Em seus tempos áureos, os produtos da Metalúrgica Duque e da fabricante de ônibus Busscar estavam entre os melhores do Brasil. Suas marcas tinham o respeito de todo o mercado.

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Mas com o passar dos anos, os problemas internos destas duas companhias familiares e tradicionais de Joinville foram agravados pela crise financeira mundial de 2008. As tentativas que se seguiram para alavancar os negócios não foram suficientes.

Hoje, o cenário é de desolação nas duas empresas. Ainda há galpões e máquinas nos parques fabris, mas o silêncio nos corredores lembra o de uma casa fechada – na Busscar, o maquinário está criteriosamente embalado.

Atoladas em dívidas e sem recursos para produzir e pagar os funcionários, Busscar e Duque não tiveram outra saída a não ser fechar o parque fabril. Apenas alguns poucos trabalhadores da área administrativa passam pelos portões diariamente.

Nos próximos meses, espera-se uma definição para o estado quase vegetativo das operações. Tanto a Busscar quanto a Duque estão prestes a submeter aos credores um plano para retomar as atividades gradativamente e pagar as dívidas por longos anos. A outra opção é a decretação da falência.

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Executar um plano de recuperação só se justifica quando o negócio é viável economicamente. E esse é o principal desafio agora: resgatar a confiança dos credores e do mercado no negócio. Será que elas vão conseguir?

Sobre a Busscar, pesa o valor da dívida: R$ 1,6 bilhão. O advogado Cristiano Garcia, que representa cerca de 300 ex-trabalhadores da companhia, é um dos que consideram o caso sem solução por avaliar que a dívida é impagável.

Outro fator que vai contra a empresa é o tempo de inatividade. A fábrica está parada desde setembro de 2012.

O advogado da Busscar, Euclides Ribeiro S. Júnior, ressalta, porém, a força da marca no período de atividade e o fato de que o mercado nacional não criou um substituto à altura. Ele enxerga uma demanda reprimida para os produtos da empresa.

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Nos bastidores, comenta-se, também, que alguns players gostariam de estimular a concorrência no segmento – a produção de ônibus de luxo, por exemplo, é dominado pela gaúcha Marcopolo.

Outro cenário, mesmas dificuldades

A situação da Duque é vista de forma um pouco diferente. O valor da dívida não é tão alto e a empresa fechou há menos tempo, em novembro do ano passado. No entanto, a Corporate Consulting, consultoria responsável pelo diagnóstico da metalúrgica antes da elaboração do plano, chama a atenção para um fator que tornaria difícil a volta por cima.

Na visão de seu presidente Luiz Alberto de Paiva, alguns produtos da companhia estão ultrapassados.

A atual consultoria que revisa o plano, a Value Assessoria de Negócios, discorda, embora reconheça que parte do portfólio precisa ser revisto. O representante da consultoria, Magnus Carvalho do Couto, diz que a Duque sempre foi referência no mercado, tem produto de qualidade e produtividade superior aos concorrentes.

A Hora H

A decisão se dará pelo voto na assembleia geral dos credores, onde estarão presentes representantes de trabalhadores, bancos, fornecedores e sócios. Só que este mecanismo não é meramente técnico.

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A dinâmica da assembleia assemelha-se à eleição de governantes. Os interesses da sociedade misturam-se aos interesses de cada parte – ninguém quer ficar de fora do bolo – e uma ampla negociação se desenrola nos bastidores para contemplar aqueles que podem decidir a votação.

Os dias que antecedem a assembleia são decisivos. Aliados trocam de lado e tudo pode mudar da noite para o dia.

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