O mundo dos negócios e dos esportes têm muitas semelhanças. E quem sabe dosar essas características em comum e extrair o que há de melhor costuma se dar bem. É o caso de Matheus Dellagnelo. Aos 31 anos, ele coleciona títulos na vela: bicampeão Pan-Americano da classe sunfish de vela (Guadalajara-2011 e Lima-2019), duas vezes campeão sul-americano na classe laser radial, dono de dois títulos mundiais em categorias distintas, além de conquistas nacionais.
Continua depois da publicidade
Nos últimos anos, Matheus passou a usar os ensinamentos que o mar lhe deu para ter sucesso no mercado de tecnologia, com a empresa de inteligência de dados que ajudou a fundar em 2017. O alinhamento das características ajudou o jovem natural de Florianópolis a colocar o Brasil no lugar mais alto do pódio, há um ano, nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru.
O catarinense venceu a prova que disputou na Baía de Paracas e voltou para casa com a medalha de ouro no pescoço. Nesta entrevista, Matheus relembra a conquista e fala de como o esporte lhe ajuda na gestão dos negócios.
> Cinco exercícios básicos para realizar em casa – e os erros mais comuns
Como iniciou a relação com a vela?
Continua depois da publicidade
Comecei no Lagoa Iate Clube (LIC), com sete anos, por causa do meu pai. Tinha escolinha de vela, morava na Lagoa, e ele me levou para conhecer. Fiz escolinha e fui bem na primeira regata, na Lagoa da Conceição mesmo. Na sunfish comecei em 2010, nesta época já representava o Iate Clube de Santa Catarina (ICSC). Era o primeiro do Brasil na classe laser radial. A sunfish não tinha no país e o perfil de velejador é parecido com a classe em que estava. Os primeiros foram escalados para o Sul-Americano na Colômbia, naquele ano. Não sabia nem montar o barco, mas fiquei em sexto. No final deste mesmo ano, me chamaram para tentar a vaga para o Pan de Guadalajara, em uma seletiva no Peru. Fiquei em 3º e conquistei a vaga. Teve outra seletiva no começo do ano seguinte, na laser radial. Competi com todo mundo, com grandes velejadores que queriam a vaga que estava aberta. E consegui também.

Quando senti que tinha chance de vencer, tive a sensação que nunca havia parado de velejar.
Como tem feito com a pandemia? Tem conseguido praticar?
Velejei muito pouco desde que voltei do Pan. Primeiro pela falta de tempo por causa da empresa. O segundo motivo é a falta de competição de interesse, ainda mais agora. É difícil conciliar. Cheguei a parar de disputar competições em 2014. Mas depois passei a sentir falta, porque sou competitivo, gosto muito da vela. Naquela época, criei uma motivação de trabalhar muito durante a semana para velejar aos fins de semana. Antes da ida ao Pan de 2019, estava sem velejar até o ano anterior. Faltava um objetivo. Ainda tive dificuldade para treinar para o Pan. Eu podia apenas aos fins de semana, mas não teve vento em muitos deles. Agora, quando tenho um tempo livre, tento surfar ou o kitesurf. A vela competitiva desgasta muito.
> O que você precisa para poder doar sangue
Há um ano você conquistava uma medalha em uma competição internacional de grande porte, os Jogos Pan-Americanos. Qual a cena que não sai da cabeça?
Continua depois da publicidade
Completou um ano na última segunda-feira, dia 10. A conquista foi uma sensação muito forte, maior que em 2011, em Guadalajara (no México). Isso por causa de ter parado e voltado. Cheguei a Lima com um nível de cobrança baixo. Foi uma das poucas vezes que cheguei com um nível baixo em um evento, e logo em um tão importante. Mas, à medida que fui treinando e conhecendo a Baía da Paracas, local da competição, percebi que consegui atingir um nível legal. Quando senti que tinha chance de vencer, tive a sensação que nunca havia parado de velejar. O fato de ficar por tanto tempo afastado gerava insegurança. Porém, na competição voltei a sentir o nervosismo de competir, e isso restabeleceu a vontade de ganhar.
A determinação e o foco que a vela traz ajuda muito especificamente no tipo de negócio com que trabalho.
Atualmente, você atua no mundo dos negócios, em uma empresa que auxilia outras empresas a usar melhor os dados que acumula e tomar as melhores decisões. De certa forma, a vela tem relação direta, sobre a tomada de decisão e os impactos. Como você lida com isso?
O esporte ajuda muito, sempre falei e pensei isso. Recentemente, fazendo uma parceria com uma empresa dos EUA foi conversado sobre as minhas características e apontaram que sou o “caso de atleta”, que é o tipo de pessoa que bota uma coisa na cabeça e vai até o fim, não deixa nada pela metade. A determinação e o foco que a vela traz ajuda muito especificamente no tipo de negócio com que trabalho. Eu me envolvo profundamente, “all in”. A vela é um esporte estratégico, te obriga a pensar nas variáveis, no que aconteceu quando na regata anterior passou no mesmo lugar, no vento, nas condições da prova… Você fica o tempo todo analisando e direcionando a estratégia. Claro que têm as particularidades, mas é com o que trabalho hoje na tecnologia.
> 10 lugares para conhecer em Santa Catarina
O esporte o ajuda a ser mais bem sucedido no mundo dos negócios ou o mundo dos negócios lhe ajudou a ser mais bem sucedido no esporte?
Continua depois da publicidade
O esporte é que me ajudou nos negócios, sem dúvidas. Confesso até que às vezes tenho dificuldade de botar na cabeça que sou empresário, e não mais atleta. O esporte sempre foi importante na minha vida, meu hobby, e depois vinham as competições. Por algum tempo aliei a vela com estudos, e depois foquei na profissão. O esporte me ajudou muito pela determinação e foco que me deu.
> Painel do Coronavírus: veja em mapas e gráficos a evolução dos casos em SC
> O vírus está nas roupas, nos sapatos, no cabelo ou no jornal? Entenda