A Venezuela ingressa hoje no Mercosul, durante cerimônia em Brasília, trazendo para o bloco sul-americano seus quase 30 milhões de habitantes, petróleo para vender e a expectativa de muitos produtos por importar.

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Confira como ficou o mapa do Mercosul

Uma lógica que parece simples, porém, traz outro elemento, citado pela diplomacia brasileira e, segundo alguns, bastante perturbador: a Venezuela traz também seu presidente, Hugo Chávez, e as polêmicas que suscita.

O secretário-executivo do Ministério de Desenvolvimento, Alessandro Teixeira, ignora as ponderações e, adiantando que a Venezuela terá de se adaptar a requisitos institucionais e tributários do bloco (são quatro passos para a adesão, até 2016), diz:

– Será ótimo. A Venezuela importa 70% do que consome, abre um grande mercado. É rica em petróleo. O Mercosul será a quinta ou quarta maior economia do mundo. E poderemos acessar o Caribe, que importa produtos industrializados.

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De pacífico, há a certeza de que a Venezuela é bem-vinda, com o alastramento do bloco pela América do Sul – a questão é Chávez. Marcos Azambuja, embaixador do Brasil na Argentina de 1992 a 1997, pondera:

– A Venezuela é democrática, mas com falhas. Tem os problemas das minorias, da alternância no poder. Democracia não é só ter maioria, mas ter respeito pela liberdade de imprensa.

Saindo do mérito e indo para a forma, Azambuja também diz que o Brasil “se aproveitou da situação do Paraguai (que foi suspenso do bloco devido ao impeachment do presidente Fernando Lugo e não votou)”.

Azambuja ingressa no terreno na política externa. Critica Chávez por ser “tão pró-Irã”:

– Ele tem comportamento desequilibrado.

Outro embaixador, Rubens Barbosa, faz discurso semelhante:

– A questão política é complicada. Um dos pontos é Israel, com quem a Venezuela não tem relações. E tem a maneira como a Venezuela entrou no Mercosul, com o mesmo rito sumário com que o Paraguai foi suspenso – diz.

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Teixeira assegura que não há ressalvas.

– A Venezuela terá de ratificar os acordos do Mercosul, e aí se incluem Israel, Chile e Colômbia – afirma.

Empresários paraguaios falam em mudar status

A Venezuela ingressa oficialmente em 13 de agosto e deve ter os primeiros produtos com a Tarifa Externa Comum (TEC) em janeiro. Enquanto isso, no Paraguai, o novo governo prefere postergar a discussão sobre o status do país no bloco – o presidente Federico Franco tem apenas 14 meses de mandato. Os exportadores já defendem que o país considere se tornar membro associado e se “desprenda” de obrigações como a TEC.

– O Mercosul está expulsando seu membro mais pobre. Temos de analisar se vale a pena continuar como membro pleno ou se é melhor ser só associado. Seria interessante negociar com outros países, asiáticos (como a China) e norte-americanos. Poderíamos exportar soja e carne – cogita Sebastián Morassi, presidente da Câmara Paraguaia de Exportadores.