Passagens compradas, roteiro feito, amigos esperando. Finalmente a oportunidade de conhecer a Austrália. Na semana da viagem a pandemia do coronavírus explodiu no mundo com os Estados Unidos proibindo vôos da Europa de chegarem aos aeroportos americanos. Mantive a viagem e o sonho porque sabia que aqui na Austrália estava tudo calmo.
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Mas um dia antes do embarque percebi que essa viagem seria diferente. Fui atrás de máscaras em Florianópolis e não encontrei. Mas, quem tem amigos tem tudo, e uma amiga enfermeira me cedeu umas que ela tinha em casa. Cheguei no Aeroporto de Florianópolis cedo, pouco movimento e pouca gente usando máscara. Decidi usar porque não dá pra brincar com saúde. Confesso que me senti um "ET" nos primeiros momentos. Aos poucos foram chegando passageiros de máscara.
Em São Paulo já me senti no "modelito" da hora. Muita gente usando.
Mas no desembarque em Santiago, no Chile, que caiu a ficha: o mundo vivendo um surto. Foi um choque. Muito mais gente de máscara e todos que, mesmo de passagem pelo país como eu, tiveram que passar pela " blitz da temperatura". Pessoas com febre não entram no país. Vão direto pra quarentena. Passei pelo exame e segui viagem.
No vôo para a Austrália muita gente de máscara. E é uma sensação de medo no ar. A cada espirro ou tosse de alguém que está sem máscara, bate uma tensão. Os "ETs" agora eram as pessoas que estavam sem máscara. Parece um julgamento coletivo: "você aí sem máscara, que está tossindo, está colocando minha saúde em risco".
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Antes de pousar o comandante do avião solicitou que caso alguém tivesse sintomas de gripe, que se dirigisse ao atendimento no aeroporto. Na imigração a pergunta era feita mais de uma vez: você está com febre? Esteve na China?
Depois de responder várias vezes finalmente fui autorizada a entrar na Austrália.
Meus amigos Adria Figueira Dias e Fernando Mello me levaram direto a um bairro antigo de Sydney hoje chamado de New Town. Na verdade é a área central de Sydney que foi revitalizada com a abertura de bares e restaurantes alternativos. Já era noite de sábado aqui e o movimento estava "bombando". Ninguém de máscaras. Mesmo em ambientes fechados. Voltou aquela sensação de tranquilidade.

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Mas quando estávamos indo embora vi pessoas carregando fardo de papel higiênico, em plena noite de sábado. Achei engraçado. Minha amiga que mora aqui explicou: com o comunicado do governo avisando que pessoas com sintomas teriam que ficar quarentena foi uma correria aos supermercados. E o artigo alvo de brigas foi o papel higiênico. Qual o motivo? Ninguém sabe.
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Você vai hoje nos supermercados daqui e encontra prateleiras vazias. E se quiser comprar papel higiênico tem que madrugar. E aqui não havia motivo algum para essa corrida e estocagem de alimentos e de papel higiênico. Mas talvez a notícia de que o ator Tom Hanks e a esposa, que estão aqui a trabalho, testaram positivos para coronavírus, tenha pilhado os australianos.
Neste domingo, o governo australiano determinou que a partir desta segunda-feira, o país passa a recomendar 14 dias de quarentena para quem chega de outros países.
Fato é que eu fiquei pensando na loucura que é viver num mundo globalizado. E o quanto a gente subestima isso.
Não tem mais aquele negócio de " ah, isso está longe de mim. " Não está não, meu amigo. Num piscar de olhos o corona se espalhou pelo mundo. E vivemos todos apavorados com o espirro alheio.
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