Na entrada do Parque Botânico do Morro do Baú, em Ilhota, uma árvore se destaca. De origem oriental, a ginkgo biloba simboliza resistência às bombas atômicas que devastaram o Japão na década de 1940. No Baú, a presença de um exemplar da planta também lembra sofrimento. E recuperação.

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O morro ficou marcado como epicentro da tragédia que matou 135 pessoas e deixou outras duas desaparecidas em Santa Catarina em novembro de 2008. Mas as cicatrizes, essas ficarão para sempre, dividindo a história em dois períodos: antes e depois de novembro de 2008.

Quatro anos depois de ser tomada por uma avalanche de lama, após 400 milímetros de chuva em dois dias, a área de 750 hectares que é de responsabilidade do Herbário Barbosa Rodrigues continua da forma que a natureza deixou. À unidade, só restou a presença de usuários de drogas, caçadores e ladrões de palmito.

– Desde 2008, o parque está abandonado. Estive aqui há dois anos e ainda havia um portão de acesso. Hoje, nem isso tem mais – lamenta o presidente da Associação Catarinense de Preservação da Natureza (Acaprena), Leocarlos Sieves.

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>> Veja fotos da subida ao Morro do Baú.

O abandono se reproduz nas comunidades vizinhas ao morro. Membro da Associação dos Desabrigados e Atingidos da Região dos Baús, João Alves luta há quatro anos para que as áreas onde houve deslizamentos sejam revistas pela prefeitura e novos estudos mostrem a atual situação dos morros.

Mudanças em vidas e no ambiente

A casa de Onélia Alves, 76, ainda mantém o sinal do barro que atingiu a residência. Os abalos na casa, Onélia conseguiu repor depois de quatro anos, o que ela não recuperará são os netos e o bisneto que morreram soterrados:

– Não há nada que tire essa dor. Só com a morte vou esquecer o que aconteceu – emociona-se.

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Grande parte das pessoas que moravam nas áreas do Baú atingidas pela tragédia foi embora para outras cidades. Luiz Carlos Hostim, filho de Maury Hostim, foi um deles. Mudou-se para Rodeio depois que perdeu dois filhos em um desabamento em que morreram outras três pessoas.

A trilha que leva ao pico do Morro do Baú teve sérios danos em novembro de 2008. Quatro deslizamentos de grandes proporções mudaram o perfil do local. Dois atingiram o caminho usado por visitantes para chegar ao alto da unidade de conservação, de onde é possível enxergar cidades da região e as praias do Litoral Centro-Norte.

– A estrada para subir o morro é muito bem desenhada, mas depois de 2008 o abandono é assustador. O que precisaria aqui é de quatro homens para reabrir o caminho e refazer a trilha – opina o biólogo e mestre em Ecologia, Lauro Bacca.

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Para o especialista, a recuperação da natureza na unidade só deve ocorrer por completo entre 50 e 100 anos.

>> Na edição impressa do Santa desta quinta-feira confira a reportagem especial sobre o Morro do Baú.