É sob forte medicação e com nova aparência que ressurge a melhor franquia do cinema de ação da última década. O Legado Bourne, em cartaz a partir desta sexta feira, promove outra frenética correria global de um superagente que se torna alvo de uma complexa e movediça rede de conspirações e assassinatos patrocinados por projetos ultrassecretos do governo americano.
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Os três filmes estrelados por Matt Damon no papel de Jason Bourne – A Identidade Bourne (2002), A Supremacia Bourne (2004) e O Ultimato Bourne (2007) -estabeleceram um novo parâmetro de qualidade, narrativa e ambição nos thrillers de espionagem. Tanto que seus efeitos foram perceptíveis na repaginação de outro JB, o clássico James Bond.
Damon não quis dar continuidade à série. O diretor Paul Greengrass, que assina os dois últimos títulos da franquia, também desistiu, e a sequência caiu nas mãos de Tony Gilroy, roteirista de todos os filmes. A opção deste por um novo arco na trama foi a mais acertada para manter tudo nos trilhos. Mas é recomendável ver antes os capítulos anteriores, pois a coisa toda está amarrada com citações de episódios passados e participação de personagens secundários destes – e é um tanto confusa mesmo aos mais familiarizados com essa gincana mortal.
O novo protagonista é Aaron Cross, vivido por Jeremy Renner, cobaia de uma experiência secreta que une os braços militar e científico do governo dos EUA. O objetivo é um projeto ainda mais sofisticado do que aquele que fez de Jason Bourne uma máquina de matar. Por conta de manipulação genética em seu organismo, Cross foi transformado numa espécie de super-homem: mais forte, mais resistente e mais inteligente. Mas ele depende dos medicamentos que lhe garantem preservar esses atributos aguçados.
Com o espectro de Bourne rondando os altos escalões e ameaçando tornar público esse projeto, Washington decide abortá-lo, eliminando todas as provas, numa operação comandada por um coronel linha dura (Edward Norton), para quem o vale-tudo patriótico é regido pelo lema: “Fazer o que é moralmente inaceitável mas absolutamente necessário”.
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Se o que movia o desmemoriado Bourne era a busca por sua verdadeira identidade e, depois, o desejo de vingança, o que guia Cross é o primal instinto de sobrevivência. No rastro de assassinatos, sobraram apenas ele e uma cientista envolvida no projeto (Rachel Weisz). Sem ter mais as pílulas de que necessita, ele e a parceira de fuga buscam a “cura” em um laboratório de Manila, nas Filipinas, cenário das mais espetaculares sequências do filme.
Renner não tem o carisma de Damon, e Gilroy, embora tenha mostrado talento atrás da câmera no thriller corporativo Conduta de Risco, carece da habilidade narrativa de Greengrass – no recorrente flerte com o cinema documental e na precisão do ritmo de tensão, ele fez dos dois filmes anteriores obras de referência no gênero. Sem o mesmo status, O Legado Bourne assume o bastão da franquia com competência e acena que pode manter acelerado o pique da correria por entre os mais nebulosos e sórdidos escaninhos do poder global.