Quarto livro do cantor, compositor, dramaturgo, roteirista e visionário carioca Fausto Fawcett, FAVELOST se equilibra em uma narrativa de cadência musical, DJs especializados em scratches de ladainha à procura do funk oculto na cabala, bailes de ortodoxias, realejos muçulmanos com o corpo tatuado com arabescos, e repovoa de personagens híbridos a fauna do autor: Júpiter Alighieri, Eminência Paula, Madalena Chaparral, Jesus de Barrabás, Batman de Dostoievski.

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O livro reúne quatro histórias paralelas, passadas no que Fawcett chama de mancha urbana, um futuro em que as metrópoles Rio e São Paulo terão se unido e entre elas haverá uma gigantesca favela sem regras civilizatórias. ?

– E essa mancha acontece de forma tão violenta que você não tem mais Taubaté, Volta Redonda, todas essas cidades se tornam localidades dentro da mancha urbana. Não há mais municípios, foram engolidos por essa avalanche de gente, viraram bairros dentro da superfavela. Aí, a notícia dos atores de Lost jogados na “nova Canaã”, e toda aquela mancha acaba sendo apelidada de Favelost – diz. ?

Do livro nascem as letras das canções (ele chama de ópera-rap), excertos que ganham vida própria sob bases de solos de Jack White, cantos gregorianos, Rolling Stones, guitarras e títulos inacreditáveis: Terreno das Vísceras Abandonadas, Beco das Bíblias Bastardas, Os Céus Estão Explorados Mas Vazios, Reza Ponto Funk, Patricinhas Vorazes, Fanáticos Online. “Quando bate um Gengis Khan no coração…”, diz a letra de Asia 666, sob um clima de megalópole de Blade Runner, uma miscelânea urbana. ?

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Fausto Fawcett equilibra suas ficções nos restos da crônica humana cotidiana, uma crônica que ele alimenta com musas midiáticas (Sandra Bullock, Farrah Fawcett, Regininha Poltergeist). ?

– Caminhões derramam sobras de tratorias no terreno das vísceras abandonadas, lixão de órgãos frequentado por legistas contrabandistas ligados ao contrabando de vísceras, fígados europeus, intestinos africanos, corações asiáticos, muitos cérebros americanos – acrescenta. ?

Fausto Fawcett é autor de hits antológicos como Kátia Flávia, a Godiva do Irajá (com o guitarrista e eterno parceiro Laufer, 1987), Rio 40 Graus (Laufer e Fernanda Abreu, 1992), Garota Sangue Bom (1994) e Balada do Amor Inabalável (com Samuel Rosa, 1998). Em 1987, mudou a música pop ao lançar o disco Fausto Fawcett e os Robôs Efêmeros, uma antevisão da cena do hip-hop, do funk de linha de montagem e da crônica da mundanidade carioca. Gravou três discos com os Robôs Efêmeros: Fausto Fawcett e os Robôs Efêmeros (1987), Império dos Sentidos (1989) e Básico Instinto (1993). ?

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Antes de Favelost, havia publicado três livros: Santa Clara Poltergeist (1990), Básico Instinto (1992) e Copacabana Lua Cheia (2001). Quando o dramaturgo Mário Bortolotto, seu amigo, foi atingido por cinco tiros numa tentativa de assalto na Praça Roosevelt, Fausto Fawcett escreveu um poema-manifesto sobre o caso. ?

“Respira perigo mas não pode comigo e eu te digo por que/porque eu sou aquele que vai contra tudo que é pouco/pouco concentrado/pouco maluco/ pouco sério/pouco largado/pouco obsessivo/ pouco generoso/pouco amigo/pouco inimigo.”