A delegada Tânia Harada assumiu nesta semana a Delegacia Regional da Polícia Civil de Joinville. Ela foi nomeada para o lugar de Laurito Akira Sato, que deixou o cargo para ser diretor da Academia de Polícia em Florianópolis. No primeiro dia de trabalho, Tânia recebeu a reportagem de “AN” para falar sobre os desafios que enfrentará no comando da regional. As prioridades serão o combate aos crimes patrimoniais, a atenção às vítimas e a melhoria no atendimento ao público.
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Ela atuava na Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Adolescente (DPCAMI) de Joinville desde o início de 2015. Começou a carreira na Polícia Civil em 2007, na comarca de Seara, no Oeste de Santa Catarina. Depois, trabalhou em São Bento do Sul, Papanduva e Barra Velha. No começo de 2014, chegou a Joinville para trabalhar junto ao Grupo de Atuação Especial de Combate. ao Crime Organizado (Gaeco). Confira trechos da entrevista:
Prioridades
O foco da gestão é a vítima, desde o primeiro atendimento e em todo o ciclo da Polícia Civil. Haverá uma preocupação com o atendimento, o que inclui a melhoria de ambiente. Na Delegacia da Mulher isso já é potencializado, pelo público que a gente atende. E, em algum momento, a gente tem que voltar o olhar para as vítimas. Hoje, a gente fala muito em garantias de direitos a nível de investigado, mas a gente está esquecendo de quem sofreu o crime. Estamos preocupados com quem cometeu e esquecendo de quem passou por aquilo.
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Homicídios e roubos
Sem dúvida, os homicídios são umdos maiores desafios que vou enfrentar. Vejo que aquilo que a gente poderia fazer, e que tinha que ser feito emergencialmente, foi realizado pelo delegado Akira. Por mais que tinha havido um acréscimo numérico de homicídios, também houve uma retenção do crescimento, a estruturação de uma delegacia (de homicídios) e, mais importante do que tudo, um aumento no nível de resolução e qualidade dos inquéritos. Então, partindo dessa premissa, de que algum esforço já foi feito com relação aos crimes contra a vida, o foco agora são os crimes patrimoniais, notadamente os cometidos com ameaça ou violência, ou seja, roubo e latrocínio.
Homicídios não são só questão de polícia
Os homicídios não podem ser tratados exclusivamente como uma questão de polícia. A gente tem que lembrar que inúmeros delitos cometidos nesse sentido – e até um bem recente – são feitos, muitas vezes, por pessoas que estão em prisão domiciliar ou em liberdade provisória. Então, tem que ser chamada a responsabilidade para outros órgãos também. Há questões que são essencialmente que a polícia não resolveria e não impediria, nem se nosso efetivo fosse triplicado.
Por exemplo, alguns entram na nossa conta (de homicídios), mas são questões de saúde. Teve aquela chacina horrível no final do ano. Aquilo ali entrou na nossa conta, mas não tinha nada que a gente pudesse fazer para evitar. Cumpre a nós apurar o que aconteceu ali depois.
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Os homicídios estão praticamente cingidos a pessoas ligadas a facções criminosas. E, por isso, também temos o enfoque em roubo porque o que tem atingido a comunidade pacata são os crimes patrimoniais. Uma notícia que eu li e que me entristeceu bastante foi que, recentemente, uma escola que oferece ensino integral está fechando porque não houve procura. A criminalidade está conseguindo ser mais atrativa do que a escola. Quando a gente pensa em homicídio, temos que pensar em tudo isso. Não tem uma solução mágica. Não tenho uma promessa para fazer, em termos de número, quanto vou reduzir. Eu tenho o enfoque neste ano em outros delitos. É isso que quero deixar bem claro.
Esforço para conter crimes patrimoniais
Essa impressão de urgência nesses casos de crimes patrimoniais vem da minha experiência como delegada plantonista ali na Central de Polícia (CPP). Além do que a gente vê nos veículos de comunicação e fica sabendo, a experiência como delegada plantonista marcou muito. Eu sempre fazia questão de perguntar para a vítima quantas vezes já havia sido assaltada. Eu ouvi relatos de pessoas que foram assaltadas mais de dez vezes em seus estabelecimentos comerciais.
Com certeza, vai haver um esforço com relação aos crimes patrimoniais e, na medida do possível, um incremento, uma melhoria. A gente já está atrás de armamento para a Delegacia de Homicídios e, quando viável, vamos trazer mais pessoas. Talvez haja um remanejamento de policiais, de modo a tentar saber qual é o perfil de policiais com mais tino investigativo para atividades deste fim e alguns policiais de setores investigativos podem ser deslocados para outros setores.
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Então, será um esforço maior concentrado em roubos e a preocupação com atendimento. Nesse passo de atendimento, a Central de Polícia hoje é prioridade. Precisa de melhorias na estrutura porque há situações que entendo inadmissíveis. Por exemplo: ali, nós temos a sala de espera, onde hoje ficam os parentes dos presos junto com as vítimas. Já teve até situações de ameaça ali, de parentes de conduzido com relação a quem sofreu o delito. A Central de Polícia é prioridade máxima em questão de melhoria de estrutura e atendimento a ofendido.
Organizações criminosas
Pretendo trabalhar em parceria com outros órgãos, dentre eles o Gaeco, que é um grupo de atuação especial, justamente de combate a organização criminosa. Acho que a DIC fez um trabalho grande em relação às organizações criminosas no ano passado. Neste ano, nosso enfoque será nos roubos. E sobre as organizações criminosas, a polícia pretende trabalhar em parceria com outros órgãos.
