O ritmo acelerado com que a transformação digital está mudando a realidade de empresas, serviços e até da sociedade está exigindo atualização constante nos métodos de ensino das universidades e escolas de ensino profissionalizantes catarinenses. Embora a matriz curricular tradicional permaneça vigente nas instituições, elas estão buscando inserir conteúdos e formas de aprendizagem diferenciados. A intenção é contribuir para formar profissionais mais preparados às demandas atuais do mercado de trabalho.

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Um dos exemplos interessantes é aplicado no Senai Norte de Joinville, nas turmas de Desenvolvimento de Sistemas, em que o modelo é totalmente invertido. Não existe professor fixo, nem mesmo disciplina fixa. Além disso os estudantes, do primeiro ao último ano, compartilham conhecimento num mesmo ambiente e trabalham juntos por projetos. O resultado é mais atratividade e índice de evasão praticamente zero, conta Denise Rengel, Coordenadora da Faculdade Senai de Joinville.

— Sentimos que esse método faz a diferença, porque esses estudantes trabalham o dia inteiro e já vem com outra dinâmica para a sala de aula e aí a gente acredita muito nesse modelo invertido, porque ele já parte de um projeto para a teoria e não da teoria para o projeto. Essa é uma inspiração que vem da nossa incomodação com o que a gente tinha quando estudantes — diz ela.

Como uma ‘escola sistêmica’, neste novo modelo já aplicado no Senai os alunos aprendem por meio de trilhas de conhecimento que contêm setores no qual estão inseridos os conteúdos de ensino – estes mediados por um professor.

— Percebemos com esses métodos uma evolução muito mais rápida do que no meio tradicional, a resposta é extremamente maior e você trabalha o individual para o coletivo. Então, em determinado momento eles precisam unir seus projetos e cada um traz a vivência das suas trilhas e compartilham conhecimentos e resultados — avalia o professor Silvio Luis de Sousa.

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As novas metodologias se apresentam como uma forma de extensão ao mercado de trabalho, uma vez que reúnem experiências como as das indústrias, que envolvem técnica, gestão, responsabilidade e projetos – muitos deles visando criar soluções diretas para problemas da indústria. Conforme Marcos Hollerweger, Diretor do Senai/Norte e Nordeste de Santa Catarina esse alinhamento é importante, principalmente porque a faculdade forma os profissionais de acordo com o perfil que os empregadores precisam.

— O que se percebe é que há uma mudança no perfil do profissional exigido. Nós precisamos muito mais formar profissionais que conheçam de automação, robótica, mecatrônica, programação e linguagem de máquina, do que um operador de máquinas. Temos percebido essa exigência das indústrias com foco na área tecnológica e isso tem exigido também do Senai preparar os seus profissionais para atender a essa nova economia — afirma ele.

Formação de engenheiros mudou

Uma das mudanças aparentes é na formação dos engenheiros mecânicos. Na forma mais tradicional o engenheiro era formado com foco no ‘hardware’, na máquina física. Agora deve pensar de forma mais ampla, também no software e na aplicação que o equipamento terá. Isso já acontece desde os primeiros semestres do curso, onde os futuros engenheiros são desafiados a trabalharem com máquinas 3D e a criarem drones com missões específicas.

Alunos do segundo semestre, Rafaela Silvano e Orides Marques Filho, ambos de 18 anos, relatam que nesse modelo de ensino a teoria é vista aplicada na prática, o que os motiva a conhecerem outras áreas para além da engenharia. Eles realizam desde o protótipo até a programação e as funcionalidades do sistema. Nas próximas fases terão ainda a missão de resolver demandas próprias da indústria e, por consequência, desenvolver habilidades exigidas pelo mercado também no sentido humano, como trabalho em equipe, comunicação e liderança.

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— A proposta deles (Senai) é praticar uma engenharia diferente das convencionais, então esse contato com os projetos práticos eu viria a ter no terceiro ou quarto ano, já está acontecendo desde o primeiro semestre. Quando formarmos vamos entrar mais preparados no mercado de trabalho — acredita Orides.

