*Por Jane E. Brody

Como a Covid-19 continua causando estragos em comunidades de todo o país, muitas pessoas acabam recorrendo a testes para comprovar a presença do vírus ou dos anticorpos contra ele, que indicariam infecção.

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Seja qual for o resultado, quem se submete ao teste enfrenta desafios, segundo especialistas. Quem teme estar com uma infecção agora pode ter sido exposto há muito tempo para ainda ter o vírus ativo – ou muito recentemente, para que o vírus esteja presente em quantidade suficiente à espreita no nariz, na garganta ou na saliva para aparecer em um teste. Mesmo quatro dias depois de um contato próximo com uma pessoa que está expelindo o novo coronavírus, 40 por cento dos testes com resultado negativo serão falsos negativos.

Assim, mesmo que o resultado de um teste para a Covid-19 seja negativo, é aconselhável que alguém que foi reconhecidamente exposto ao vírus se autoisole por 14 dias. E quem desenvolve os sintomas indicativos da doença deve se isolar durante todo o período e por mais três dias depois da recuperação.

No fim de junho, havia longas filas para os testes, observou o dr. Howard Bauchner, editor do “The Journal of the American Medical Association”. Segundo ele, as pessoas que estiverem bem de saúde e não tiverem sido notadamente expostas ao vírus não têm motivo para fazer o teste. Ele explicou que a realização excessiva de testes obstrui as linhas de teste e pode dificultar a realização deles por quem está realmente infectado, o que ajudaria a proteger os outros (a menos, é claro, que o teste faça parte do rastreamento de contatos ou envolva um grupo de pessoas designado pela comunidade para detectar um surto potencial).

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Em uma entrevista com Bauchner, a dra. Anne Schuchat, vice-diretora principal do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, disse que as pessoas às vezes se decepcionam quando o resultado do teste é negativo. No entanto, se você desenvolver sintomas, deve ficar em casa para evitar infectar outras pessoas e avisar aquelas com quem você teve contato nos três ou quatro dias anteriores, para que saibam que foram expostas ao vírus, acrescentou a médica.

Muitos buscam os testes na esperança de que já tenham tido a Covid-19 e agora tenham anticorpos na corrente sanguínea que possam protegê-los até que uma vacina eficaz esteja disponível. Infelizmente, os testes para detecção de anticorpos são muito menos confiáveis do que os que indicam a presença do próprio vírus. Esse é especialmente o caso de pessoas cuja doença foi relativamente leve e incapaz de estimular uma resposta imune prontamente detectável. Ou ela pode ter ativado a produção de anticorpos logo no início e estes não são mais detectáveis.

Uma advertência adicional: o FBI alertou no mês passado que golpistas estavam anunciando testes de anticorpos fraudulentos e orientou os que buscavam um teste a consultar o site da Food and Drug Administration (a agência federal norte-americana responsável pelo controle de alimentos e remédios) para obter uma lista aprovada de testes e de empresas que os aplicam.

Em uma entrevista, Michael T. Osterholm, professor de Saúde Pública da Universidade de Minnesota e especialista em doenças infecciosas, descreveu o cenário atual de testes como “uma terra sem lei”.

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Uma grande incógnita sobre os anticorpos da Covid é o nível necessário – ou mesmo que tipo de anticorpos são necessários em dado momento – para prevenir a doença. Também não se sabe quanto tempo essa imunidade pode durar. Com base em um relatório on-line da revista “Nature”, o dr. F. Perry Wilson, da Faculdade de Medicina de Yale, apontou que cerca de 20 a 30 por cento das pessoas que se recuperaram da Covid-19 não tinham níveis de anticorpos significativamente maiores do que aquelas que nunca foram infectadas.

Os dois principais tipos de anticorpos relevantes para a Covid-19 são a imunoglobulina M, que o corpo gera durante uma infecção ativa, mas que se dissipa gradualmente, e a imunoglobulina G, que são anticorpos que perduram por mais tempo no corpo. Mas Wilson enfatizou: “A mera presença de anticorpos não significa que eles sejam capazes de proteger.”

Da maioria das pessoas que produzem anticorpos, são os chamados anticorpos neutralizantes que podem impedir a multiplicação do vírus? Em um estudo laboratorial do plasma de 111 pacientes que se recuperaram da Covid-19 tratados no Hospital da Universidade Rockefeller, em Nova York, 33 por cento possuíam pouquíssimos anticorpos neutralizantes capazes de evitar uma reinfecção. Segundo Wilson, “os resultados aqui não foram tão encorajadores”.

Para ajudar tanto os profissionais de saúde quanto os leigos a fazer o melhor uso possível dos testes para a Covid, o Centro de Pesquisa e Política de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota compilou um documento sobre “testagem inteligente para ajudar a garantir que o teste certo seja dado à pessoa certa no momento certo, com o resultado sendo fornecido em tempo hábil para permitir ações que minimizem doenças, a morte e a transmissão”.

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Osterholm, diretor do centro, explicou que uma testagem precisa exige o uso de testes com menor probabilidade de resultados falsos negativos ou falsos positivos. Ele chamou os testes de drive-in, que muitas pessoas estão fazendo agora, de “terríveis”, pois geram muitos resultados falsos negativos e falsos positivos, em parte por conta da maneira como as amostras são coletadas.

Kelly Wroblewski, diretora de doenças infecciosas da Associação de Laboratórios de Saúde Pública, de Silver Spring, em Maryland, informou que, quando há uma prevalência relativamente baixa de doenças, como é atualmente o caso da Covid-19, as chances de obter resultados falsos positivos de testes de anticorpos aumentam. Scott Becker, diretor da associação, comentou que esses resultados produzem uma mensagem enganosa que faz as pessoas pensarem: “Estou seguro, posso seguir com minha vida.”

“Confiar cegamente em testes não faz sentido. Os testes para o vírus representam apenas um ponto no tempo. Uma pessoa pode receber resultado negativo hoje e positivo amanhã. Testar uma pessoa todos os dias não é prático. Limitar a exposição às pessoas e não ficar repetindo os testes nos ajudará mais”, disse Wroblewski.

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