O empresário catarinense Jaimes Almeida Junior recomprou o 50% de capital da Almeida Junior vendido em 2011 ao gigante australiano Westfield, firmada em agosto de 2011 para buscar a liderança do setor no Brasil. A meta do empresário agora é investir R$ 400 milhões em dois anos e o próximo projeto deve sair do papel ainda este ano, no Rio Grande do Sul.

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Diário Catarinense – Por que a decisão de encerrar a joint venture?

Jaimes Almeida Junior – A joint venture foi encerrada num espírito muito positivo e o motivo dessa decisão foi a mudança estratégica das duas empresas. A Westfield é uma companhia global, com negócios em quatro países. Como a participação dela no Brasil era muito pequena, o grupo privilegiou as estratégias globais. Com isto, achamos por bem, do nosso lado, ficarmos sós e darmos continuidade ao nosso projeto de crescimento. Isto não impede, no médio prazo, de até fazermos negócios em conjunto. Esse encerramento não foi problema de relacionamento e nenhum outro que não uma mudança estratégica por parte deles, o que afetou o projeto original que tínhamos.

DC – O que mudou na estratégia?

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Jaimes – Quando formamos a joint venture, definimos a continuidade em investimentos em shopping centers de 40 a 60 mil metros de ABL em todo o mercado, Sul, Sudeste e até no Nordeste. Como o conselho da Westfield decidiu focar somente em grandes mercados, limitou o nosso programa anterior. Ele optou por isto também na Austrália, EUA e Inglaterra. Vai investir somente em Icons Malls (shoppings gigantes). Eu não concordo com isto. Acho que devemos seguir o modelo brasileiro, com shoppings de muita qualidade, como estamos fazendo. Por isso chegamos a um acordo positivo para ambas as partes.

DC – O senhor recomprou 50% das ações. Como e quando foi o negócio?

Jaimes – Começamos a tratar do fim da parceria em outubro do ano passado. Eu assinei a recompra de 50% do grupo hoje (ontem) ao meio-dia, num escritório de advocacia. Já paguei totalmente, estou com 100% das ações quitadas, mas não posso revelar o valor. Isto faz parte do acordo. Só revelei, em 2011, por quanto vendi 50%, que foi por US$ 438 milhões, na época o equivalente a R$ 760 milhões.

DC – Como foi a sensação de comprar a participação de uma gigante mundial?

Jaimes – Foi muito melhor do que ter vendido porque isto é contra a natureza. O normal é vender a participação para um gigante, tanto a primeira parte quanto a segunda parte. No nosso caso, nós compramos a participação de uma gigante. Foi um negócio sem briga. Isso mostra a nossa capacidade de fazer uma articulação bacana.

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DC – Quanto a Almeida Junior pretende investir este ano?

Jaimes – Para este ano, alocamos para Balneário Camboriú R$ 150 milhões e temos mais R$ 250 milhões para um novo shopping. Nossa expectativa é, entre o segundo semestre deste ano e o primeiro do ano que vem, ter em curso R$ 400 milhões de investimentos.

DC – Quais são os planos para Santa Catarina?

Jaimes – Este ano, estamos fazendo a duplicação do Balneário Camboriú Shopping. Mas acho que SC tem três cidades que devemos estudar: Chapecó, Criciúma e Jaraguá do Sul. Acho que fechar o Estado é uma condição importante para nos diferenciar dos demais. Nenhuma companhia detém, como nós, market share de 58% do mercado de um estado. Somos a única empresa do Brasil com esse diferencial e estamos em SC, que é um estado rico.

DC – E para o Rio Grande do Sul, quais são os planos?

Jaimes – Vamos avaliar oportunidades em cidades que tenham uma região com pelo menos dois milhões de habitantes. Temos, no Rio Grande do Sul, cerca de cinco mercados, contemplando Porto Alegre, a Grande Porto Alegre e Caxias. Como temos uma plataforma forte em Santa Catarina, a gente entende que ter uma plataforma forte no RS é importante. São dois estados que têm uma relação muito boa. Podemos fazer um intercâmbio importante de lojistas catarinenses para o Rio Grande e, do Rio Grande para SC.

