A franquia Bourne reúne 10 livros, quatro filmes, um videogame e uma série especial de dois capítulos para a rede americana ABC. Por enquanto. Todos levam no título o sobrenome de Jason Bourne, o agente criado pelo escritor americano Robert Ludlum. Mas no filme O Legado Bourne, que estreia hoje nos cinemas do Estado, o agente não dá as caras durante os 135 minutos de exibição, exceto num único instante.
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É quando aparece uma foto de Bourne, interpretado por Matt Damon nos três primeiros filmes. Para driblar a ausência do personagem que é a razão de ser da franquia, Tony Gilroy, principal roteirista dos filmes e, desta vez, também ocupando a cadeira de diretor, e seu irmão Dan, co-roteirista, bolaram a ideia de ampliar a conspiração governamental e criar um novo agente, Aaron Cross (Jeremy Renner, de Guerra ao Terror).
Grande parte da primeira meia hora do filme é usada na transição dos personagens principais. Fora do cinema, a mudança é mais fácil de entender: Damon desistiu do projeto depois que Paul Greengrass, diretor dos dois últimos filmes da trilogia (A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne), também pulou fora. Mesmo sem os dois, a Universal decidiu seguir adiante, e os irmãos Gilroy aceitaram o desafio de amarrar as histórias.
Aaron Cross faz parte de uma unidade especial semelhante a que Bourne estava inserido. Cross está em treinamento no Alasca quando fatos ocorridos em O Ultimato Bourne – que transcorre simultaneamente a O Legado – o levam à ação. Cross toma medicamentos que potencializam sua destreza física e mental, mas perde seu lote de comprimidos. Em busca da sobrevivência, vai às Filipinas.
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No caminho encontra a pesquisadora Marta Shearing (Rachel Weisz). Enquanto isso, o conspirador-mor Eric Byer (Edward Norton) aciona todos os recursos de vigilância para localizá-los. No fim, uma certeza: a franquia terá pelo menos mais um capítulo. Resta saber quando e se Bourne dará as caras.
::: Opinião DC
Na confusão de diálogos que marca o início de O Legado Bourne, alguém reclama que Jason Bourne lhe fez perder a noção do que é – e do que não é – possível. É a melhor frase de uma trama que torna possível até a ausência do personagem principal. Só não dá para dizer que o filme está no mesmo nível dos três primeiros. Também não dá para esquecer que o estúdio considerou faturar com a marca Bourne mesmo sem entregar Bourne algum. Isso somado ao esforço que se faz para amarrar as tramas prejudicam o andamento do filme. Jeremy Renner, Rachel Weisz e Edward Norton não comprometem, mas são assombrados pelo fantasma de Jason Bourne. Tony Gilroy busca seguir o molde dos outros filmes da série, com edição frenética de cenas de ação e câmeras que parecem espreitar os atores. No fim, a solução encontrada para justificar a troca de personagens torna possível não só um agente parecido com Bourne, como tantos quantos forem necessários para estender a série infinitamente.
::: Entrevista
O ator Edward Norton é o coronel reformado Byer em O Legado Bourne, dirigido por Tony Gilroy, autor dos roteiros dos filmes anteriores, A Identidade Bourne, A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne, todos inspirados no universo criado pelo escritor Robert Ludlum. Norton não gosta de chamar seu personagem de vilão, preferindo dizer que ele é, ao lado do agente Aaron Cross (Jeremy Renner) e da cientista Marta Shearing (Rachel Weisz), uma peça do intrincado e moralmente complexo quebra-cabeça que envolve o governo, corporações e cientistas. O ator falou sobre o filme e também sobre uma minissérie que ele está produzindo com Brad Pitt para a televisão.
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Você era fã dos outros filmes da série Bourne?
Edward Norton: Sim, sempre achei que eles eram inteligentes e dotados de um certo realismo.
Quais são as diferenças de O Legado Bourne em relação aos filmes Bourne anteriores? Você teve que voltar a eles?
EN: A grande qualidade é que existe consistência, já que Tony Gilroy foi roteirista dos outros filmes e chegou à direção neste. Os filmes Bourne têm um apelo para os teóricos da conspiração que existem em cada um de nós. O que torna este tão diferente é a maneira com a qual Tony (roteirista/diretor), em vez de tentar recomeçar, abre o escopo e faz você se dar conta de que os primeiros filmes eram como pétalas de uma flor. Agora a flor está desabrochando e você começa a ver todo o universo ao qual ela pertence. Tony está ampliando a história em vez de tentar começar de novo. Agora, está abrangendo o governo e começando a incluir as corporações na teia de corrupção e conspiração. É um caminho muito interessante para se trilhar.
Você disse em entrevistas que geralmente gosta de filmes que refletem o zeitgeist e tratam do que acontece no mundo. O Legado Bourne cabe nesse raciocínio?
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EN: Na maioria dos filmes de Tony, acho que existe uma investigação do jeito como o mundo das corporações está começando a controlar e invadir nossas vidas. Ele já fez isso examinando a legislação, fez isso examinando marcas rivais e agora está examinando o mundo da inteligência. Acho que esse tema é muito atual.
O filme também toca na questão das experiências científicas que nem sempre dão certo. Você pode falar sobre isso?
EN: Sim, acho que essa é uma das questões sobre as quais Tony falou: “Não fale sobre isso!” (risos). Este filme trata muito das parcerias que existem entre o governo, as corporações e a ciência. Fala de como essas coisas ficaram entrelaçadas e como às vezes isso acaba criando uma zona cinzenta moral.
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Em O Legado Bourne, você é o vilão, certo?
EN: Eu diria que tanto Aaron Cross (Jeremy Renner), como Marta (Rachel Weisz) e Byer, meu personagem, fizeram escolhas e tomaram decisões que têm muitas concessões incutidas.
Você se ausentou dos filmes por um tempo. Estava destinando seu tempo a buscar outros interesses como questões ambientais e o teatro?
EN: Estava construindo um teatro em Nova Iorque, mas fiz dois filmes no ano passado. Normalmente não faço mais de dois filmes por ano. Também estava escrevendo e minha empresa está produzindo alguns filmes. Fiquei quase um ano inteiro escrevendo uma minissérie para a HBO (Undaunted Courage) e um roteiro de filme.
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O processo de feitura de uma minissérie de TV é parecido com o de um filme?
EN: Foi um longo processo de desenvolvimento dessa séries. Não sabemos quando vamos filmá-la. Sempre faço muitas coisas ao mesmo tempo porque você nunca sabe qual vai se concretizar logo.
Com esse hábito de se envolver em tantas coisas diferentes, você tira férias?
EN: Estou envolvido em várias coisas. Tenho outras empresas e outros objetivos. As coisas se atropelam, mas geralmente encontro um jeito de equilibrar tudo.