Institutos Senai desenvolvem tecnologias de ponta

Indo além da formação via salas de aula, os Institutos Senai de Inovação conectam o conhecimento gerado nas instituições de ensino com a realidade do mercado, com objetivo de aumentar a produtividade e a competitividade da indústria. No país são 25 unidades que desenvolvem tecnologia de ponta e soluções inovadoras sob medida para empresas de todos os portes, três deles estão em Santa Catarina: Sistemas de Manufatura e Processamento a Laser, em Joinville, e de Sistemas Embarcados, em Florianópolis.

O Instituto da capital, inclusive, deve despontar para o País como o desenvolvedor do primeiro satélite do País desenvolvido pelo setor privado no Brasil. O “nanossatélite” deve ficar pronto até 2020 e orbitará a Terra a uma altitude de 600 quilômetros, dando uma volta no planeta a cada hora e meia. O investimento no satélite é de R$ 12 milhões e, entre suas funções, o sistema poderá coletar dados de estações hidrometeorológicas sobre a qualidade das águas. Outra potencialidade é gerar informações sobre desmatamento ou para aplicação em agricultura de precisão.

O Senai catarinense conta também com Institutos de Tecnologia nas cidades de Chapecó, Blumenau, Florianópolis, Jaraguá do Sul, Itajaí e Criciúma que dão suporte à indústria nos setores de alimentos e bebidas; têxtil, vestuário e design; ambiental; automação e TIC; Eletroeletrônica; Logística e Materiais.

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UFSC amplia escopo de pesquisas voltadas às demandas atuais da indústria

Considerada a mais importante instituição de ensino superior do Estado, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) promete ser uma das peças fundamentais desse novo modelo econômico traçado para Joinville e Santa Catarina. Na maior cidade do Estado, e instituição investe principalmente nos cursos de engenharia que convergem diretamente com áreas que demandam inovações constantes: aeroespacial; automotiva; de infraestrutura; transporte e logística; ferroviária e metroviária; mecatrônica e naval.

Essa referência faz com que muitas das pesquisas aplicadas desenvolvidas nos 31 laboratórios do campus sejam feitas em conexão com a indústria local. Entre os exemplos de projetos por parceria está o desenvolvimento de protótipos de carros de corridas elétricos e pesquisas científicas para gerar maior eficiência de combustível para automóveis híbridos.

— A indústria entra com toda a sua estrutura, seu apoio e sua bagagem e nossos alunos desenvolvem desde a fase conceitual até a execução de um veículo, por exemplo. É dentro desse processo em que acontece a interação da universidade com a indústria. Eu digo que se não fosse pela parceria com a iniciativa privada, um projeto complexo, de um veículo (elétrico) como o desenvolvido aqui, não sairia do papel — reflete o professor de engenharia, Modesto Hurtado Ferrer.

Essa reformulação na relação entre academia e iniciativa privada também está exigindo que algumas disciplinas sejam repensadas e outras criadas para acompanhar as novas tendências de mercado.

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— A mudança que percebemos está em trazer essas tecnologias para dentro da sala de aula, como por exemplo, da Indústria 4.0. Essa é uma tendência irreversível e estamos começando a criar disciplinas que falem especificamente disso, além disso temos projetos de pesquisa e extensão em andamento tanto com voluntariado quanto nos cursos de graduação e pós-graduação — atesta Lucas Weihmann, vice-diretor da UFSC, em Joinville.

A interação também possibilita que os futuros profissionais encontrem nas pesquisas o caminho que querem seguir depois de formados. Esse é o caso do estudante de engenharia automotiva Alan Moura, que participa de projetos relacionados às inovações do setor para se preparar, “ciente das transformações da indústria”. Outro exemplo vem do mestrando em ciências mecânicas, Guilherme Batalha, que busca redefinir a carreira através das pesquisas que faz nos laboratórios da universidade.

— Atuar na indústria automobilística sempre foi o meu sonho e eu estou aqui num programa de mestrado para redirecionar a minha carreira e é por isso que eu já estou mais voltado para um projeto aplicado de otimização automotiva, para que quem sabe quando me tornar mestre eu possa atuar diretamente no departamento de pesquisa e desenvolvimento de uma empresa automobilística — idealiza.