Diretor da Deic (Diretoria Estadual de Investigações Criminais) há três meses, o delegado Akira Sato envolveu-se na sua primeira medida de impacto e repercussão em Santa Catarina.

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Por decisão que afirma ser pessoal e de caráter administrativo, ele afastou da Deic o colega Alexandre Carvalho, da Divisão de Furtos e Roubos.

A saída de Alexandre ameaça gerar uma nova crise entre delegados da Deic e a cúpula da Secretaria de Segurança Pública (SSP). Isso porque há colegas policiais de Alexandre que associam a sua remoção como represália política pelo fato de ele ter comandado a investigação do desvio de peças do pátio da SSP, em São José.

No inquérito, Alexandre indiciou seis pessoas, entre elas o secretário-adjunto e número 2 da SSP, o coronel Fernando de Menezes.

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Por telefone, o delegado Akira conversou na tarde deste domingo com o Diário Catarinense, onde explicou a saída do colega e também comentou sobre especulações e troca de outros delegados da diretoria.

Entrevista: Akira Sato, delegado diretor da Deic:

Diário Catarinense – Qual a motivação do afastamento do delegado Alexandre Carvalho?

Akira Sato – Simplesmente substituição. O único episódio que não houve foi a questão política dos ferrosos (inquérito do ferro-velho). Se fosse assim, o Green (delegado Rodrigo Green) teria que ir junto. É questão de administração e profissionalização da Deic. Estamos buscando metas. Observei por três meses. Todos tinham para esse tempo para mostrar o seu trabalho, a dedicação. A Deic é uma especializada em que se deve ter dedicação e compromisso exclusivos. E compromisso não é só dos policiais civis, agentes e escrivães, mas principalmente de quem comanda, quem lidera.

DC – Mas na sua avaliação ele não vinha tendo resultados? Afinal, ele comandou operações com destaque…

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Akira – Uma coisa é a equipe dele fazer e uma coisa é ele liderar. Ele estava de férias esse último mês e a equipe produziu muito mais. É uma questão individual e observei cada delegado, cada comando. E o comando dele no grupo não me agradou.

DC – Quem assumirá no lugar dele?

Akira – O delegado Rafael Werling de Joinville. Está vindo também para a Deic o delegado Joca (Antônio Cláudio Seixas Joca, da 8ª DP da Capital) e o delegado Procópio (Procópio Batista Silveira Neto, de Balneário Camboriú). São policiais de grande importância e estão fazendo o diferencial. A oportunidade tem que ser dada. Estão vindo ainda mais 15 policiais para cá.

DC – Há quem diga que a troca de Alexandre tenha sido política?

Akira – Não, de forma alguma. Ao longo dos três meses foram feitas várias mudanças. Ninguém falou do delegado Célio (Célio Nogueira, ex-subdiretor da Deic, que também saiu do cargo). Então não posso deixar o cara se valer de garantir a vaga dele em cima de polêmica. Vai se garantir sim em cima de seu trabalho e de sua dedicação de comando. Não vi trabalhos com crime organizado. Vi muito aquela coisa escolhida pelos agentes, mas que não foi feita pensando uma profundidade financeira. Vi uma coisa muito superficial. Como eu trabalhei com veículo eu vi que dá para fazer muito mais.

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DC – Teve alguma determinação superior para afastá-lo?

Akira – Pelo contrário. O doutor Aldo (Aldo Pinheiro D’Ávila, delegado geral da Polícia Civil) está em férias e o doutor Valério (Valério Brito, delegado geral adjunto) me ligou querendo saber, porque viu na televisão e não tinha conhecimento. Acho que a minha decisão é como qualquer outra. Quantos não estão sendo apresentados ao delegado-geral para que ele faça a distribuição? Agora, estão dando muito ênfase ao Alexandre pelo trabalho dele nos ferrosos. O trabalho dele foi muito bem feito. Mas no meu ponto de vista ele demorou muito para fazer esse trabalho, ainda mais em dois delegados. Mas não vou entrar no mérito porque esse inquérito não é da minha época. O que tinha de ser feito foi e ninguém fez qualquer tipo de pressão.

DC – O senhor encontrou um cenário de pouco trabalho na Deic?

Akira – Não vou dizer de pouco trabalho, mas assim, eu trabalhei muito mais e sei que dá para fazer muito mais. É só se dedicar um pouco mais.

DC – É fato que existe movimento político muito forte na Deic e por isso esse questionamento agora sobre o afastamento do delegado Alexandre…

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Akira – Olha, indiciamento do secretário-adjunto (da SSP)… se a gente for na lógica, eu acho que na prática mesmo, o que a gente conhece nas divergências e discussões entre Policia Civil e Polícia Militar, talvez eu poderia falar que sou delegado e o coronel que é PM. Eu poderia estar de acordo com o Alexandre e falar, ‘ó arrebenta mesmo’. Mas não é por aí não. Eu não penso dessa forma. Não sou político, não tenho partido político algum, não sou amigo pessoal do doutor Aldo, não frequento a casa dele e nem sei onde é Rio do Sul. Muito menos com o secretário e outros que têm lá. Então não tem porque me cobrar. Até hoje não tive nenhum pedido deles. Eu falei para o doutor Aldo e para o doutor Grubba (César Grubba, secretário da SSP) quando me chamaram, na primeira interferência que fosse feita, ou eu voltava para Brasília ou eu voltava para Joinville.

DC – Há comentários de mais trocas na Deic. Qual é a situação do delegado Cláudio Monteiro (ex-diretor da Deic)?

Akira – O Cláudio Monteiro você tem acompanhado o trabalho dele ao longo dos últimos anos. O cara é um monstro, tem uma dedicação. O cara é um exemplo. A questão administrativa dele eu não vou me manifestar, mas com relação ao trabalho que eu acompanho todo o dia, esse aí tem que tirar o chapéu. Ele permanece, não há o que falar.

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DC – Fala-se também que voltou a ser especulada a saída do delegado Renatão (Renato Hendges, da divisão Antissequestro da Deic e presidente da Associação dos Delegados). Procede?

Akira – De forma alguma. O Renatão é peça importantíssima em relação à capilaridade da informação, entre à articulação entre os estados e as polícias. Não tem o que falar. Ele é uma gama de conhecimento e informação incomparável, que ninguém tem.