Com 32 anos de atividades no Hospital Governador Celso Ramos, em Florianópolis, o atual diretor da instituição, o médico urologista Ivan Moritz, 58 anos, afirma que a greve dos servidores apenas escancarou o caos já existente no local. Confira a entrevista completa dada ao DC em sua sala, na tarde desta quarta-feira.

Continua depois da publicidade

ENTREVISTA: Ivan Moritz, diretor do Hospital Celso Ramos.

Diário Catarinense – Alguma medida tomada na reunião com o Ministério Público sobre a situação do hospital?

Ivan Moritz – Fomos provar a inviabilidade total do hospital nesse momento. Primeiro pela greve e segundo independente da greve. A conotação inicial que se dá é que tudo que está ruim no hospital se dá por causa da greve. Negativo. O caos já existe, tem 12 anos de evolução progressiva.

Continua depois da publicidade

DC – O senhor usou a expressão campo de guerra para o centro cirúrgico…

Moritz – Perfeitamente. Esse campo de guerra. Eu sou médico há 32 anos, não tenho vinculação política, se quiserem me botar para a rua podem botar. Não devo favor a ninguém e não tenho rabo nenhum. Sou médico. E diante da reunião que tivemos com todos os chefes do nosso corpo clínico, estamos temendo pela população da Grande Florianópolis e do Estado inteiro. Infelizmente esse hospital atende 60% de pacientes que não são da Grande Florianópolis, oriundos dos mais variados cantos do Estado onde habitualmente existem os hospitais regionais. Não digo do porte de complexidade desse hospital, mas que poderiam atender um básico. Vi agora uma ambulância vinda de Navegantes. Lá, em Itajaí, existe o hospital Marieta Konder Bornhausen, que tem convênio com o SUS. É porque na realidade eles recebem verba pública, que são considerados hospitais filantrópicos – eu acho essa expressão absurda, filantrópico é esse aqui que atende de graça. Lá eles têm 5% para atender SUS e recebem em troca disso uma verba do governo do Estado para atender a esses pacientes. Esse hospital aqui é referência em trauma. Se um magnata da cidade der uma lambada de Mercedes na Beira-Mar e bater a cabeça ele vem para cá, assim como o mais pobre das pessoas que for atropelado por um cavalo, uma vaca, vem para cá.

DC – Como se chegou a esse ponto?

Moritz – Primeiro, os funcionários que se aposentam não são substituídos. Segundo, no serviço público existe um grande número de atestados para tratamento de saúde, depressão, LER (lesão de esforço repetitivo). Terceiro, nós temos em função das aposentadorias, uma carência total de pessoas. Isso é tão verdade que até o final de outubro a nossa emergência tinha na área de enfermagem 50% de funcionários efetivos e 50 de contratados CLT (temporários). Porque os funcionários do último concurso não foram chamados, segundo a secretaria e um comitê chamado gestor, por falta de dinheiro do governo para contratação. Participamos de reuniões para dizer quantos funcionários precisávamos. Orçamos em 540, entraram 60. A secretaria, por razões que a gente desconhece, contratou 600 para o Hospital Regional (São José).

DC – E a gratificação reivindicada pelos grevistas, precisa?

Moritz – Sim, teria que ter. Há uma discrepância total com a Saúde em relação com as outras secretarias.

Continua depois da publicidade

DC – Quantas cirurgias vão deixar de ser feitas com o fechamento do centro cirúrgico?

Moritz – Hoje temos sete salas fechadas. Em média deixam de ser feitas de 25 a 30 cirurgias por dia.

DC – Os pacientes estão indo para onde?

Moritz – Os pacientes de traumas conseguimos remanejamento. Hoje o quinto andar é o único que está funcionando no hospital, com 50 leitos. Lá embaixo estão 50 em campo de guerra, em macas, cadeiras de roda, espalhados pela sala de medicação, alguns em cadeiras de praias. Temos 110 pacientes no total.

DC – O senhor vai fechar a emergência?

Moritz – Ela está atendendo só referencialmente, quem chega de ambulância, trazido pelo SAMU ou Bombeiros. São os casos gravíssimos.

Continua depois da publicidade

DC – O senhor não teme represálias por suas declarações, que são fortes?

Moritz – Achei que iam me demitir. Mas se eles me demitirem o corpo clínico inteiro do hospital para.