Para muita gente pode parecer surpresa a ascensão de Itajaí nos Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc). A conquista do título geral neste ano, com uma pontuação expressiva (mesmo com um dia de competição pela frente ainda), talvez tenha causado essa mistura de espanto e admiração. Mas quando você conversa com os dirigentes da cidade, o assunto para eles é algo natural. Fruto de uma palavra que está cada vez mais em evidência no esporte: planejamento.

Continua depois da publicidade

– Nós fomos vice-campeões nas últimas duas edições. No ano passado, com nove modalidades a menos, fomos ultrapassados por Blumenau só nos últimos dias. Então não é algo que veio por acaso, já estamos trabalhando nisso há muito tempo – disse Álvaro Provesi, coordenador técnico da Fundação Municipal de Esporte e Lazer de Itajaí (FMEL).

Para Provesi, o legado maior para a cidade será justamente o de se criar uma cultura de prática esportiva, especialmente para as crianças. E é mais fácil de se fazer isso quando os resultados aparecem, é claro.

– A gente quer que as pessoas tenham essa consciência da importância da atividade física. Com uma estrutura melhor, a gente acredita que haverá aumento na procura pelas modalidades – afirmou.

A reportagem conversou com alguns dirigentes e treinadores para repercutir esses resultados. Veja abaixo os principais tópicos das conversas.

Continua depois da publicidade

Competições de base

Além dos Jasc, Santa Catarina tem outras competições parecidas, mas voltadas para categorias menores. As principais são Olesc, para atletas até 16 anos, e Joguinhos Abertos, com idade máxima de 18 anos. Nos dois últimos anos (2012 e 2013), Itajaí terminou em quarto lugar nas duas competições e deve brigar pelo título dos Joguinhos já no ano que vem, quando recebe a competição.

– A gente fala no investimento nos Jasc, mas tem todo um trabalho que se reflete lá atrás, que começa nas escolinhas e chega nessas competições – disse Provesi.

Reativando modalidades

O investimento que começou há três anos trouxe um legado diferente. Modalidades que estavam esquecidas foram reativadas e agora começam a caminhar com as próprias pernas. Provesi citou o exemplo o punhobol, que teve uma equipe com atletas de fora (inclusive um suíço) mescalada com ex-jogadores da cidade.

Um caso emblemático é o do vôlei feminino. Segundo o técnico Fábio Heusi, Itajaí ficou sete anos sem nenhuma equipe e sequer com escolinhas da modalidade. E o trabalho que reiniciou em 2012 já rendeu um quarto lugar nos Jasc.

Continua depois da publicidade

– Foi um resultado histórico para a gente. Acredito que se o investimento for mantido, temos chance de ir mais longe – afirmou.

O público está de volta

Diz a máxima que todo mundo quer ver o time que está ganhando. Por isso, quando Itajaí estava disputando algo nesses Jogos Abertos, o torcedor deu um jeito de prestigiar. Quem confirma isso é o técnico do handebol feminino, Norton Cordini.

– Até conversamos com os outros treinadores e todos disseram que perceberam esse aumento do público nas arquibancadas. Isso ajuda muito, incentiva e traz mais gente para praticar esporte, especialmente as crianças – conta.

A polêmica dos ‘importados’

Talvez a pergunta mais respondida pelos dirigentes de Itajaí tenha sido sobre os atletas contratados somente para o Jasc. E a resposta mais repetida também foi a de que “era minoria” e “outros municípios fazem na mesma proporção”. Mas como tirar proveito disso? Justamente usando a referência desse atleta de ponta como aprendizado, especialmente para quem está começando.

Continua depois da publicidade

– Em algumas modalidades era inevitável a contratação. Mas a gente sabe que eles servem de espelho para as crianças que querem começar algum esporte – acredita Provesi.

A infraestrutura

Praticamente todos os locais de competição receberam algum tipo de melhoria. Mas os investimentos se concentraram em cinco pontos específicos. No Parque do Agricultor, foram construídas novas canchas de bocha, com padrão elevado e que podem receber competições nacionais. No bairro Ressacada, foi montada a pista de BMX e, ao lado, na pista de atletismo, a arquibancada recebeu cobertura. Além disso, houve reformas nos ginásios Ivo Silveira, no bairro Fazenda, e Gabriel Collares, na Vila Operária. O investimento total foi de R$ 1,6 milhão.

Aumento no repasse

Itajaí chegou a esse ponto graças a uma meta, um planejamento traçado desde 2012, quando o aumento no orçamento do esporte mostrou que a cidade tinha mais pretensões do que apenas sediar a competição e montar um palco para os outros comemorarem.

Ajuda o fato de hoje Itajaí ser uma das cidades mais ricas do Estado. Números divulgados em 2013 apontam que a cidade do Litoral só perde para Joinville em arrecadação – R$ 18,8 bilhões contra R$ 18,6 bilhões. Consequentemente, pode se dizer que tem mais de onde tirar. Como o orçamento da FMEL foi de R$ 13 milhões, pode se dizer que o investimento do esporte não chega a 1% da renda da cidade.

Continua depois da publicidade