Na Terra, o caos climático. No Oriente, Japão e China em crescente desafio. No mundo muçulmano, a explosão de violência contra alvos ocidentais.

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Esses são os temas que vão dominar a 67ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, e pontuar amanhã o discurso de abertura do evento pela presidente brasileira Dilma Rousseff, que tende a ser genérico sobre a situação internacional e dificilmente será marcado por polêmicas. As palavras pelas quais todos esperam são as de Mohamed Mursi, o novo chefe de Estado do Egito.

Como ator em crescimento no debate global, o Brasil ainda está modulando a voz nas grandes discussões. Deve ser pouco incisivo em questões como Síria ou Primavera Árabe e mais específico em temas ambientais – retomando o tom de cobrança para que os países desenvolvidos aprovem medidas ambiciosas de cooperação com o desenvolvimento sustentável.

– Como o Brasil sediou a Rio+20, o discurso deve enfatizar que o país cada vez mais se credencia a ter um papel maior na sociedade internacional. A parte ambiental deve ter um destaque maior – analisa o professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Virgílio Arraes.

De acordo com o professor, o discurso de abertura da conferência busca enfatizar a disposição do Brasil em participar dos assuntos mundiais:

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– É uma espécie de cartão de apresentação. Então não é um discurso que vai marcar pela polêmica, ele é mais conciliatório.

O encontro é marcado por uma situação internacional caótica, na qual a ONU tem se mostrado pouco eficiente na estabilização de conflitos regionais. Um dos principais vexames internacionais é o conflito sírio entre rebeldes e o governo Bashar al-Assad, que já deixou quase 30 mil mortos. Sobre o tema, Dilma deverá posicionar-se mais uma vez contra a intervenção militar e pedir o fim da violência, mas sem condenar Bashar al-Assad. No ano passado, quando a Líbia passava por situação semelhante, Dilma declarou apoio aos insurgentes, que semanas depois mataram o ex-ditador Muamar Kadafi.

Um dos pontos tensos deste ano é a disputa crescente entre o Japão e a China pelas minúsculas ilhas Diaoyu/Senkaku.

– Dificilmente a presidente brasileira vai falar sobre China e Japão, pois o país não tem muito a acrescentar na questão. O Brasil precisa se limitar aos locais onde tem conhecimento, experiência – acredita o professor de estudos internacionais da Johns Hopkins University Riordan Roett.

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Autor de quatro livros sobre questões que envolvem a política e a economia brasileiras, Roett também não vê espaço para grandes controvérsias, já que o Brasil pratica uma diplomacia “sem arroubos de populismo como Hugo Chávez ou Cristina Kirchner”.

Na agenda de Dilma, está marcado apenas um encontro, com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Até agora, não há perspectiva de reunião com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, atualmente preocupado com a campanha de reeleição.

O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Antonio Patriota, terá uma agenda paralela cujo tema é o esforço para a ampliação do Conselho de Segurança da ONU, que conta com cinco membros permanentes e 10 rotativos. O governo defende a ampliação para, pelo menos, 25 lugares.

No ano passado, a presidente foi a primeira mulher a discursar na abertura da Assembleia Geral da ONU. Tradicionalmente, o Brasil abre o evento.

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Veja alguns dos principais pontos programados para Dilma abordar em seu discurso na ONU:

Mundo

– Não deve criar polêmica, mas fará referências à guerra civil síria, defendendo o fim da violência por meio do diálogo, da não intervenção militar e do respeito aos direitos humanos e à ordem democrática.

– O ponto que pode gerar maior controvérsia deve ser a menção da presidente ao direito dos territórios palestinos se tornarem um Estado autônomo, similar ao discurso de 2011.

Economia

– Deve reiterar que apenas esforços conjuntos na busca por soluções para conter os efeitos da crise econômica internacional evitarão danos às metas de inclusão social e redução da pobreza no mundo.

Ambiente

– Os avanços obtidos na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho, principalmente a redução da emissão de poluentes e o investimento em fontes de energia mais limpas.

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América Latina

– Deve citar a relação entre integração e democracia, uma referência ao que ocorreu no Paraguai durante a destituição do então presidente, Fernando Lugo. Para o Brasil, a ordem democrática não foi respeitada.