*Por David Yaffe-Bellany
Tim McGreevy trabalha no ramo de feijão há mais de 30 anos. Mas, ao verificar a gôndola do feijão em um supermercado em Pullman, Washington, ele viu algo que nunca tinha visto antes: prateleiras vazias.
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"Em certo sentido, esse é meu melhor sonho. Em outro sentido, você diz: 'Uau, isso é muito sério'", disse McGreevy, que dirige um grupo comercial de produtores e processadores de leguminosas, incluindo o feijão.
A pandemia de coronavírus está afetando o dia a dia nos Estados Unidos, por isso os americanos estão enchendo sua despensa com itens essenciais de longa duração – macarrão, arroz, carne enlatada e até leite de aveia.
Mas, em meio a todas as compras de pânico, a crescente demanda por feijão tem se destacado como um símbolo especialmente potente dos tempos de ansiedade e incerteza. Nos supermercados, os compradores estão estocando feijão enlatado de marcas conhecidas, como a Goya Foods, além de sacos de feijão, que normalmente ficam praticamente intocados nas prateleiras das lojas.
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Para alguns fornecedores, a popularidade repentina de seu feijão parece um pouco surreal.
"Ninguém nunca se importa com feijão. É chocante. Eu costumava ser o cara mais solitário do mercado de agricultores", contou Steve Sando, que administra o fornecedor de feijão Rancho Gordo, no Vale do Napa.

Nas últimas semanas, o frenesi de compra se estendeu a toda a família de leguminosas secas, incluindo lentilha, ervilha e grão-de-bico, além do feijão. Em toda a indústria, as empresas que enlatam e empacotam esses produtos tiveram um aumento de 40 por cento nas vendas, informou McGreevy.
Na Goya, o aumento foi ainda mais dramático: as vendas de feijão-preto, feijão-rajado e outros produtos enlatados subiram até 400 por cento. Na última semana, a Goya entregou 24 milhões de latas às lojas.
"Já vi terremotos e furacões, e é a primeira vez que vejo isso. Este é um tsunami, este é um furacão que não está atingindo apenas um mercado. Está atingindo todos os mercados", disse Bob Unanue, presidente da empresa.
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Muitas empresas processadoras estão contratando funcionários ou adotando turnos extras para atender ao aumento da demanda. Normalmente, a Rancho Gordo recebe de 150 a 200 pedidos por dia de seus grãos especiais. Em 14 de março, recebeu 1.669 pedidos. No dia seguinte, registrou mais 1.450. "Não estamos prontos para isso", afirmou Sando.
Em muitos aspectos, as leguminosas secas são o alimento perfeito para uma época de ansiedade em massa. São baratas e nutritivas. E alguns produtos podem ficar na despensa por até dois anos.

"Foram encontradas lentilhas em tumbas egípcias – e elas ainda brotaram. Não estou recomendando que você consuma lentilhas dos tempos egípcios. Mas esses são realmente alimentos estáveis na prateleira", disse McGreevy.
Durante anos, no entanto, leguminosas de todas as variedades tiveram uma má reputação. Algumas pessoas ainda as associam à Grande Depressão. O departamento de alimentos e agricultura das Nações Unidas adverte que "muitas crianças odeiam a textura 'mole'". E um livro infantil inteiro foi dedicado ao sofrimento causado pelo feijão-de-lima.
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Mas o feijão estava começando a ficar mais popular mesmo antes do coronavírus. Alguns consumidores ambientalmente conscientes o adotam como uma alternativa à carne, e cozinheiros domésticos o preparam cada vez mais. Depois de despencar no início dos anos 2000, o consumo de feijão seco nos EUA aumentou nos últimos anos, de acordo com estimativas do governo.
Há alguns anos, Sando começou um "clube do feijão" no qual os membros podiam receber remessas especiais da leguminosa a cada três meses mediante uma taxa de assinatura.
Era para ser uma piada.
"Estamos em Napa, e pensei: 'Oh, clube de vinhos – vamos fazer um clube do feijão'", contou ele.
Agora, há uma lista de espera de mais de oito mil nomes.

No Twitter, os aficionados por feijão se ofereceram para ajudar os cozinheiros a descobrir como preparar a leguminosa, compartilhando receitas e dicas.
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"Há muitos novatos meio assustados. É muito fácil. Você os cozinha até que estejam prontos", disse Sando.
No início de março, Luke Winkie, jornalista freelance em Nova York, comprou alguns sacos de feijão. Parecia uma compra sensata. Só que ele não tinha ideia de como prepará-lo. Então, fez uma pequena pesquisa on-line.
"É um processo de dois dias. É muito diferente da coisa fácil que eu estava esperando", afirmou ele.
Recentemente, Winkie, de 28 anos, cozinhou um punhado de feijões-brancos secos, que ele havia salvado de uma tentativa fracassada na noite anterior de preparar um prato de feijão e frango.
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"O feijão não era bom. Ninguém come só uma tigela de feijão", disse Rebecca Jennings, jornalista de 27 anos e namorada de Winkie.

Os chefs profissionais há muito apreciam o feijão por sua versatilidade. Ele pode ir em sopas e saladas. Combina bem com frango, cordeiro e outras carnes. E pode ser cozido inteiro ou amassado.
"Escorra-o, amasse-o, coloque azeite ou manteiga, aqueça-o – é delicioso. É uma espécie de oportunidade de aprendizado agora que muita gente está acumulando feijão para fazer novas descobertas", garantiu Georgeanne Brennan, autora do livro de receitas "French Beans".
Mesmo assim, algumas pessoas cujas "despensas da pandemia" estão transbordando de feijão não estão ansiosas para comê-lo. Lupita Medina, de 18 anos, de Utah, ficou surpresa ao ver sua mãe comprar feijão enlatado em preparação para o surto.
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"Acho que nunca experimentei. E nem quero", disse Medina.
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