Clique aqui

Comunicado de que será expulso do partido pelo qual foi eleito, o deputado Amauri Soares (PDT) acusou a direção pedetista de fisiologismo e de não seguir os princípios que deveriam pautar a legenda desde a sua origem. Ele é o único representante do PDT na Assembleia Legislativa, mas não foi pego de surpresa pela notícia. Afirmou que há tempo já havia uma movimento para retirá-lo da legenda, “para facilitar as negociatas por cargos.” Em resposta, o primeiro vice-presidente do PDT em Santa Catarina, Rodrigo Minoto, disse haver um equívoco por parte do deputado em relação às suas afirmações. Veja abaixo a entrevista com Amauri Soares.

Continua depois da publicidade

Diário Catarinense – Não é estranho o único deputado do PDT na Assembleia Legislativa ser expulso do partido? Como o senhor recebeu essa notícia e como vai lidar com isso agora?

Amauri Soares – Já estavam me ameaçando há algum tempo, dizendo que “é como nós queremos ou então vai ser expulso.” Agora estou refletindo sobre o que vou fazer. Tenho mais duas semanas pela frente para ouvir companheiros, setores de luta dos trabalhadores e do serviço público.

DC – Ao que o senhor atribui essa expulsão?

Continua depois da publicidade

Soares – O PDT tem se tornado cada vez mais um partido fisiológico. A direção estadual do PDT tem instituído a organização e a estruturação de um partido fisiológico. O fisiologismo tem sido o feijão com arroz dessa gente da direção desde quando eu entrei no PDT. Entrei em 2006, como era militar eu não tinha filiação anterior, para disputar a eleição e fui eleito deputado. Já no ano seguinte foram participar do governo Luiz Henrique com secretaria e tudo. Já naquele período, a partir do momento em que a relação dos praças e dos bombeiros com o governo azedou, começamos a ter desavenças porque o governo cobrava do PDT que o deputado não podia se posicionar como estava fazendo. Evidente que, entre meu compromisso com a classe trabalhadora e a categoria e os acordos que a direção do PDT fez, eu fiquei com os meus princípios. O partido ficou no governo do LHS até março de 2010. Em abril de 2010, estava declarada a aliança com a Angela Amin, oposição ao governo de Luiz Henrique. Perderam a eleição e, um ano depois, estavam com o Dário Berger, que é oposição à família Amin. Então aí está o nível de decisões políticas e alianças eleitorais feitas tendo como objetivo principal a conquista de cargos. Uma hora para cá, uma hora para lá. Isso (o partido) torce mais que biruta de aeroporto.

DC – Há alguém em especial que busca a expulsão do senhor do partido?

Soares – O diretório estadual é provisório e não houve convenção. O Manoel Dias tentou, segurou um tempo porque tinha um acordo comigo, mas recebia outras pressões. Faz tempo que estão pedindo a minha cabeça. Uma das motivações, acho que a principal, o partido tem um único deputado e esse deputado na defesa das posições de seus compromissos com a sociedade dificulta o fisiologismo. Dificulta a negociata. E ter um deputado que atrapalha na hora da negociata é ruim. Outros dirigentes querem o mandato. E tem pessoas que pretendem chegar na Assembleia Legislativa e avaliam que minha presença no PDT dificulta.

DC – O senhor não quer falar em nomes?

Soares – O primeiro vice-presidente Rodrigo Minoto. Isso está expresso há bastante tempo. Esse convite dele para que saia do PDT já tem mais de um ano. É uma pessoa vinculada ao ministro Manoel Dias, é sobrinho da mulher dele, inclusive. Então não isento o Manoel Dias. Ele é o chefe.

DC – O ministro poderia ter interrompido o processo?

Soares – Foi ele que assinou. Nada acontece no PDT sem as bênçãos dele. Curiosamente a mesma reunião que decidiu criar a comissão de ética é a que decidiu que o PDT quer participar do governo Colombo. Então as duas coisas não estão dissociadas. É preciso tirar o deputado oposicionista para que o PDT possa ganhar um cargo do governo.

Continua depois da publicidade

DC – Para qual partido o senhor deve ir?

Soares – Vou discutir com lideranças dos trabalhadores para tomar essa decisão. Tem convite de vários partidos, mas até o final do mês tenho que decidir. Se o PDT vai deixar para me expulsar em outubro, me anula do processo eleitoral de 2014. Então tenho que ter um partido até o começo do mês que vem. Mas a saída é à esquerda. Inclusive dos partidos citados como de esquerda. Tem o PSOL, tem o PCB. Estou refletindo por esse campo.

DC – O senhor se sente traído?

Soares – Não me sinto traído: me sinto desrespeitado. As pessoas que fazem as denúncias e as que estão julgando são praticamente as mesmas. Fui acusado de infidelidade partidária porque não apoiei o Dário Berger e o Djalma Berger. Por não ter ido para a campanha junto com eles, usaram esse fundamento como o principal motivo. Tem os termos: “atitude desonrosa”, “comportamento indigno”, “deputado que só pensa em si e não pensa nos companheiros”. E, porra, isso me irrita profundamente. Porque são eles que estão pensando só neles e nos cargos que pretendem ganhar em cada governo que apareça.