O bastão passou de um conterrâneo para outro, de um colorado para outro. Ricardo Schaefer, que substituiu Alessandro Teixeira no cargo de secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, posto que equivale ao de ministro substituto, tem missão bem espinhosa pela frente. Tentar recuperar a queda nas exportações, incentivar o avanço em novos mercados, enfrentar a China e estudar medidas para reativar a cambaleante economia, o que, avalia, virá com política forte de investimentos puxada pela União.

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Para enfrentar o desafio que é fazer as companhias do Brasil ampliarem seus negócios no comércio internacional, apesar do “hostil” mundo atual, o economista porto-alegrense, 45 anos, prepara-se como pode. A preparação vem de exercícios regulares de natação, pilates e musculação, debates e missões internacionais, como uma a Cuba, para facilitar o acesso de companhias nacionais ao polo de biomedicamentos daquele país.

Zero Hora – Mesmo com a alta do dólar, as exportações têm enfrentado percalços. O governo estuda novo apoio ao exportador?

Ricardo Schaefer – A alta do dólar, que desvalorizou o real em 10%, obviamente traz mais fôlego para a indústria brasileira competir no Exterior, já que o câmbio de antes atrapalhava a colocação de produtos no mercado externo. É uma ajuda muito boa para os exportadores, mas, por si só, não é suficiente. Precisamos também trabalhar com mais afinco na promoção dos produtos no Exterior e encontrar novos mercados. Atuaremos para recuperar a balança com programa de manufaturados.

ZH – Para deixar de exportar commodities?

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Schaefer – O Brasil tem 18 acordos internacionais. Queremos promover exportações em espaços que abrimos a partir desses acordos, com preferências tarifárias.

ZH- É viável recuperar o Mercosul?

Schaefer – Com certeza. Temos de olhar a importância do Mercosul para o Brasil. Nos últimos 20 anos, o comércio do país com o bloco cresceu 17 vezes, as exportações nacionais para o mundo, sete vezes, e o comércio mundial, cinco. E a importância para o Brasil é que houve um grande crescimento na venda de manufaturados, 90% do total para o Mercosul. O mundo está se tornando mais hostil ao comércio internacional. As barreiras são muito fortes.

ZH – E o país é acusado de protecionista.

Schaefer – Em Genebra, saímos tranquilos de debate sobre o mecanismo de revisão da política comercial. Entenderam que não são protecionistas, mas de defesa das boas práticas do comércio internacional. Não fazemos políticas como a China, nem como as da UE e dos EUA, que levaram o câmbio para baixo e asseguram competitividade violenta de suas exportações.

ZH – Por que o Brasil não avança e tem menos de 2% dos negócios no mundo?

Schaefer – O mundo se tornou mais complicado nas duas últimas décadas. A gente não imaginava que a China fosse viver um processo de transferência de indústrias de manufatura para a Ásia de tal maneira como aconteceu. E inundando o mercado mundial com manufatura, o que afetou o Brasil. O país deve ocupar os espaços comerciais já conseguidos com os acordos, além de trabalhar de maneira mais intensa com outros mercados, como o africano.

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ZH – A China é o parceiro que mais preocupa?

Schaefer – Preocupa muito na América Latina e na África. A competição é difícil com eles. Os EUA não cresceram suas exportações para o mercado latino-americano. Quem cresceu foi a China, que investe em inovação, marca e aumenta o conteúdo tecnológico das exportações.

ZH – O governo estuda medida para socorrer a economia em crise?

Schaefer – Com o plano Brasil Maior, tivemos agenda forte que envolveu desoneração de folha, custo do trabalho e do capital, redução das tarifas de energia e do juro. Ao lado delas, mais medidas para 19 setores, que estão sendo alvo de balanço para avaliarmos o que fazer até o fim do mandato. O espaço fiscal para novas desonerações cai um pouco pela inflação, apesar de estar em tendência declinante. Mas teremos notícias muito boas com concessões dos serviços logísticos, que nos impulsionarão fortemente e reduzirão custos, e a facilitação do comércio exterior por meio da modernização da legislação.

ZH – As medidas não deveriam ser mais ágeis diante da fraqueza da economia?

Schaefer – Desde 2011, a gente vem trabalhando de forma muito acelerada e enfrentando questões que não se imaginava. E tivemos a crise de 2008, que não nos ajudou. Imagino como estaríamos se não tivéssemos trabalhado fortemente e com agilidade. A nossa situação seria gravíssima. Mas vale lembrar que o desemprego é muito baixo e a renda ainda está em alta.

ZH – Mas a política baseada no consumo, com desemprego baixo e renda em alta, parece ter se esgotado.

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Schaefer – Por isso, temos toda uma política forte de investimentos. Nas obras de infraestrutura do PAC, inovamos ao colocar política de compras públicas, ajuda a incentivar a indústria, são medidas fortes. Não à toa ainda temos boa taxa de emprego. Mas é claro que precisamos de novos investimentos. Por isso, houve o marco regulatório dos portos, as concessões.