A morte de Hugo Chávez, aos 58 anos, depois de quase três meses de uma derradeira batalha contra o câncer, modifica de forma brusca a história da Venezuela. Esperam-se mudanças com a saída de cena do líder que concebeu a ideia do “socialismo do século 21”, adotou tom virulento contra os Estados Unidos e cooptou seguidores como os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e do Equador, Rafael Correa.
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Os analistas venezuelanos ponderam que esse efeito de longo prazo ainda vai demorar a se fazer sentir no país sul-americano.
– Nicolás Maduro (presidente e candidato à reeleição escolhido pelo próprio Chávez) começará a disputa eleitoral como favorito, beneficiado pelo apelo do luto. É um sucessor eleito por Chávez, e isso tem impacto – diz Luis Vicente León, diretor do instituto de pesquisas Datanalisis.
Na mesma linha vai o cientista político Angel Alvarez, da Universidade Central da Venezuela:
– Já há um impasse institucional. O governo quer eleições já. A oposição queria que passasse a comoção. Depois, saberemos se muda a linha do governo. Maduro, que é o favorito, alinha-se ao projeto chavista.
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Paciência não será a mesma
Especialistas concordam, porém, que esse cenário corresponde ao momento imediatamente seguinte à morte do líder bolivariano. Em seguida, a ausência de Chávez deve se tornar mais nítida, até porque exercia o poder alicerçado no personalismo.
Analistas dizem que a corrente governista deve se unir em torno de Maduro, que passou as últimas semanas assumindo o papel de caudilho, com cadeias de rádio e TV e bravatas antiamericanas – como quando disse que o câncer de Chávez teria sido provocado pelos Estados Unidos.
A dúvida que fica é: até quando a imagem de Chávez sustentará o governo de Maduro? A realidade venezuelana é de alta criminalidade urbana, infraestrutura precária, governistas divergentes unificados pelo líder que desapareceu e uma política econômica que, apesar da redução da miséria entre 49,4% e 29,5% nos 14 anos do chavismo, provocou inflação de 20,1% e desabastecimento de 20% dos produtos, em 2012.
Analistas como o historiador Carlos Malamud, especialista em América Latina do Real Instituto Elcano de Estudos Internacionais e Estratégicos, da Espanha, preveem mudanças quase que imediatas à morte de Chávez:
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– A maioria dos venezuelanos, os mesmos que foram resgatados por Chávez da exclusão, perdoava-lhe os seus erros. Havia tolerância em relação aos altos índices de criminalidade e ao desabastecimento. Seus sucessores não contarão com essa paciência.
Política externa sofrerá mudança
Antônio Jorge Ramalho, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), faz raciocínio semelhante. Para o especialista, os efeitos da morte de Chávez serão notados em curto prazo.
De acordo com Ramalho, esse fenômeno será particularmente evidente na política externa, em especial no que toca ao Brasil. Um dos países que deverá receber um novo tratamento é o Irã, cujo presidente, Mahmoud Ahmadinejad, esteve presente ao funeral de Chávez na sexta-feira.
– Maduro é um negociador, um sindicalista que depois foi chanceler. As relações com o Brasil serão mantidas, porque tudo está estruturado, com a diferença de que sai o histrionismo de Chávez. Haverá mais racionalidade. Outro aspecto é que, certamente as relações próximas com o Irã, cuja razão de ser é o antiamericanismo de Chávez, devem diminuir de intensidade – diz o professor da UnB.
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