Ações para coibir homicídios e roubos
O que eu posso dizer é que, além do remanejamento de pessoal nesses setores críticos, como Delegacia de Homicídios (DH) e Divisão de Investigação Criminal (DIC), vai haver um acompanhamento de perto das atividades envolvidas, uma aproximação com os delegados. O planejamento inicial é acompanhar mais de perto, estar presente nas delegacias, saber o que está sendo apurado na DIC. Já foi conversado com o delegado que hoje está na DIC que o enfoque é esse: roubos e furtos praticados por organizações.
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Proximidade com as delegacias
Um dos assuntos que foram tratados até na primeira reunião que tive com os delegados é que eu quero estar nas delegacias. Quero ir nas delegacias, ver o que está acontecendo. Foi encaminhado pelo RH um relatório a ser preenchido pelas unidades, de modo a poder mensurar toda a produtividade delas. Então, essa planilha pede o número de inquéritos, inquéritos que foram concluídos e outras informações.
Sensação de insegurança
Posso dizer que, voltando àquela experiência de delegacia e de plantonista, eu noto que há um sentimento de insegurança em diversos munícipes. Observei, na minha experiência de atendimento ao público em delegacia e, principalmente, em plantão, um receio muito grande da comunidade pacata. O que tem gerado incomodação e sensação de insegurança neles é o crime patrimonial. Então, por isso o meu olhar está sendo voltado para essas pessoas: para gente que acorda cedo, vai trabalhar, faz as coisas certinho e é recebido em casa com uma arma na cabeça. É diferente de quem optou por estar em um ambiente criminoso.
Criatividade para driblar problemas de efetivo e estrutura
Vou buscar parcerias, da mesma forma que foi feito ali na DPCAMI. Nesse passo, a gente já tem algumas parcerias alinhadas com universidades e que pretendo estender. Tem, por exemplo, ali com a UniSociesc, um projeto de justiça restaurativa, que é o encaminhamento de alguns conflitos para serem tratados na universidade.
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Meu irmão, que também é gestor, no setor privado, me disse o seguinte: “Gestão não é reclamar do que você não tem, é lidar com o que você tem”. Eu também prego que o gestor, em tempo de crise, tem a obrigação de ser mais criativo.
Então, o que eu proponho é buscar parcerias com outros órgãos, município, universidades, no que puder ser buscado parceria com o setor privado. Ou seja, vou pedir ajuda para todo mundo.
A gente vem num processo de perda de policiais. Agora, está havendo um novo incremento, mas as condições ideais de trabalho, a gente não tem. Mas temos uma condição que viabiliza fazermos alguma coisa, e dentro do que a gente puder, vai ser buscado. Partindo do pressuposto de que a Constituição diz que a segurança pública é direito e dever de todos, eu vou buscar amparo em comunidades e diversos órgãos.
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Parceria com outros órgãos de segurança
Sempre trabalhei com parcerias com toda e qualquer instituição que se propusesse a ajudar. Acho que tem crime para todo mundo investigar. A gente não tem que brigar por isso. Mais uma vez, isso vai ser tratado com uma aproximação. Alguma coisa já foi alinhada com o município, já estou falando com o pessoal da Secretaria de Proteção Civil e Segurança Pública (Seprot) desde o ano passado, tenho bastante proximidade com o Gaeco e sempre me dei bem com a Polícia Militar. Então, vamos trabalhar próximos e integrados.
No contexto que a gente está hoje, de dificuldade de pessoal, é inconcebível que a Polícia Civil esteja investigando um caso, a Polícia Militar o mesmo e o Gaeco em cima daquilo. Vou buscar o diálogo de modo a otimizar isso para que não haja duas instituições concorrendo em uma mesma investigação, deixando de lado um monte de coisa que ninguém está apurando. Porque, às vezes, acontece isso. Quando é um trabalho de maior vulto, todo mundo quer fazer. Não, se tiver alguém fazendo, a gente não vai fazer. Vai oferecer o apoio que esse órgão precisar, mas se já tem alguém fazendo algum trabalho, a gente vai fazer outro. Tem trabalho para todo mundo.
Mudanças previstas
Não está descartada a hipótese de fechamento de delegacia para incrementar em uma melhor distribuição de policiais, mas isso não é uma decisão que vou tomar agora, preciso de um pouco mais de tempo. Uma coisa que eu tenho bem definida é tirar a central de BOs da especializada. Antes do delegado Akira, as pessoas não estavam conseguindo nem fazer os boletins de ocorrência, hoje elas têm onde fazer (no prédio da DPCAMI) e eu quero buscar o lugar mais adequado onde elas façam. Entendo que essa foi a única solução viável para o delegado Akira naquele momento, já que ele não tinha recebido ainda novos policiais. Hoje, eu acho possível que a gente tire dali. Deve centralizar aqui na regional.
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O que está acontecendo ali: por mais que a gente explique que é uma delegacia especializada, que tente argumentar que os casos mais graves ou relacionados à delegacia em si têm prioridade, isso gera muita revolta. As pessoas querem ser atendidas por ordem de chegada. Eu já vi situação de dano em veículo preceder o atendimento ao estupro. Isso aconteceu esses dias. Tinha uma mulher vítima chorando e quando foi dito que ia ser dado preferência para ela, as pessoas não entenderam. Então, eu acho que tem a necessidade de tirar de lá para que esse tipo de situação não ocorra mais, novamente com o olhar na vítima, pensando no que é melhor para ela.