Após fazer palestra em seminário sobre a carne suína catarinense para mais de 90 executivos japoneses, em Tóquio, na manhã de sexta-feira, o governador Raimundo Colombo falou com o Diário Catarinense sobre o atual momento político e a sua participação no evento no país asiático. Segundo ele, os protestos indicam que o país precisa de mudança para melhorar suas práticas políticas e serviços públicos. Entre as leis que teriam que ser alteradas está a que regula as licitações, por permitir excesso de recursos. Sobre a viagem, explicou que foi para evitar o cancelamento do evento sobre uma conquista muito importante para a economia do Estado. O governador embarcou em Tóquio na manhã de sábado e chegará a SC neste domingo.

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Diário Catarinense – Como avalia esse momento politico do Brasil?

Raimundo Colombo – Vejo com esperança, acho que o país precisa de mudança, de evolução tanto na prática política, quanto na qualidade do serviço que realiza. Um movimento de massa, espontâneo, forte como este chama a atenção de todo mundo e provoca uma consciência muito forte de mudança. É com esse espírito que sinto o momento. É uma oportunidade de motivar a todos para que dentro do governo e na sociedade a gente possa melhorar o nosso trabalho.

DC – Qual a sua opinião sobre um plebiscito para a reforma política?

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Colombo – Acho fundamental. A gente não tem conseguido evoluir. A prática política no Brasil está corrompida, desgastando todo mundo. Temos que criar um novo modelo. É uma unanimidade. Tem que haver a percepção e a vontade das pessoas para modificar o nosso modelo, que está errado e com resultado muito ruim.

DC – Como o senhor tem acompanhado as votações do Congresso nos últimos dias?

Colombo – Há leis para tudo. Mas é preciso modificar o sistema. Não adianta, a cada crise, votar leis que ficaram paradas durante todo o tempo. Acho que é preciso fazer um debate mais profundo, construir um novo modelo. Entendo a sensibilidade, as tentativas de resposta, mas é preciso mudar o modelo com a participação da população e das pessoas que têm muita contribuição a dar para que a gente, de forma corajosa, possa mudar o nosso sistema político.

DC – O Congresso fez diversas votações de forma rápida como a que torna a corrupção será crime hediondo, fim do voto secreto para cassação de parlamentares, 100% dos royalties do petróleo para educação e saúde, desoneração das empresas de transporte, rejeição da PEC 37. Como avalia isso?

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Colombo – São atitudes corajosas, rápidas, mas mostram, claramente, que poderiam ter sido feitas antes e não foram. No meu entendimento, é necessário abrir para uma constituinte exclusiva, para construir um novo modelo. Tem que fazer a reforma política, reforma do Estado brasileiro. Esse momento é oportuno para isso. É evidente que há um desgaste muito grande, uma desmoralização muito grande e não pense que é só no governo federal, é no Estado. Temos que tratar de todos os poderes, começa com os mais visíveis, mas depois é preciso uma mudança geral. Considero isso uma extraordinária oportunidade de melhorarmos o nosso país.

DC – O que é fundamental para o senhor na reforma politica?

Colombo – Acho que aproximar mais o político das pessoas, por isso sou a favor do voto distrital, que prioriza o mérito sobre a estrutura. Defendo muito um processo que permita um estado mais transparente, mais eficiente. Hoje estamos com tudo sendo judicializado. Há toda uma estrutura que a lógica é não deixar fazer. Isso vai de órgãos de controle, órgãos ambientais, de fiscalização. Temos que avaliar. A crise é muito mais profunda. O primeiro passo é a reforma política. As dificuldades legais, o excesso de judicialização inviabilizam respostas mais rápidas do executivo. A reforma política deve dar mais agilidade e eficiência. É preciso mudanças nos excessos legislativos que temos hoje. A lei 865, das licitações, por exemplo, entrou pra ajudar, mas hoje é um obstáculo. Há um excesso de judicialização, de liminares, tem liminar para tudo. Hoje, o setor público está muito amarrado e isso não produziu um aumento de eficiência e redução da corrupção. Pelo contrário, a gente pouco está conseguindo fazer.

DC – Avalia que valeu a pena vir ao Japão para os eventos sobre a abertura do mercado à carne suína neste momento político forte no Brasil e em SC, com protestos nas ruas?

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Colombo – Pensei muito e tive muitas dúvidas porque era uma circunstância extremamente difícil. Mas não havia como não vir. Como a presidente Dilma não pode vir, se nós não viéssemos, o evento aqui em Tóquio seria cancelado. E lutamos muito, investimos muito, nós eu digo a sociedade catarinense para ter essa conquista. Então era fundamental que estivéssemos aqui e consolidássemos isso. E agora está consolidado. Já estamos começando a vender para o Japão. Isso vai trazer um grande impacto na nossa economia. Muitos, talvez, não tenham compreendido, mas era fundamental encerrar esse processo que se arrastava há muitos anos e que agora terá um impacto positivo com oportunidades de desenvolvimento do nosso estado.

DC – O Estado está investindo alto nessa preservação da sanidade?

Colombo – Temos 67 barreiras nas divisas do Estado e todas elas têm uma equipe 24 horas monitorando, com recursos públicos. Isso é fundamental para ter esse status sanitário para poder vender a grandes mercados. No ano passado conseguimos abrir os Estados Unidos e, agora, o Japão. Nos EUA é importante a gente ter a chancela, embora a gente vá comercializar pouco. No Japão esperamos comercializar muito. Essa conquista é significativa ao setor porque ele teve muitos altos e baixos. Diversos produtores tiveram que deixar a atividade. O mercado japonês é um país com uma estabilidade muito grande, com contratos permanentes, o que vai ajudar muito o setor.