A Via Aurelia é um dos acessos seculares a Roma. Por ela, as tropas de Napoleão cavalgaram rumo à tomada da Cidade Eterna. Hoje, no número 527 da moderna avenida, apinhada de carros e ônibus do frenético trânsito romano, fica o Colégio Pio-Brasileiro, uma espécie de hospedaria da elite do clero do Brasil.
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Depois da representação diplomática na Santa Sé, o Pio-Brasileiro é o endereço de maior influência do Brasil no Vaticano. É uma sede diplomática informal. Por seus simples dormitórios e longos corredores, moram padres que um dia formarão a nata da Igreja Católica brasileira – serão bispos, teólogos influentes, cardeais… Para se ter uma ideia, dos cinco cardeais com direito a voto no próximo conclave, três ficarão hospedados aqui: dom Geraldo Majella Agnelo, que já está em seu aposento no segundo andar do edifício da Via Aurelia, dom Raimundo Damasceno, presidente da CNBB, e o gaúcho dom Odilo Scherer, visto como um dos “papabiles” em várias listas de apostas europeias para ser o sucessor de Bento XVI. Apenas dom João Braz de Aviz, catarinense, que mora em Roma, e dom Cláudio Hummes, gaúcho de Montenegro, ficarão fora do Pio-Brasileiro. Dom João Braz mora em Roma e dom Cláudio ficará hospedado com os franciscanos, congregação à qual pertence.
Entre os moradores do colégio, está Antonio Augusto Brum Hofmeister, 40 anos, ex-pároco da Igreja Nossa Senhora das Dores, no centro de Porto Alegre. Sorriso franco, boa gente, o padre faz mestrado em história da Igreja, em Roma. Hoje, enquanto o mundo estará olhando para o Vaticano, Antonio será o motorista dos cardeais no trajeto de sete minutos entre o Colégio Pio-Brasileiro e a Praça de São Pedro, local da despedida de Bento XVI. O religioso esteve com o Papa na quinta-feira, dois dias depois da renúncia, em um encontro reservado com os padres da Diocese de Roma. O gaúcho do bairro Rio Branco, em Porto Alegre, ajudou na distribuição da hóstia durante a missa.
– Na ocasião, ele falou por uma hora. Sem ler. Era impressionante, porque ele não tinha nenhum papel – lembra o padre Antonio, uma impressão que ilustra o quanto o Papa, apesar dos 85 anos, permanece com memória impecável.
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O religioso descarta comparações com João Paulo II, que agonizou em praça pública e cumpriu até o fim seu pontificado, morrendo aos 85 anos.
– João Paulo julgou que aquele sofrimento era um testemunho importante para o mundo – lembra o padre.