O Diário Catarinense entrevistou cinco candidatos à prefeitura de Criciúma. Confira abaixo a entrevista com o candidato Odelondes de Souza (PSOL):
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Ações na justiça têm sido recorrentes nas eleições em Criciúma. Como você vê essa questão e é possível se beneficiar dela?
Odelondes – É ruim porque a cidade sofre muito com as instâncias, se houvesse uma decisão na instância federal, estadual e municipal, sentasse e resolvesse, não teria problema nenhum de levar ao judiciário. Quem dá essa instabilidade jurídica é o próprio poder jurídico, o candidato X ou Y não vai tocar a vida para frente, e a cidade também não. Eu corro por fora porque não vou entrar na justiça por uma coisa que não está diretamente com o nosso partido, essa disputa se dá muito por uma questão de poder.
Você diz que tem um diagnóstico de Criciúma e da administração municipal. Qual diagnóstico é esse?
Odelondes – É o pior possível por conta da forma da gestão que vem sendo aplicada. Gestão fechada, dos partidos coligados, leva um monte de secretários lá para agradar todos aquelas coligações, incha a máquina e acaba onerando sem muita eficiência. A visão que a gente tem é que o servidor público toque a prefeitura, saúde, pega um camarada de carreira e coloca lá, educação, a mesma coisa. O diagnóstico da cidade nos preocupa, nós precisamos colocar o dinheiro público naquilo que é público, e está sendo o inverso, terceirizando, criando uma dívida muito grande. No caso prefeitura, nós temos uma dívida R$ 5 milhões ao mês, uns R$ 60 milhões ao ano. Dívida com fornecedores, com o Hospital Santa Catarina, com o pessoal dos resíduos sólidos. A prefeitura está deficitária, isso sem contar a dívida pública, R$ 180 milhões de precatórios. É uma culpa desse gestor? Não, é uma culpa da forma da gestão que vem vindo, do modelo equivocado, que está na contramão no que diz respeito a sustentabilidade financeira.
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A insegurança preocupa os moradores. Mesmo sendo atribuição do Estado, o que o município pode fazer para a população viver melhor?
Odelondes – A segurança é uma questão do Estado, mas tem a corresponsabilidade dos municípios. A segurança tem uma consequência muito grande porque falta investimento no social, em saúde, educação. É muito mais atrativo o crime, a vida solta, sem responsabilidade. A rua não pode ser mais atrativa do que a escola.
E na questão do efetivo policial, como conseguir junto ao Estado profissionais para suprir essa demanda, que é geral?
Odelondes – Qualquer número de policial que você trouxer para cá não vai resolver o problema da segurança, porque o policial não consegue estar em todos os cantos da cidade. Com um efetivo maior melhora para os próprios policiais, que não precisam atingir uma carga de trabalho tão grande, e é uma forma da cidade ter o retorno do estado daquilo que contribuiu com impostos, paga muito, esse retorno tem que ser maior. Quanto mais policial, a segurança será uma coisa presente no dia a dia, não precisa sair no combate direto à criminalidade, tem que fazer a prevenção.
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A Guarda Municipal é outro ponto de discussões entre os candidatos. Qual a sua posição a respeito do armamento e da função desses profissionais?
Odelondes – A Guarda tem uma característica de não ser ostensiva, nós precisamos modernizar a relação de pessoas com a guarda, a Polícia Militar já existe, tem um treinamento, uma estrutura, a guarda tem uma função específica diferenciada, tem que abordar as pessoas para educar a não colocar papel no lixo, a não cuspir no chão. Essa guarda tem esse papel, que o cidadão seja orientado a fazer diferente. Você militariza a guarda, ai surge uma nova por exemplo, de bairro, e logo estão querendo armar. O que era pra ser preventivo, se torna ostensivo, e é um crime isso.
Em tempos de crise, como garantir recursos para fazer andar os projetos e obras do município?
Odelondes – Nós temos muitos recursos no orçamento dos ministérios, esse dinheiro está lá, só basta o município ter projetos para esse recurso vir. Nós temos condições de fazer com que o retorno desses impostos venha com mais eficiência. Temos que começar a pensar que o imposto progressivo é uma possibilidade, quem tem mais, paga mais. Aí você vai dar condições de bem e serviço serem isentados, faz a rotatividade da economia e quem paga mais são os grandes. Imposto progressivo e imposto direto para nós são alternativas para o município arrecadar mais. Outra questão é a corrupção tem que ser banida, come e assola nosso recurso público.
O transporte público de Criciúma precisa de uma nova licitação? Ou de um novo modelo?
Odelondes – Eu romperia imediatamente o contrato e abriria licitação para que a sociedade participasse. Criar uma empresa pública de transporte, uma licitação transparente. Ao mesmo tempo trabalharíamos com a possibilidade de criar uma frota única, para ter concorrência, uma frota municipal para fazer com que ela fosse atrativa para o cidadão, diminuísse o valor da cobrança e houvesse concorrência. A passagem também poderia ser subsidiada por empresários e o poder público o transporte para trabalhadores e estudantes, hoje quem paga praticamente para os trabalhadores é o empresário, é descontado 6% do seu salário, essa taxa já entraria pra empresa pública baixar a tarifa, os estudantes e pensionistas do INSS sem recurso ou baixa renda estaria isentando da passagem.
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No campo da mobilidade urbana, quais as necessidades primordiais?
Odelondes – Uma ciclovia onde o cidadão pode ir da Grande Próspera até Mãe Luzia, ligando as ruas da cidade, todas ruas podem ter, pequenas, mas tem que ter. Tiraria o volume de carros na cidade, também um bicicletário com opção de empréstimo a preços populares. A questão da mobilidade passa também pelo transporte coletivo, revitalização das ruas, calçadas, acessibilidade. Temos condições da mobilidade ser mudada com pequenas coisas.
A Casan também tem problemas de licitação. Como você lidaria com essa questão, caso fosse eleito?
Odelondes – Nós defendemos o que é público tem que ficar com o estado. Os grandes países não abrem mão porque não podem ser privatizados os bens da humanidade. Eu romperia esse contrato porque não foi feita uma avaliação de fato, queria ver se está certo a planilha, fazer a gestão. O contrato que seja assinado precisa passar pela auditoria, sociedade, poder público, e precisamos rever o custo disso.
O Hospital Santa Catarina, quais os planos para essa instituição?
Odelondes – Primeiro temos que discutir a saúde como um bem público, a preventiva com a saúde da família bem intensificada, encaminhar para cada regional ter uma UPA, e depois um hospital público regional, que atenda todas as cidades. O Santa Catarina não vai conseguir atender a população toda, então ele tem que ser pediátrico, do estado, com a participação do município. Ao invés de pagar plano de saúde privado, a pessoa podia pagar R$ 100 na taxa pela Celesc, empresários que dão contrapartida na saúde dos trabalhadores, também. Nós precisamos ser ousados, criativos, eu provo matematicamente que é possível ter e manter um hospital regional aqui.