Aos 47 anos, o padre João Bachmann se sente realizado. Nunca duvidou da vocação que descobriu aos cinco anos quando brincava com os dois irmãos mais novos de ser padre. Além de líder religioso, é uma pessoa que gosta de trabalhar, estar em contato com outros, ouvir histórias e fazer o bem. Em fevereiro completa 20 anos em Blumenau e pretende ficar por aqui. Como plano para o ano que vem, quer fazer a Novena de Nossa Senhora Desatadora dos Nós aos sábados, atendendo aos pedidos de milhares de fiéis que ficam do lado de fora da catedral nas quintas-feiras.

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Quando o senhor percebeu que tinha vocação para ser padre?

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Brotou aos cinco anos quando morava em Guaramirim. Tenho oito irmãos e cuidei dos meus dois mais novos até os 11 anos, enquanto os outros estavam na agricultura. Enrolava o lençol em volta do meu corpo e dizia que era a batina. Brincava de rezar missa. Cortava banana em fatias finas para dizer que era hóstia e o suco de uva para parecer vinho. No ensino fundamental a professora de ensino religioso perguntava qual era a minha vocação e a resposta nunca mudou: ser padre. Um dia ela conversou com meus pais e falou que era minha missão. Terminei a oitava série e ingressei no seminário.

O que as pessoas buscam quando pedem aconselhamento?

As pessoas estão carentes porque não encontram mais na família aquele ambiente de amparo, de diálogo, de escuta e buscam no padre alguém que dê resposta. O padre é psicólogo, psicanalista, psiquiatra, médico, amigo e pai. Não dou conta hoje da demanda de pessoas que me pedem horário para conversar.

Quem é afinal o João?

Eu não tenho mais esta liberdade. Se eu ando na rua ou se vou a qualquer lugar, sou parado pelos fiéis. Eles falam dos problemas e querem encontrar paz e receber bênção e orações. Quando tenho folga, vou a Guaramirim na casa da minha mãe. Como a comidinha dela – nhoque de batata, macarrão caseiro – e visito meus familiares que moram na região. Há 11 anos faço viagens de peregrinação a Jerusalém, Fátima, Lourdes e ao Vaticano. Viajo anualmente e levo fiéis comigo. São 15 dias que me renovo, que busco na fonte a fé, a vocação.

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A novena de Nossa Senhora Desatadora dos Nós trouxe muitos fiéis para a igreja em Blumenau. Foi iniciativa sua criá-la? Como o senhor vê esta presença assídua?

O povo pedia uma novena e ela existia em Florianópolis e eu gostava muito. Desde o primeiro dia foi um sucesso e a Catedral ficou pequena. É um público diferente e tem uma outra dinâmica. Interajo mais com os fiéis e cada um deles tem o seu kit, com vela, cordinha, santinho. Esse público sente a necessidade de participar de uma missa mais cantada, bem rezada e com interação. Há muitos testemunhos bonitos e profundos, de verdadeiras graças que transformaram a vida das pessoas. Aí está o sentido da fé.

Como o senhor lida com a carga emocional que recebe diariamente?

O segredo é dormir e acordar cedo. É uma carga emocional muito grande. São muitas pessoas na missa, enterros, batizados, casamentos, aconselhamentos e outras necessidades pastorais. Lido com conflitos de pessoas que buscam luz e oração. Sou humano e acabo absorvendo muita coisa. Mas consigo desligar e dormir com paz na mente e uma sensação de dever cumprido. Mas é durante as viagens à Terra Santa que eu consigo recompor as minhas forças e energias perdidas ao longo do ano. Eu não tenho obedecido aos médicos para tirar férias. Mas me sinto bem com esta doação contínua.

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