João Ferreira Filho, morador antigo da Servidão Virgílio Izidoro Pedro, na Guarda do Cubatão, em Palhoça, viu quando, na tarde da terça-feira, dois jovens conhecidos passaram de bicicleta em direção à Rua Jacob Vilaim Filho, geral do bairro que acompanha o curso do Rio Cubatão.

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Segundo o relato de João, o franzino Leandro Berns, de 13 anos, estava na garupa, enquanto o outro adolescente, de 17, pedalava segurando uma sacola contendo uma garrafa plástica. Na cesta do guidon, ia um saco de papel.

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– Era pouco mais de cinco da tarde. Eles passaram duas vezes por mim, indo para o final da rua (a servidão onde moravam) e depois voltando para a geral do rio. Uma hora se passou e o outro voltou do rio sozinho na bicicleta – lembrou o morador.

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Leandro Berns foi encontrado por João e outros dois moradores do bairro na manhã de quarta, próximo a um trapiche do Rio Cubatão, a um quilômetro de distância da servidão onde morava. O Corpo de Bombeiros e a Polícia foram chamados em seguida.

Além do corpo com diversas perfurações (pelo menos 15 somente no peito), no local foi encontrado pela perícia um sanduíche pela metade, uma garrafa com conteúdo pelo meio e um fone de ouvido, que seria do próprio Leandro.

Dois lados de uma mesma tragédia

Leandro Berns era filho único da empregada doméstica Maristela e do pedreiro Francisco. Na tarde de terça, quando o vizinho João Ferreira Filho observou o vaivém da bicicleta, Maristela foi chamada na rua pelo suspeito do crime, depois do garoto voltar do rio.

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– Ele (o suspeito do crime) perguntou onde estava o Leandro e eu disse que devia estar brincando em algum lugar. Reparei que ele tinha manchas de sangue na roupa, mas não perguntei nada – contou a mãe à delegada que preside o inquérito, Marcela Goto, da Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCAMI) de Palhoça.

Outras quatro pessoas foram ouvidas na delegacia ainda na tarde desta quarta, incluindo um outro adolescente de 12 anos, o caseiro de um canil próximo ao local onde o corpo foi encontrado, o jovem que confessou o crime e a avó dele.

Na saída da delegacia, os dois lados da mesma tragédia se encontraram: Maristela cumprimentou a avó do garoto que confessou ter tirado a vida de seu filho.

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– Não sei por que ele fez isto. Eu conhecia ele, não era um estranho. Frequentava minha casa – disse a mãe de Leandro.

“Parecia que eu tinha saído do corpo”

Após ser encontrado pela Polícia Civil na casa da avó no início da tarde desta quarta, no Morro da Penitenciária, em Florianópolis, o adolescente de 17 anos confessou o crime na delegacia. Órfão de pai e mãe, o jovem vivia entre as duas residências de propriedade da avó, uma na Capital, outra em Palhoça.

Depois de cometer o crime, ele foi até a casa de Leandro e perguntou pelo vizinho à mãe, foi para casa, trocou de roupas e em seguida pegou um ônibus para Florianópolis, onde passou a noite.

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Em um depoimento confuso feito à delegada Marcela Goto, o jovem disse apenas que estava bebendo com Leandro, mas não sabia o motivo de ter feito o que fez.

– Ele contou que na hora parecia que ele tinha saído do próprio corpo e que outra pessoa estava dando as facadas em Leandro. A avó disse que ele estava em tratamento psicológico no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Florianópolis e que há dois anos parou de tomar a medicação – disse a delegada.

Em audiência no Fórum da Comarca de Palhoça, a Promotoria da Vara da Infância e Juventude decidiu ainda nesta quarta pela internação do rapaz em hospital psiquiátrico e até surgir uma vaga ele deve aguardar na Delegacia.

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Homenagens a Leandro

Na Escola Antonieta Silveira Souza, onde Leandro Berns estudava há dois anos, a manhã de quarta foi de tristeza. As aulas foram suspensas e os alunos dispensados. Segundo a secretária do colégio, Celina Oliveira da Silva, Leandro era um garoto tímido, introvertido, mas muito educado. Os pais estavam sempre presentes, acompanhando o desempenho do estudante do 7º ano. Durante a tarde, os estudantes que apareceram no colégio fizeram cartazes em homenagem ao ex-colega e pedindo mais segurança. O garoto franzino vai fazer falta na servidão onde costumava brincar.

– Eu tenho neto, tenho meus pequenos e sempre vi o Leandro brincando por aqui. Foi como se eu perdesse meu filho – disse o vizinho que o viu pela última vez, João Ferreira Filho.

O corpo de Leandro foi liberado do Instituto Médico Legal (IML) da Capital à noite e começou a ser velado por volta das 22h desta quarta. O enterro está marcado para a manhã desta quinta, em Águas Mornas.

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