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DC – Qual é a meta da empresa para os próximos anos?

Jaimes – Eu quero repetir, em cinco anos, o que fizemos nos últimos cinco. Vamos duplicar a empresa. Por isso, estamos avaliando também projetos em São Paulo e no Paraná. As cidades de Curitiba, Londrina e Maringá são os principais centros paranaenses. Eventualmente, Ponta Grossa e Maringá também podem ser incluídas. Eu vou ficar à frente do desenvolvimento. Estou muito otimista porque agora posso voltar a impor o meu ritmo.

DC – A Almeida Junior seguirá sozinha ou buscará um novo sócio?

Jaimes – Nós temos capacidade de continuar crescendo com o nosso capital e crédito, mas acho saudável abrir capital, o que pretendemos fazer em cerca de dois anos. Nosso objetivo é fazer um IPO (oferta inicial de ações), colocando para o mercado cerca de 20% a 30% do capital.

DC – Quanto o grupo lucrou ano passado e como foram as vendas?

Jaimes – No ano passado, tivemos lucro de R$ 111 milhões. Nossas vendas, nas mesmas lojas, cresceram 28%, bem acima do varejo em geral. Nós acionamos ao grupo quase 200 lojas, mas as mesmas lojas tiveram um crescimento fantástico. Os dois shoppings que mais cresceram foram o Garten e o Blumenau Norte Shopping.

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DC – Quais foram os resultados da sociedade com a Westfield?

Jaimes – Esses 20 meses de joint venture trouxeram para a gente um conhecimento global super importante que não tínhamos. Hoje temos um nível de relacionamento muito rico com lojistas do mundo inteiro, com outros empreendedores, conhecemos projetos no exterior de diversos grupos e isso nos permitiu melhorar os nossos shoppings. Nós lançamos o Continente em maio de 2011 e a joint venture foi constituída em agosto daquele ano. Então, o que nós recebemos com essa sociedade, só para a frente poderíamos ter um resultado prático. Mas, para nós, essa parceria trouxe uma injeção global de conhecimento, práticas mais modernas, em mercados mais maduros, onde há competitividade maior. Quem vai ganhar com isto são nossos shoppings. Em mercado maduro, não existe espaço para um novo shopping, quando é lançado um novo projeto, ele só cresce tirando mercado dos demais, em operação. A gente aprendeu como é dura a vida lá fora. Os projetos de lá são desenvolvidos para colher 20, 30 ou 100 anos à frente. Aqui, fazemos um shopping em 18 meses, 24 meses. Lá fora, demora muitos anos.

DC – Os australianos vão continuar investindo no Brasil?

Jaimes – Eles vão continuar avaliando oportunidades no Brasil para fazer grandes projetos. Eles têm competentes executivos que trabalharam conosco e vão continuar avaliando. Eles têm um projeto em São Paulo que, inicialmente me deixou animado, mas depois eu fiquei preocupado em colocar todos os ovos na mesma cesta. Achei que não era adequado. Acho que o Brasil tem oportunidades muito boas em diversos mercados.

DC – Como foi o relacionamento com os australianos?

Jaimes – Há um desafio cultural e de trabalho. O desafio cultural não foi problema e eu me adaptei muito rapidamente. Até me admirei porque eu nunca tive um sócio e ainda mais gringo. Durante o dia eu era empregado, me reportava ao board como um CEO estatutário. Eu aprendi, sofri um pouco no início. Foi bom, foi rico, estudei, aprimorei língua, cultura, conhecimento, o fato de ter que dividir questões importantes da empresa. Tudo isso foi muito rico. Hoje, a empresa está muito mais moderna, mais preparada. Eles ganharam o conhecimento do mercado brasileiro, a relação entre empreendedor e lojista e como funciona um shopping no Brasil.

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DC – O senhor esperava mais projetos nesse período da joint venture?

Jaimes – Se não fosse a mudança estratégica deles nós iríamos crescer. Mas era preciso esperar que os executivos que vieram para o Brasil conhecessem e se adaptassem à cultura local.