O comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar em Florianópolis, tenente-coronel Araújo Gomes, lamentou o confronto com estudantes na tarde desta terça-feira na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Continua depois da publicidade

Segundo ele, não houve outra alternativa a não ser o uso da força pela PM para garantir a segurança dos policiais federais e das pessoas envolvidas. Confira a entrevista dada por telefone ao DC nesta noite:

Diário Catarinense – Quem acionou a Polícia Militar para ir ao campus da UFSC?

Araújo Gomes – Polícia Federal e o departamento de segurança da própria UFSC.

Continua depois da publicidade

DC – Qual foi a razão pedida na hora?

Gomes – Que na operação eles realizaram prisões e que um grande número de alunos havia cercado e estava impedindo a saída dos agentes da Polícia Federal, dos detidos e pediram apoio para a segurança dos agentes.

DC – Na sua avaliação então não tinha como negar o pedido mesmo com a questão da jurisdição de que a PM não pode fazer a segurança na UFSC?

Gomes – Na verdade a questão de jurisdição não entra em pauta. Porque se o pedido vem da Polícia Federal, que tem jurisdição, se vem da própria universidade através do seu departamento de segurança, que tem responsabilidade administrativa, essa discussão – em que nós entendemos que podemos sim atuar em flagrante – não vem nem ao caso. Mesmo supondo que não houvesse jurisdição, que não é o que a Polícia Militar acredita, a condição para a intervenção seria uma solicitação e a solicitação houve.

Continua depois da publicidade

DC – Alguns estudantes trouxeram como justificativa esse questionamento, de que a PM não pode entrar na UFSC fazer a segurança no campus (por ser área federal). Como avalia essa questão da jurisdição?

Gomes – Isso foi tema de discussão no ano passado. Na verdade entendemos é que não faz sentido uma força estadual fazer policiamento dentro de área federal sem que haja acordo, entendimento, articulação com a comunidade universitária, no que diz respeito ao policiamento de rotina. Seria a mesma coisa que entrarmos dentro do saguão do prédio do Incra, que é aberto ao público, para fazer policiamento sem que antes houvesse um entendimento entre os dois órgãos. Pode, mas não faz sentido. Outra coisa é a intervenção em situações de flagrante delito ou quando acionado para prestar socorro. Nesses casos a PM pode entrar inclusive em residências, quem dirá num espaço aberto mesmo sendo ele de responsabilidade federal.

DC – Qual a sua avalição do uso da força, das bombas e do gás lacrimogêneo?

Gomes – Em primeiro lugar é preciso deixar claro que a ação iniciou através da Polícia Federal, que nós fomos com a missão atendendo a um chamado da universidade e da PF para garantir a segurança dos policiais, das pessoas envolvidas, que houve um esforço da PM mesmo sem estar responsável pela ocorrência de negociação para evitar qualquer tipo de confronto. Esse esforço foi testemunhado pelo chefe de gabinete, o representante da reitoria, pelos professores, pela própria deputada Carminatti (Luciane Carminatti, deputada estadual), por autoridades e comunidade que estava lá, mas a decisão final era do delegado da Polícia Federal, quem executou a prisão. A nossa postura quando eles procuraram concluir a prisão tirando o preso das mãos da multidão era a de proteger os policiais federais, garantir que houvesse o mínimo de danos ao patrimônio. A PM empregou o escalonamento do uso da força. Inclusive avisamos o interlocutor de que a partir de determinado momento, pela postura da PF de cumprir a prisão até o final, era possível o uso da força e pedimos a ele que avisasse os manifestantes sobre isso, de que um distensionamento fosse possível, mas infelizmente não aconteceu.

Continua depois da publicidade

Confira no vídeo o momento que a PM usa gás e bomba de efeito moral:

DC – Houve presos pelo vandalismo?

Gomes – Pela ação de reação não, até porque a nossa prioridade era dar segurança à Polícia Federal. Assim que a Polícia Federal se retirou com o preso nós nos retiramos atrás. Em segundo lugar porque o uso de agentes não letais, como por exemplo os agentes químicos, mantém tropa e manifestante afastados um do outro, o que dificulta a prisão. Porém, havendo a possibilidade de identificá-los, provavelmente a Polícia Federal vai responsabilizá-los.

DC – Tem acontecido a ação da PM na UFSC?

Gomes – Esse apoio é usual. Fazemos com frequência em casos de furtos, nas festas que ultrapassam os horários também somos chamados e fazemos a intervenção. Essa não é uma conduta atípica.

DC – Há informação extraoficial de que a UFSC teria acionado a Polícia Federal para fazer investigação mais rigorosa sobre o tráfico na universidade. Pode nos falar sobre essa questão, o tráfico na UFSC?

Continua depois da publicidade

Gomes – Não tenho nenhuma informação se a UFSC teria acionado a Polícia Federal. Temos sim informações de que há sim consumo de drogas no interior da UFSC durante a semana, nas festas. E nós, por algumas vezes, em ações ao redor da UFSC, em pontos de drogas, fizemos a detenção, a identificação de alunos da UFSC como usuários comprando drogas. O caso mais evidente é um local nos fundos da UFSC conhecido como boca do Cesinha, no Pantanal, onde foram realizadas dezenas de operações e em muitas deles estudantes da UFSC identificados e autuados como usuários. O fato é bastante grave, lamentável, principalmente porque a PM na Capital vem se esmerando em evitar o confronto. Mas essa crise não estava nas nossas mãos, foi conduzida pela Polícia Federal e a comunidade universitária. Apenas demos o reforço de segurança a uma condução de crise que não foi a nossa. E aí se sentimos frustrados depois de passarmos por tantos eventos importantes conseguindo evitar o uso da força, que dessa vez a gente não tivesse tido outra alternativa.

Veja em imagens o confronto entre estudantes e polícia: