Rebaixado para a Série D de 2019, o Joinville voltará a conviver com um fantasma que o assombrou há dez anos: o risco de ficar sem calendário no futebol nacional. Para isso acontecer, basta o JEC ir mal no Campeonato Catarinense e não ascender à Série C de 2020. E é justamente diante desta dificuldade que José Carlos Brunoro, especialista em gestão esportiva, recomenda que o Tricolor valorize muito o Estadual.

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— Acho que o grande objetivo do Joinville tem de ser o Campeonato Catarinense, que dá condições a ele de disputar a Série D. Não é a Série D. A Série D tem de ser encarada com naturalidade. O objetivo, na minha visão, é o Campeonato Catarinense, pelo menos neste momento até que as coisas se acalmem, se organizem, e a torcida tem que entender.

Brunoro esteve em Joinville para uma palestra em gestão esportiva promovida pela UniSociesc. Entre os presentes, estavam o presidente do JEC, Vilfred Schapitz, o presidente interino do conselho, Roberto Pugliese Júnior, além de outros quatro diretores do clube.

— É a primeira vez que venho dar palestra sobre futebol em alguma cidade e que vem o presidente me ouvir e a diretoria. Geralmente, eles mandam um representante. Fiquei bastante contente. Não estou aqui para ensinar ninguém. Mas a humildade é algo bacana e parabenizo a diretoria por isso — disse Brunoro.

O último trabalho do gestor foi no Goiás. Antes, passou pelo Palmeiras (onde foi CEO e gerente de futebol na era Parmalat). Ele também desenvolveu o trabalho de criação do Audax Rio e do Audax São Paulo, além de ter trabalhado no Desportivo Brasil.

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Embora tenha evitado falar do JEC — por não se achar conhecedor profundo do clube —, Brunoro sugeriu que o clube valorize a transparência das ações, desenvolva mais as categorias de base e tenha cuidado na administração das dívidas.

— Acho sempre que dívida você tem de honrar e pode negociar muita coisa. O importante nas questões de dívida é ter paciência, fazer com que as pessoas que tem a receber saibam que vão receber, e pensar muito no presente. Você tem que ter um orçamento bastante responsável com o presente.

Após o encontro, o presidente Vilfred Schapitz agradeceu as lições de Brunoro e afirmou que, apesar das dificuldades, a diretoria está disposta a aprender para recolocar o JEC entre os melhores.

Confira a entrevista completa abaixo

A diretoria do Joinville esteve em grande número na sua palestra. Já havia acontecido algo parecido em suas palestras? Brunoro – É a primeira vez que venho dar palestra sobre futebol em alguma cidade e que vem o presidente me ouvir e a diretoria. Geralmente, eles mandam um representante. Fiquei bastante contente. Não estou aqui para ensinar ninguém. Mas a humildade é algo bacana e parabenizo a diretoria por isso

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O JEC passou por sérios problemas financeiros. Como você administrou as dívidas nos clubes pelos quais passou? Brunoro – Acho sempre que dívida você tem de honrar e pode negociar muita coisa. O importante nas questões de dívida é ter paciência, fazer com que as pessoas que tem a receber saibam que vão receber, e pensar muito no presente. Você tem que ter um orçamento bastante responsável com o presente.

O Joinville corre o risco de ficar sem calendário se não ascender à Série C de 2020? Como montar um planejamento diante desta ameaça? Brunoro – Acho que o grande objetivo do Joinville tem de ser o Campeonato Catarinense, que dá condições a ele de disputar a Série D. Não é a Série D. A Série D tem de ser encarada com naturalidade. O objetivo, na minha visão, é o Campeonato Catarinense, pelo menos neste momento até que as coisas se acalmem, se organizem, e a torcida tem que entender.

Você falou bastante a respeito de transparência no futebol? Por que ela é tão importante na sua visão? Brunoro – É fundamental porque se você é transparente (mesmo que esta transparência não agrade), as pessoas te olham de outro jeito. O Palmeiras de 2014 foi um time que sofreu, sofreu muito financeiramente, mas nunca abri mão de dizer que não gastaríamos mais do que poderíamos. Estamos pensando no futuro. E foi isso que a gente passou, sofreu e a torcida sofreu junto, mas depois está vivendo uma maré muito boa.

E as categorias de base? Você desenvolveu um projeto no Audax a partir da base. O que pensa sobre ela? Brunoro – Eu sou suspeito para falar de base. Acho que o futebol brasileiro tem condições de ter uma base muito forte. Eu critico quando ouço alguém dizendo que perdemos um Mundial e precisamos imitar a Alemanha. Quem revela mais jogadores para o mundo hoje? A base do futebol brasileiro é muito boa. Que país do mundo tem Rodrygo, Pedrinho, Lucas Paquetá, Vinicius Júnior, tudo na mesma safra? Como a nossa base pode ser ruim? Ela é muito boa. Temos de entender que se fizermos um trabalho legal, nós vamos ter sempre este tipo de jogador. E eles vão render muita qualidade técnica e dinheiro.

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Você deixou o Goiás recentemente. Qual será seu próximo trabalho? Brunoro – Eu não sei ainda. Estou esperando para ver se aparece alguma coisa. No dia 13, estou indo para Portugal para ajudar um grupo de empresários. Empresários de empresa mesmo, não empresários de atletas, porque eles querem comprar um time. Fui procurado para avaliar se o time que eles querem comprar é adequado. Vou fazer um diagnóstico. Na volta, vamos ver o que acontece. Estou com vontade de continuar oferecendo planejamento estratégico aos clubes. Não sei se vou continuar no Goiás, mas tem outras possibilidades aí. Parado não vou ficar.