Em sua quarta edição, o Festival de Dança já começava a “caminhar com as próprias pernas”, mas parecia que tudo conspirava contra a organização em 1986. Assim como na primeira edição, Joinville foi assolada por chuva e frio e não tinha alojamento que desse conta de tanta gente: 20 mil pessoas desembarcaram na cidade, entre bailarinos e público interessado em assistir ao Festival, que ficava cada vez mais famoso no Brasil.
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Aí não teve jeito: teve bailarino se ajeitando para dormir até na rodoviária. Além disso, foi o último ano em que as apresentações puderam ser tão longas, já que cada uma tinha até 25 minutos – em 1987 ganharam limite de sete minutos – e o mesmo aconteceu com o grupos, que chegavam a 168 em 1986.
Tantos grupos com coreografias tão compridas só podiam resultar em uma coisa: as apresentações dificilmente acabavam antes das três da manhã, quando não havia mais ônibus circulando pela cidade. Na noite de balé clássico, a tragédia do Cisne Negro: passava das duas da manhã e um casal entrou no palco para apresentar a famosa peça quando caiu a energia. Sem luz e sem som, o jeito foi encerrar a noite por ali.
Sapatos Polêmicos
A bailarina e professora de dança Fernanda Chamma, que fez parte do conselho artístico do Festival de Dança de 2008 a 2012, define a primeira vez em que veio ao festival como “uma delícia”. A companhia de dança que ela trouxe em 1986, a Iron Gym, foi desclassificada por não se encaixar em nenhuma categoria, mas isso é o que menos importava na época – afinal, a coreografia “Sapatos” criou tanta polêmica que ganhou destaque em todos os jornais.
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– Era a primeira vez que alguém trazia um espetáculo daquele tamanho para a competição – conta Fernanda, que lembra que o ginásio Ivan Rodrigues estava tão cheio que os figurinos e parte do cenário (sapatos gigantes e cerca de 1,5 mil caixas de sapatos) tiveram que ser passados pela janela.
Até o motorista do ônibus que levava o grupo ajudou. O ensaio nos Palcos Abertos, na praça Dario Salles, também deixou lembranças engraçadas: os sapatos caíam do palco e ficavam boiando nos espelhos d?água.
Você sabia?
Em 1986, o público em geral começou a ter acesso aos espetáculos dos grupos que vinham para o Festival de um jeito diferente, mas que deu tão certo que virou parte e tradição do Festival: os ensaios eram feitos nas praças centrais e faziam sucesso entre as pessoas que transitavam pelo Centro. Foi assim que começaram os Palcos Abertos.
Até a terceira edição, em 1985, não havia uma divisão entre competidores e crianças e adultos acabavam competindo entre si. Só então começaram a dividir por faixa etária e, em 86, viraram quatro categorias: infantil (até 12 anos), juvenil 1 (de 12 a 15 anos), juvenil 2 (de 15 a 18 anos) e adulto (maiores de 18 anos).
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