Este é um exercício de futurologia, baseado em premissas lógicas, algumas, e de percepção da sociedade que temos atualmente, outras.
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Estamos no ano de 2042 e a cidade se transformou quase radicalmente em comparação com o longínquo 2017. Embora alguns fios condutores da história de Joinville permaneçam parecidos com o passado, os ganhos são visíveis – os problemas, mais ainda. Ainda é possível ver o rio Cachoeira com manchas de poluição. A população reclama. Os turistas não entendem. Os políticos repetem: não há dinheiro; é obra muito cara.
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Para não estragar a festa dos otimistas, alguma coisa foi feita na defesa do meio ambiente, e parcela dos joinvilenses, enfim, compreende que o ponto de referência do início da história da ex-Cidade das Bicicletas precisa, sim, ser cuidado. Mas outra parte dos moradores insiste em não dar importância ao tema, que, há quarto de século, foi completamente relegado a terceiro plano nas prioridades dos governos. Faltava dinheiro, lembra? As bicicletas, ícones da mobilidade urbana nas décadas de 1950/70 do século passado, agora são memória. Sim, ciclovias foram feitas. Difícil, mesmo, foi conectá-las todas. Por quê? Porque as gestões municipais teimam em não dar continuidade aos projetos de seus antecessores. O Museu da Bicicleta até foi ampliado de tamanho.
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Leia mais notícias do colunista Claudio Loetz.
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As ruas já não comportam mais tantos e tantos carros, apesar de duplicações de vias terem sido feitas, após pressão política intensificada a partir de 2020. Alternativa encontrada para diminuir o drama são os veículos leves sobre trilhos (VLTs) – para unir pontos extremos da cidade. E o metrô, já com razoável densidade, é, em 2042, tema de campanhas eleitorais. Como sempre se buscam soluções, a inventividade humana, que criou os drones na geração passada, agora, com tecnologias apropriadas, os popularizou. Olhe para o alto, e veja quantos deles povoam os céus e nos atendem em demandas variadíssimas: os drones são um eficiente meio de transporte.
Menos mal que o transporte público de ônibus melhorou, e o ar-acondicionado, instalado nos veículos com a licitação feita em 2023, evita que os usuários sofram desmaios com os 36 graus Celsius, temperatura cada vez mais comum entre os meses de novembro e março.
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As alterações na legislação urbanística, discutidas e preparadas entre 2011 e 2018, agora mostram seus efeitos – para o bem e para o mal. Para o mal porque o calor, proveniente do grande adensamento populacional, somado à inevitabilidade da crescente umidade na cidade, com menos ventilação do que no passado, menos impermeabilização do solo, combinados com a construção de prédios de mais de 30 pavimentos, irrita as pessoas. Ainda bem que milhares de árvores foram plantadas nas ruas, o que ameniza o problema. Para o bem porque conseguiu-se aproximar empregos de moradias, justamente em função das regras de ocupação do solo e de ordenamento territorial implementadas.
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Enfim, Joinville tem, há 12 anos, um aeroporto contemporâneo. Grande o suficiente para atender a demandas de toda a região Norte-Nordeste do Estado. Aquela ideia de se construir um aeroporto internacional, um complexo intermodal em Araquari, não vingou por razões políticas. A região metropolitana, tendo Joinville como centro, se consolidou com Araquari, ao Sul; Guaramirim e Schroeder ao Oeste; e Garuva, ao Norte, absolutamente integradas ao modo de vida do município-polo. Aliás, o contorno ferroviário é realidade há 14 anos, o que tem facilitado o deslocamento intrarregional.
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Joinville é referência na região Sul do País em ciência de automação, controle e robótica. Já faz uns 15 anos, aliás. Empresas daqui se especializaram na pesquisa, desenvolvimento e produção de robôs e muitos outros equipamentos de altíssima tecnologia. Boa parte deles surgiu com a visão de futuro que alguns empreendedores locais tiveram ao criar a Associação Brasileira de Internet Industrial há uma geração. Hoje, estas sólidas competências permitem que Joinville ganhe dimensão global de excelência nesta área. Continuamos bem posicionados nos diversos rankings nacionais, a valorar ambientes empresariais, tecnologia local, padrão educacional como forma de distinguir os melhores dos demais. A história de Joinville tem se sustentado no valor do trabalho nas indústrias. Ao menos até 2030. De lá para cá, isso mudou. As máquinas tomaram conta do trabalho na produção. O “pensamento” dos robôs rivaliza com o dos homens. Altera-se o eixo produtivo local. A área de serviços e os negócios direcionados à tecnologia da informação dominam a formação da riqueza gerada no município.
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E como ninguém é de ferro, um pouco de lazer, que ajuda a enfrentar os estresses cotidianos de uma sociedade com predominância de uma população de gente “madura” e envelhecida. Os gestores públicos se convenceram da necessidade de criar parques grandes, com toda a infraestrutura para descanso e diversão para as famílias.
Os funcionários trabalham menos horas por semana. Mesmo assim, o desemprego preocupa, porque o avanço tecnológico expulsou milhares deles de atividades agora realizadas por instrumentos controlados a distância. Lembra de como foi há duas gerações?
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A discussão, em 2042, é como dar dignidade a este enorme grupo de pessoas sem função social remunerada. Novos Bolsas-família, redesenhados, socorrem os miseráveis que não conseguem se aposentar e são abandonados pelas famílias. Este esforço para identificar possibilidades de reinserção social e econômica tem sido feito pela academia, por agentes públicos e por variados “grupos de trabalho”, foram formados para “pensar” a Joinville de 2070. O que não muda é a grama nos parques. Sob sol escaldante e chuvas inclementes, a grama continuará sendo pisada. Assim, a população festeja seis espaços democráticos de convívio, espalhados pelas diferentes regiões do município. E continua o incandescente debate sobre a Joinville que queremos para os nossos netos, daqui a 40 anos.
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