Um grupo de jovens indígenas de Santa Catarina encontrou no futebol uma forma de cuida da saúde mental. Sem opções de lazer onde moram, na terra Laklaño Xokleng, em José Boiteux, no Alto Vale do Itajaí, elas buscaram o apoio do Leoas da Serra, time de futsal de Lages. Hoje, quase dois anos após o que parecia apenas um sonho, têm um campo dentro da comunidade e o desejo de, quem sabe um dia, alguma delas chegar à seleção brasileira.
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— O Atlético Xokleng nasceu porque duas meninas tinham ansiedade e queriam ajudar outras jovens, pois é um caso bem crítico que está acontecendo nas aldeias, uma situação bem desagradável que a gente vê. Acho que não só aqui, mas o mundo em si está vindo esse problema, que são as doenças psicológicas — conta Jéssica Priprá, uma das idealizadoras do projeto.
Quando tudo começou, em janeiro de 2023, as jovens não tinham um campo perto da terra indígena, então alugavam um ginásio a quilômetros de distância, na região central de José Boiteux. Quando tinham dinheiro para pagar, treinavam. Quando a grana ficava curta, simplesmente não tinha o que ser feito.
— É muito difícil você achar alguém que acredite no futebol feminino, principalmente agora um feminino de uma aldeia. Então, quando a gente começou, foi só com a nossa vontade mesmo, não tínhamos nada — recorda Luana Priprá.
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Esta vontade fez elas irem em busca de melhores condições para jogar futebol. E nesta luta conseguiram o apoio do Leoas da Serra e do Maurício Neves de Jesus, criador do projeto Leoas. Um passo que fez as mulheres do Atlético Xokleng realizarem um dos sonhos da equipe.
— Quando a gente começou, dizíamos que um dia a gente vai ter nosso campo. Um dia a gente vai ter o nosso local. Mas a gente não tinha terreno. A gente só tinha um sonho — recorda Jéssica.
Maurício se sensibilizou com a história e buscou a ajuda do Banco da Família e da Uniplac. Os parceiros topara, e logo uma área dentro da Aldeia Palmeira começou a passar por obras de terraplanagem, drenagem, colocação de gramado, pintura, balizas e redes. Tudo ganhou forma e se tornou o espaço delas, para o sonhos delas. A inauguração ocorreu em setembro, a primeira disputa, claro, foi entre Atlético Xokleng e Leoas da Serra.
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— Pode parecer assim que é só material, mas não é. Nossos parceiros não ajudaram só um projeto feminino, eles salvaram vidas. Porque é um projeto que salvou vidas — confessa Jéssica.
Hoje, o campo de grama vai além de um lugar para treinar e jogar futebol. Para as mulheres das aldeias indígenas da região é espaço de transformação. Faz parte da construção de sonhos e demonstra o quanto é importante lutar por eles. Uma luta partilhada com as novas gerações.
— É uma luta por ser indígena, por ser mulher e mulher que joga futebol. Isso é muito importante para nós, para dar visibilidade a tudo isso ao mesmo tempo — garante Luana.
E elas sonham com mais conquistas:
— Porque não uma das nossas nas Leoas e na Seleção Brasileira? Ah, mas isso é um sonho. A gente sonhou um dia que a gente teria um campo, e a gente conseguiu, lembra? — diz Jéssica.
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