Três Primeiros foi gravado ao vivo e não em estúdio?
Quando a gente começou com a história dos três primeiros, agente falou assim, poxa tem muita música. Por exemplo, O Samba Poconé, tem Garota Nacional, É Uma Partida de Futebol e Tão Seu, é um álbum que essas três músicas praticamente roubaram o espaço de outras. Assim, é o que mais vendeu na nossa carreira, mas as pessoas falam muito de poucas músicas. Diferentemente do Calango que a galera conhece praticamente todas as músicas. Então a gente decidiu tocar ao vivo, claro as conhecidas, mas também músicas que são importantes para a nossa carreira, mas que não necessariamente se tornaram tão conhecidas pelo público geral.
Essa turnê também tem duas músicas novas, não?
Sim, tem duas canções inéditas, que são Algo Parecido e Beijo na Guanabara. O Algo Parecido está funcionando super bem, as pessoas já conhecem a música. Nas redes sociais do Skank dá para ver o público cantando a música em São Paulo. E a gente também deve lançar aí a música Beijo na Guanabara, que foi composta na época dos três primeiros e que a gente nunca tinha feito uma gravação dela.
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Como vocês vêm o cenário atual para as bandas que lançam músicas independentes?
Antes era impossível, hoje é possível. As gravadoras ainda têm um poder muito grande, mas, hoje você consegue distribuir a sua música, falar diretamente com fãs por causa de rede social. Normalmente quando se é independente se tem pouca grana, então você se torna mais criativo. Não tem grana para fazer um álbum, então faz um EP. Nos anos 1950 na época dos Beatles, essa turma toda lançava single. Não existia álbum.
Na verdade a gente está voltando a fazer o que acontecia nos anos 1950, obviamente que agora é por uma questão tecnológica. Na época, o motivo era ao contrário, era por dificuldades tecnológica.
Confira a entrevista em vídeo: