José Afonso Moura, 59 anos, foi o primeiro hippie a estender um pano sob a sombra de uma figueira na rua do Príncipe para comercializar artesanato, no final da década de 1960. Mais conhecido como Joe, o joinvilense precisou enfrentar os olhares de uma sociedade conservadora que não estava acostumada com aquele modo de vida.

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– Um dia, uma mulher passou por mim e cuspiu – lembra o artesão.

Desde jovem, ele sentia que era diferente das outras pessoas.

– Eu lia muitas obras de filósofos e sempre me perguntava o porquê da vida -, confidencia.

Sem estar contente com o emprego de bancário, aos 17 anos, Joe resolveu sair de casa, escapando da pressão dos pais, que queriam que ele seguisse uma carreira formal, como outros jovens. Na ida para Porto Alegre, o artesão descobriu que havia outras pessoas que pensavam da mesma forma.

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– Antes disso, eu era um cabeludo solitário – ri.

Durante o ano em que morou na capital gaúcha, Joe aprendeu a ganhar a vida com o artesanato. Apesar de não concordar com o estilo de vida da maioria, que só estava preocupada em ganhar dinheiro para conseguir status, ele argumenta que todo hippie precisa sobreviver.

– Não adiantava criticar o sistema e ser um parasita dele – opina.

O cara de calça boca-de-sino e cabelo black power retornou a Joinville e acompanhou desde o início o movimento de artesãos na cidade, quando a rua do Príncipe abrigava uma das feiras de artesanato mais organizadas do Sul do País.

Joe foi um dos fundadores da Associação Joinvilense dos Artesãos (Ajart), mas hoje retornou à independência de quando começou o ofício.

– Todo grupo que você organiza no começo é uma maravilha, depois aparecem os problemas, porque cada um pensa de forma diferente. Por isso, não acredito em entidades. Depois que a feira foi retirada da rua do Príncipe e transferida para a praça Lauro Müller, Joe chegou a se mudar para Rio do Sul, mas não conseguiu ficar muito tempo longe da cidade natal.

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Logo que a situação melhorou, ele voltou a armar a mesa dele na calçada e continua até hoje. Agora, com três filhas e cabelos brancos, mas ainda longos, ele não se considera mais um hippie.

– Meu pensamento vai além de uma insatisfação social. Se antes eu buscava a resposta do porquê estou aqui, agora eu já a tenho: estou aqui para liberar egos e me tornar mais puro para o retorno a Deus – explica.